Borogodó: ilustrações tupiniquins trazem muitas cores, design e santos!

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Cláudia Souza é ilustradora. Ama comida caseira, chocolate, sotaques e boas gargalhadas. Tem pavor de palhaços, mas já teve que desenhar um. Recentemente, junto com outros criativos, criou o Borogodó, estúdio independente que trabalha nos mais diferentes projetos (ilustração, design, tratamento digital, marketing digital e fotografia), inspirados por referências tupiniquins. Começando por aqui, já sabemos que esse grupo tem algo a mais.

Isso porque segundo o dicionário informal, borogodó é uma gíria antiga pra charme, elegância, ou algum atrativo em alguma pessoa difícil de descrever. Foi pensando nisso que o sonho de Cláudia saiu do papel.

“Sempre falei muito essa palavra pra definir coisas diferentes, bacanas e que me faziam sorrir! E quando ficava rabiscando ideias e devaneios, sempre imaginei que esse seria um nome interessante para o meu estúdio. Até que num belo dia, folheando revistas velhas (amo e não consigo me desfazer) eu me deparo com a bendita palavra ali, na minha cara! Como uma pessoa que acredita muito em sinais, eu tomei aquilo como uma mensagem dos céus, seguido de um tapa na cara divino! Acorda! Eu até recortei a palavra da revista. Ela ficou um tempo colada na minha parede, como um lembrete de um sonho que precisava ser tirado do papel.” 

Junto com ele veio a Loja Borogodó, uma válvula de escape criativa, onde eles também oferecem produtos cheios de história, diversão e brasilidade. A Coleção Bença, por exemplo, é amor à primeira vista!

Resumindo? Borogodó é estúdio, é loja, é sobre o Brasil, é sobre ser criativo, é sobre muitas cores. Vem conhecer mais as inspirações da Cláudia, que a entrevista tá muito legal:

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FTC: Cláudia, queria que você falasse um pouco sobre você e como chegou até o Borogodó. Você se dedica somente a esses projetos hoje? 

Acredito que não dá pra falar de como cheguei a Borogodó, sem contar um pouquinho da minha história. Tudo começou quando eu trabalhava como redatora numa agência de propaganda em Joinville e o estúdio de ilustração que tinha sido contratado pra fazer um storyboard furou o prazo e timidamente (daquele jeito de quase nem sair a voz) eu me ofereci pra desenhar. Em trancos e barrancos, no fim foi isso que fez eu trilhar um caminho alternativo na propaganda.

Trabalhei em outras agências, sempre tentando focar em ilustração, por mais difícil que era ser contratada exclusivamente pra isso. Foi depois de um belo pé na bunda do último emprego, justamente por essa razão, que comecei a fazer freelas. Pensei: – Agora sim! Mas eu mal sabia fazer um orçamento! Arranjei uma outra coisa pra dar conta de pagar a faculdade na época e foi um dos períodos que mais aprendi até então: trabalhava com turismo, uma área tão distinta da minha – e de lá carrego coisas até hoje comigo.

Tive a oportunidade de treinar um outro olhar para a ilustração e isso se reflete no meu mais recente sonho: o Estúdio Borogodó. De mala pronta, me mudei pra Curitiba e tirei do papel a ideia do Estúdio – profissionais criativos independentes que trabalham nos mais projetos, inspirados por referências tupiniquins. Junto com o maridão e mais 2 amigas, criamos para clientes bacanas, mas… eu queria a lojinha virtual da Borogodó. Uma válvula de escape criativa, uma extensão do nosso pensamento – valorizar a cultura brasileira, se inspirar no que é daqui e naquilo que nos faz recordar dos bons momentos vividos em família, da infância.

Hoje eu continuo trabalhando como ilustradora para diferentes projetos e a loja veio como mais uma forma criativa de mostrar o nosso trabalho e fazer parte da vida das pessoas. 

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FTC: Como você define a sua arte?  

Bem humorada, infantil, feliz, simples. Gosto de pensar que se as minhas ilustras fazem alguém sorrir e só de imaginar um lugar mais colorido pra viver, já posso me sentir realizada. Não sou de longe a melhor desenhista, mais acredito muito mais na mensagem do que na técnica em si. Sempre digo que ilustrar não é só saber desenhar.

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FTC: Brasil, cores e muitos santos. Explica como surgiu essa ideia? 

Como falei antes, a lojinha surgiu pra ser uma extensão do pensamento do estúdio, então tinha que ter muita brasilidade! Tive a ideia quando eu mesma estava decorando meu apê e procurando itens bem brazucas. Que difícil gente! Eu sou daquelas que ama boi bumbá, samambaia e toalhinhas de crochê haha! Mas também queria itens mais moderninhos e que ao mesmo tempo me lembrassem do aconchego de casa de mãe. Eu acredito muito no poder das lembranças, acho que são esses pequenos detalhes que transformam uma casa em um lar.

Então juntei todos esses sentimentos e idealizei uma loja com a expertise do estúdio, brasilidade e memória: uma coleção de pôsteres de santos! Mergulhei em muita pesquisa, livros e em depoimentos de devotos e não podia pensar em outra coisa. Mais do que uma coleção, a linha Bença veio para retratar a fé brasileira e o seu jeito alegre de expressar isso.

São muitas cores e formas que exploramos para falar de alguns dos santos mais populares do Brasil e fizemos questão de contar um pouquinho de suas histórias. Trazemos a nossa versão das imagens que víamos na casa de nossas avós e que até hoje vemos em forma de pequenas medalhinhas até tattoos. Também ilustramos o Divino Espírito Santo, este que tem um valor muito especial pra gente, já que está logo na porta de entrada do nosso estúdio. E assim como essas imagens fazem parte do que somos hoje, quero que essas coloridas versões também causem o sentimento que motivou a gente a criar isso: compartilhar fé e trazer muita “bença” pra casa das pessoas! 

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FTC: Como surgiu essas combinações de cores em cima de um tema tão conservador no nosso país? 

Por mais irônico que possa ser, eu me inspirei nas próprias paletas das antigas imagens dos santos. Em Cosme e Damião temos a veste vermelha e eu quis manter isso, assim como em tantos outros. Aquilo tinha uma razão de ser e eu respeito muito o que foi feito no passado, acho que são ótimas referências e não precisam ser extintas. E além disso, eu só defini as cores, depois de toda a pesquisa concluída – isso ajudou muito na hora de definir a paleta. Não é a toa que a Nossa Senhora de Fátima, por exemplo, tem cores mais suaves, com um ar mais inocente – na história dela, diz que ela apareceu para 3 pastorinhos, são crianças.

Desde o começo eu sabia que a coleção poderia gerar alguma polêmica, de pessoas que não iriam gostar de ver as imagens representadas de outra forma. Eu não vejo dessa forma. Encarei esse projeto com tanto respeito e devoção, que meu objetivo maior foi renovar os laços das pessoas com a fé e proporcionar itens com memória. Criei a loja pra ter um sentido maior e realmente fazer diferença na vida das pessoas, nos seus lares. 

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FTC: Onde a Borogodó quer chegar? 

No futuro queremos muito lançar um loja física no exterior e levar um pedacinho do Brasil pra lá! 

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FTC: Com o que você se inspira? 

Me inspiro muito na infância, nos momentos simples, nas pequenas felicidades, na cultura brasileira.

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FTC: Qual a sua cor favorita e por quê? 

Eu tenho uma leve obsessão pelo turquesa! Talvez seja pelo seu sentido duplo – que não é nem azul, nem verde. Pra mim, ela simboliza um estado de espírito em constante transição e uma reflexão de que sempre se deve olhar de um jeito diferente para as coisas.

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FTC: Uma frase que você carrega para a vida?

“Se você pode sonhar, você pode fazer”, do Walt Disney. Inclusive eu tenho até um lápis que está escrito isso, é o meu lápis da sorte! 

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No Facebook: /tenhaborogodo. Instagram: @tenha_borogodo.

Por Carol T. Moré

Carol T. Moré é editora do FTC. Internet, café, todo tipo de arte, viagens e pequenos detalhes da vida a fazem feliz. Acredita que boas histórias e inspirações transformadas em pixels conectam pessoas.