Art Attack

Roxana Martínez, do fantástico projeto Populardelujo, conta como valorizar o design vernacular encontrado nas ruas

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Quando completou seu mestrado em Estudos Culturais na Universidade Nacional da Colômbia, em 2014, Roxana Martínez recebeu um prêmio pela excelência da pesquisa estudantil por seu trabalho Uma Imagem Vende Mais Que Mil Palavras. Ainda Vive em Lojas de Frutas de Bogotá: Design, Consumo e Cultura.

Há muito tempo, o design vernacular (material visual presente no cotidiano que indica forte ligação com a cultura local – artes, esculturas, fotografias, letreiros, sinalizações, iconografias) é objeto de interesse da designer, que cofundou o Populardelujo com Juan Duque e Esteban Ucrós. O projeto dedica-se a documentar e celebrar o design vernacular encontrado nas ruas da Colômbia.

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Desde 2001, o Populardelujo apresentou exposições, workshops e palestras em diferentes cidades pelo mundo, reunindo uma rica coleção de trabalhos originais e fotografias de uma forma de herança cultural que raramente é apreciada como tal.

Uma característica do trabalho do Populardelujo é ir além da documentação para construir relacionamentos próximos com as pessoas que produzem essas obras. O objetivo é dar o reconhecimento que a arte merece.

Depois de realizar muitos projetos museográficos e de branding para instituições culturais e educacionais colombianas, Martínez é, atualmente, integrante do Departamento de Design da Universidade de los Andes, em Bogotá.

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Convidada para ser uma das palestrantes do What Design Can Do São Paulo 2016, Roxana contou um pouco ao FTC, em entrevista exclusiva, como que essa arte gráfica popular, ao ser feita com respeito e amor, está aumentando o valor de uma cultura visual amplamente subestimada e ajudando a dar maior visibilidade aos indivíduos, comunidades, suas experiências e costumes que não tiveram representação suficiente até hoje na América Latina.

Confira um pouco mais de suas inspirações:

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O grupo estuda e valoriza o design vernacular, tal como a ornamentação de carrocerias de caminhões, uma referência bem tradicional nos países da América Latina. Os veículos são sempre enfeitados com muitas cores, grafismos e elementos visuais de sua cultura local. 

FTC: O que você acha mais inspirador no design?

Roxana: O que eu mais gosto no design é a possibilidade de expressar os meus interesses particulares. Eu vejo o design como um espaço para a liberdade. No meu caso, o design é a linguagem que eu uso para entender o mundo, conhecer mais sobre as pessoas e reconhecer a sinergia em trabalhar com os outros.

Particularmente, devido ao trabalho que eu produzo com o Populardelujo, eu vejo a gráfica popular como uma categoria de design. O que eu acho mais inspirador sobre ela, é que é um espaço de resistência, ressignificação e apropriação em um meio de condições sociais marcadas pela desigualdade. Nesse sentido, há muito a se aprender com quem produz esse tipo de obra.

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FTC: O design popular marca a sua carreira. Por que ele é tão interessante?

Roxana: Primeiramente, o fato de que a gráfica popular é uma manifestação visual fortemente relacionada às comunidades de onde provém. Particularmente, de um grupo social carente de representatividade que encontra, através da produção gráfica, a possibilidade de contar suas próprias histórias e compartilhar suas preferências e interesses.

Por outro lado, é um gênero gráfico cheio de originalidade, onde o feito à mão prevalece a fim de se adaptar e sobreviver em um mundo cheio de imagens digitais.

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Pintor ‘Shago’ e sua família, Buenaventura (COL);

FTC: Uma das marcas do trabalho do Populardelujo é ir além da documentação e construir relacionamentos com as pessoas que produzem esses gráficos. Como o Populardelujo faz isso e por que essa aproximação é tão importante?

Roxana: É comum ouvir que a gráfica popular é anônima. Nós acreditamos que isso é um sintoma da negligência e da falta de interesse em reconhecer o trabalho dos outros. Claro, não é sempre fácil encontrar um pintor que não deixa nenhuma assinatura ou contato em seu trabalho. Por exemplo, uma vez deixamos o nosso contato em cada empresa onde encontramos o trabalho de um artista em particular e recebemos seu telefonema depois de dois anos. Essa primeira abordagem já tem dez anos – e nós ainda mantemos contato e trabalhamos juntos.

Nos adaptamos a diferentes formas de timing e comunicação, então agora nós conseguimos conhecer mais estrangeiros através de e-mail, Skype ou Whatsapp. Nós preferimos nos encontrar para tomar um café em alguma esquina popular ou visitar seu local de trabalho e casas e conversar sobre suas experiências e vidas – não só sobre design.

Para nós, é super importante conhecer esses pintores de murais, porque nada pode ser mais gratificante que suas histórias e isso nos ajuda a apreciar as imagens que eles produzem em um sentido mais profundo. Nós não estamos apenas interessados em falar sobre eles, mas em falar com eles e trabalhar juntos em nossas exposições ou projetos editoriais. Esta prática de troca é muito gratificante para todos nós.

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Outras manifestações mais comuns, reconhecidas como periféricas, também são formas de design vernacular como os projetos de grafismos em estêncil ou em estêncil com pintura manual; – Pintor Juan Bautista, Valparaiso (CHI) e abaixo, pintor Oscar Barreto, Bogotá (COL).

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Imagens: Divulgação.