Refugee Republic documentário campo de refugiados
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Jan Rothuizen, criador do documentário interativo Refugee Republic, mostra o dia-a-dia de um campo de refugiados no Iraque

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A imagem predominante transmitida pela mídia de um típico campo de refugiados mostra pessoas desesperadas, letárgicas, vivendo em condições péssimas sob tendas distribuídas por organizações de ajuda humanitária. Para criar o documentário interativo Refugee Republic, o artista Jan Rothuizen, o jornalista multimídia Martijn van Tol e o fotógrafo Dirk Jan Visser viajaram pelo norte do Iraque para registrar o dia-a-dia de um dos maiores campos de refugiados da região.

Eles descobriram que, na verdade, os campos de refugiados rapidamente se transformam em mini sociedades, onde os cidadãos-refugiados fazem melhorias em casa, vão à padaria, procuram emprego ou começam um empreendimento, se divertem, se apaixonam, brigam com os vizinhos, casam e têm filhos – que frequentam a creche depois da escola. Na verdade, há muito mais “alegria, resiliência e inventividade do que poderíamos imaginar”, como um entrevistado concluiu.

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Refugee Republic estreou no festival de documentário IDFA, em Amsterdã, em novembro de 2014, coincidindo com versões impressas no jornal De Volkskrant e na revista OneWorld. A versão online leva o público por quatro diferentes rotas pelo Campo Domiz, no norte do Iraque, onde cerca de 64 mil refugiados, predominantemente curdos sírios, buscaram abrigo.

Jan Rothuizen desenhou um “atlas reinventado” do campo, com comentários feitos junto ao desenho. O mapa serve de base para o projeto, sendo enriquecido por imagens e histórias de Van Tol e Visser, trazendo um novo olhar sobre o local e tudo o que acontece por ali.

São fotos e vídeos que narram a vida cotidiana e as lutas individuais, realizações, esperanças e desafios de seus habitantes. São diferentes histórias da vida real, incluindo uma seção especial focada no desenvolvimento dos edifícios no campo. Como muitos campos de refugiados nascidos como locais de abrigo temporário, Domiz cresceu de uma extensão de tendas quase 20 anos atrás em uma cidade improvisada construída por seus moradores.

Refugee Republic foi considerado o “documentário holandês mais inovador dos últimos tempos” e foi indicado para o prêmio Silver Camera de trabalho de fotojornalismo mais inovador.

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Convidado para ser um dos palestrantes do What Design Can Do São Paulo 2016, Jan Rothuizen contou um pouco ao FTC, em entrevista exclusiva, um pouco sobre como surgiu a ideia do documentário e qual o seu objetivo. Confira um pouco mais de suas inspirações:

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FTC: O que você acha mais inspirador no design?

Eu não penso muito sobre design, na verdade. Como artista, eu penso em como expressar o que eu sinto, vejo e penso de uma maneira que se relacione a mim como pessoa. O que eu acho mais inspirador em ótimos trabalhos de arte e design é que eles são, de certa maneira, uma celebração da vida.

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FTC: Refugee Republic é um documentário cross-media interativo. Como você chegaram a esse conceito?

Primeiro, havia uma curiosidade sobre os campos de refugiados nas fronteiras da Europa: eu percebi que não fazia ideia de como essas cidades emergentes eram de verdade. Eu costumava ver as mesmas imagens, mas sentia que a gente nunca tinha a oportunidade de ver como é a verdadeira rotina nesses lugares.

Foi assim que surgiu a ideia de criar um documentário cross-media – porque eu achei que dessa forma nós poderíamos estar de verdade em um campo de refugiados. Junto com o jornalista Martijn Van Tol e o fotógrafo Dirk Jan Visser, decidi mostrar o campo como uma jovem cidade emergente. E nós estávamos curiosos para saber como uma cidade com essa funciona.

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*Você sabia? O maior campo de refugiados do mundo fica no Quênia e abriga mais de 300 mil pessoas.  Leia sobre ele aqui.

FTC: De onde surgiu a ideia de viajar para o Domiz Camp? O que mais lhe surpreendeu nessa viagem? Como era a rotina dos refugiados?

Nós pesquisamos diferentes campos e achamos que o Campo Domiz era interessante para contar a história dos refugiados. O campo em si não era tão grande – tinha 60 mil pessoas – e só existiu por dois anos.