Abraço Cultural: aprenda um novo idioma enquanto professores refugiados ganham sustento e a valorização de sua cultura

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Síria, República Democrática do Congo, Gâmbia, Venezuela. Atualmente, diversos refugiados vivem no Brasil. O fato é que somos um povo hospitaleiro, mas nem sempre. Muitas famílias, casais ou pessoas em busca de uma nova oportunidade chegam aqui e não conseguem trabalho ou a chance de mostrar o seu talento. E o que fazem? Onde encontrar emprego? Foi pensando exatamente nisso que um grupo de mulheres se uniram para fazer a diferença e ajudar especificamente essa causa.

Surgia assim o Abraço Cultural, um projeto que capacita refugiados de diferentes países para se tornarem professores de idioma e cultura. Além das aulas regulares, todo mês há uma aula cultural, que aborda temas como debates, culinária, dança, música, entre outros.

O objetivo da ONG é promover a geração de renda para essas pessoas talentosas que estão reconstruindo sua vida no Brasil e incentivar trocas valiosas entre professores e alunos a partir da consciência do outro, do diferente.

As aulas até o momento estão abertas em São Paulo e no Rio de Janeiro. O Abraço Cultural já inseriu no mercado de trabalho 40 professores refugiados, atendeu cerca de 800 alunos e engajou muitos voluntários. Conversamos um pouco mais com o pessoal da organização para saber como tudo funciona. Confira!

FTC: Como surgiu o Abraço Cultural?

Foi em 2014, na época da Copa do Mundo, quando a plataforma social Atados realizou a 1ª Copa do Mundo dos Refugiados, em São Paulo. A partir dessa experiência, percebemos que era necessário criar um projeto que pudesse promover a integração, a geração de renda e a valorização dessas pessoas aproveitando toda a riqueza cultural que eles possuem. Quando chegam ao Brasil, uma das maiores dificuldades é a inserção no mercado de trabalho. Muitas vezes são formados e têm experiência de trabalho mas não conseguem recolocação na sua própria área e precisam desempenhar tarefas mais desvalorizadas ou em subempregos. Nosso objetivo é aproveitar todo esse potencial dos refugiados e empoderá-los para reconstruírem sua vida dignamente no país.

Assim, em julho de 2015 nasceu o Abraço Cultural, uma ONG que atua como curso de idiomas e cultura com professores refugiados. Através de nossas aulas – com metodologia e material didático próprios – queremos transmitir muito mais do que o aprendizado de uma nova língua: queremos quebrar preconceitos e barreiras culturais, aproximando diferentes culturas e contribuindo para uma tomada de consciência sobre quem são os refugiados. Em março de 2016 o projeto chegou ao Rio, expandindo nossa rede de alunos, professores, refugiados beneficiados e voluntários.

FTC: Hoje os cursos acontecem apenas em São Paulo e no Rio de Janeiro, tem a possibilidade de se espalhar por outras cidades?

Sim, claro! Nosso objetivo é que o projeto cresça e se espalhe por várias cidades. Estamos prontos para colaborar, precisamos de pessoas dispostas a abraçar o projeto pelo país. Assim, poderemos contribuir cada vez mais tanto para a causa dos refugiados quanto para maiores trocas culturais e na difusão do ensino de idiomas através do contato com a cultura de outros países.

FTC: Quais os cursos que as pessoas mais procuram? 

No Rio, a maior procura tem sido por francês. Geralmente nossos alunos já sabem uma língua estrangeira, principalmente o inglês, e vêm aprender uma segunda. Espanhol também é bastante procurado e inglês tem um público diferente, pessoas menos jovens. Árabe também tem sido bem interessante, apesar de ser uma língua bem exótica para os brasileiros, têm boa procura.

FTC: Onde querem chegar com a ideia? Qual a principal diferença do projeto? 

Queremos potencializar oportunidades de geração de renda para refugiados e que em troca eles ensinem seus idiomas e promovam trocas de experiências com as comunidades valorizando sempre nossas diferenças. Os refugiados têm muito a oferecer. Queremos que as pessoas os conheçam e percebam que são pessoas comuns, como eu e você, que só querem começar uma nova vida longe de ameaças.

Nosso diferencial como ONG é que não somos um projeto assistencialista. Capacitamos refugiados e os acompanhamos continuamente no projeto. O Abraço funciona como um “empurrão” para que recomecem suas vidas. A partir da renda do seu trabalho eles podem iniciar seus próprios projetos pessoais, como continuar seus estudos, fazer uma faculdade, trabalharem em outras áreas, etc.

Além disso, o projeto também desenvolve outro aspecto muito importante que é a integração e valorização pessoal dos refugiados. Através da convivência com outros professores, coordenadores, voluntários e alunos, eles conseguem se integrar mais rapidamente na sociedade e são admirados como indivíduos que têm algo a dizer, que compartilham seus conhecimentos e cultura.

Já o diferencial do Abraço como curso de idiomas está justamente no componente cultural. Tentamos aproveitar ao máximo a riqueza cultural de se ter aulas com professores nativos e que vêm de culturas não eurocêntricas, que podem mostrar outras maneiras de vida, de pensar, de fazer.

Nosso método é uma viagem pela cultura dos professores. Além das aulas em sala de aula, todo mês temos uma Aula Cultural, que é um workshop de tradições, que pode envolver culinária, dança, literatura, cinema, curiosidades, política e história de um país ou região.

FTC: Qual a história/encontro mais emocionante que já aconteceu durante as aulas? 

Acho que o mais emocionante é perceber o jeito como as turmas se envolvem e criam laços de amizade tão profundos e bonitos. Os alunos acolhem muito bem os professores e essa relação de confiança e companheirismo fica muito nítida no dia a dia.

Um momento muito interessante foi quando um professor falou para a turma que a esposa estava grávida. Todos os alunos ficaram muito animados com a notícia e logo começaram a dar palpites para o nome, estavam tão felizes que parecia que o professor era um amigo de longa data. Depois a turma se organizou e comprou vários presentinho para o/a bebê. Foi lindo!

FTC: Uma frase que define o espírito da Abraço Cultural.

Um abraço muda o mundo!

Saiba tudo sobre o projeto no site oficial e confira as datas e aulas. Acompanhe o Abraço Cultural no Facebook e Instagram.

Por Carol T. Moré

Carol T. Moré é editora do FTC. Internet, café, todo tipo de arte, viagens e pequenos detalhes da vida a fazem feliz. Acredita que boas histórias e inspirações transformadas em pixels conectam pessoas.