A impressionante arte em pontilhismo e realismo do artista brasileiro Will Barcellos. Confira entrevista;

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De ponto em ponto, Will Barcellos espalha sua arte pelo mundo. Confira entrevista com o artista brasileiro!

Existem por aí grandes sábios afirmando que não há necessidade em descobrir qual o dom de cada um, ou com que propósito se veio ao mundo, ou mesmo, quais talentos as pessoas guardam adormecidos dentro de si mesmas. Tudo pode ser aprendido e, com muita técnica e prática, belezas fascinantes podem ser criadas, chegando a um nível de perplexidade semelhante a de um fabuloso artista famoso.

No entanto, há pessoas que carregam uma voz autoral muito forte e expressam isso desde cedo, crianças que deixam rastros de um dom singular logo no início de suas vidas. Umas são estimuladas a desenvolverem suas particularidades, outras, precisam encarar a vida de outra forma, sobrevivendo em outros ares que não os do coração. Ainda há os que acreditam que tudo o que pertence a nós chegará um dia, independente das reviravoltas, no tempo certo e da maneira perfeita.

Will Barcellos, artista carioca de 40 anos, trilhou esses caminhos até conseguir colocar para fora toda a arte, inspiração e beleza que pulsavam dentro de sua alma: “Acho que o universo me deu esse dom para trazer um pouco mais de alegria e beleza à vida, e me sinto sempre muito honrado por ter essa missão. Meus familiares e amigos valorizam muito o meu trabalho e isso me deixa radiante de felicidade”, afirma Barcellos. Apaixonado pelo pontilhismo, ele circula entre luzes e sombras, pontos e aquarelas, geometrias e formas humanas.

Nascido no subúrbio do Rio de Janeiro, onde vive atualmente, Barcellos vem de uma família muito simples, e cresceu sem ter contato algum com a arte. Desde criança, instintivamente, rabiscava praticamente tudo o que via pela frente, criava brinquedos com colagens feitas de papel e fazia decorações com desenhos. Somente aos 15 anos, quando conheceu um amigo de sua tia, um professor de arte, ele se aventurou na SBBA do Rio de Janeiro (Sociedade Brasileira de Belas Artes) ao ganhar uma bolsa de estudos.

Lá, ele conheceu e se identificou com diversas técnicas de desenho a carvão, lápis e bico de pena (trabalhos executados a nanquim). Durante todo o tempo em que Barcellos se descobriu diante de um universo artístico encantador, repleto de técnicas variadas, o artista teve a oportunidade de vivenciar momentos deliciosos e observar trabalhos e exposições que ocorriam na SBBA. Em um desses momentos, seus olhos brilharam e o coração bateu mais forte. Foi quando ele finalmente se deparou com uma obra produzida através do pontilhismo.

Barcellos contou, de maneira descontraída e gentil, um pouco sobre sua história nesta entrevista exclusiva para o FTC. Confira!

FTC: Com suas palavras, fale um pouco sobre você e como chegou até o pontilhismo.

Barcellos: Quando cheguei diante de um quadro que estava em exposição e percebi que aquela imagem linda, de uma mulher nua deitada numa pedra, havia sido feita com pequenos pontos, não acreditei. Achei algo humanamente impossível de ser executado, e passei semanas indo olhar o mesmo quadro. Na época não percebi, mas aquelas foram minhas primeiras trocas de olhares com minha paixão, o pontilhismo.

Alguns anos depois tive que cair no mercado de trabalho. Era uma época em que não se tinha a visibilidade de hoje através da internet, e acabei criando uma carreira em um ramo que não tem nada a ver com a arte. Com o tempo, fui ficando cada vez mais distante. Em 2013 comprei meu apartamento e decidi fazer meus próprios quadros para decorá-lo, e então um gigante acordou dentro de mim. Entrei numa catarse louca e desde então não passo mais um dia sem pintar.

FTC: Há quanto tempo cria seus trabalhos e quais materiais utiliza?

Barcellos: Voltei com tudo pra arte em 2013. Fiquei 15 anos sem produzir, foi meu ócio criativo, e agora vivo a minha catarse. Utilizo papeis resistentes já que a maior parte do meu trabalho é muito encharcado, para pintar eu vou de aguadas variadas, café, nanquim… qualquer líquido que tenha cor e dê vontade de jogar no papel (risos).

Comecei postando para os amigos, fui convidado para um concurso internacional que acabei ganhando, fiz exposições e agora fui convidado pra dois centro culturais na Alemanha.

“O pontilhismo me faz passar para as pessoas o mesmo que vivi diante daquele quadro, gosto de assustá-las com quadros grandes feitos com essa técnica, gosto de surpreender e gosto de me arriscar, fazer trabalhos com combinações das técnicas, juntar a aquarela, as aguadas de nanquim e o pontilhismo numa mesma obra. Também gosto de brincar com o realismo, surrealismo e algumas combinações geométricas e psicodélicas. De fluir entre delicadeza, agressividade e realidade de movimentos e expressões quando pinto meus modelos, quase sempre em perspectivas fortes.”

Esses modelos em sua maioria são amigos e familiares, e quando pinto um deles é incrível como a minha alma se fixa a deles, sempre fico mais apaixonado por quem estou pintando, é uma energia louca. Pintei 4 dos meus 5 sobrinhos e todos viraram obras extremamente encantadoras. A arte me aproxima dessas pessoas, me faz mais humano, mais presente na vida dos meus.

FTC: Qual a influência das cores nos seus trabalhos?

Barcellos: Pergunta difícil. Eu definitivamente não fui o cara das cores até hoje, mas como a obra de um artista se transforma o tempo todo, hoje me vejo mais feliz em utilizar cores. Nos últimos trabalhos tenho brincado mais com isso, deixo a tinta colorida escorrer, se fundir, e depois como um servo obediente, desenho nas áreas delimitadas pela tinta, ela manda.

FTC: Está desenvolvendo algum projeto específico atualmente?

Barcellos: Estou sempre criando material pra uma exposição, mesmo antes de ela existir, portanto tenho vários projetos futuros. Ainda não expus no meu estado (RJ). Até agora só fiz exposições em outros estados e outro país. Com isso meus amigos e familiares estão quase sempre de fora, isso me entristece um pouco, mas sei que já já rola uma por aqui.

FTC: O que é arte para você, e como definiria a sua arte? 

Barcellos: Existe uma frase que eu amo do Ferreira Gullar: “A arte existe porque a vida não basta”. Para mim é bem assim, não existe um dia feliz ou uma época interessante se eu não estiver pintando uma determinada obra. A arte faz parte da minha rotina, tornou-se involuntária e não tenho nenhum controle. Se eu tiver um evento ou festinha e bater uma inspiração forte, eu simplesmente não vou, porque não consigo controlar minhas mãos, é sentar e produzir.

Por isso defino minha arte sempre como um assombro, eu não faço uso dela, ela que me usa como instrumento de criação. Não consigo trabalhar com uma pré definição dos meus trabalhos, eles mudam e se transformam durante a execução.

FTC: Com o que você se inspira? 

Barcellos: Qualquer coisa, qualquer lugar, qualquer pessoa me inspira. Corpos, gestos, música, uma planta… eu posso estar conversando com você e olhar paras suas mãos repousadas sobre seu colo e ver aquilo emoldurado, me vejo desenhando a curva da sua unha, a sombra de um dedo sobre o outro, a perspectiva da ponta do dedo até o punho, são viagens loucas de um universo paralelo em que vivo, faço umas 60 viagens inspiratórias dessas por dia.

FTC: 6 coisas que não consegue viver sem.

-“Os meus” (amigos, família, conhecidos – gosto de me relacionar com as pessoas);

-Arte: não consigo respirar sem ela, seja a minha, seja a dos meus ídolos ou da galera que acabo conhecendo a cada dia, adoro pesquisar os trabalhos de outros artistas;

-Música: não faço nada sem música;

-Isolamento: embora eu ame estar rodeado de pessoas, preciso do meu canto, do meu momento de solidão, fico muito bem sozinho, a solidão me inspira;

-Internet;

-Açúcar.

Para acompanhar as obras do artista Will Barcellos, você pode segui-lo no Instagram, curtir sua página no Facebook, ou acessar seu site no Behance.

Por Marina Gallegani

Viciada em açúcar, Marina Gallegani é movida pelas forças da natureza e tem fome de liberdade. Jornalista, escritora e fotógrafa amadora, se entrega às cores da vida e sonha com viagens ao redor do mundo. Em constante reconstrução, acredita ser eterna e tem a certeza de que o sorvete é uma das fórmulas da felicidade.