Burj Al Babas é uma cidade fantasma na Turquia que possui mais de 700 castelos em estilo francês;
Isso não é Photoshop. Repito, não é Photoshop. Também não faz parte do último filme ou parque da Disney. O cenário, que traz fileiras e mais fileiras de castelos em estilo francês e torres palacianas idênticas, cercado por uma colina, foi criado como um vilarejo e residencial na Turquia.
O que seria um conto de fadas, porém, teve um final estranho: todas as mais de 700 residências em estilo gótico estão vazias, formando uma cidade fantasma etérea e abandonada.
Porém, isso não é novidade. Estamos diante do conceito chamado “Duplitetura”, ou se você preferir, arquitetura duplicada, de réplica ou imitação, uma forma de mimetismo arquitetônico que teve início na China.
Duplitetura e seu início na China
A duplitetura surgiu na China com o 1º imperador Qin Shi Huang (259 a.C. – 210 a.C.), famoso pelo exército de terracota. Ele teve a ideia replicar seus soldados em barro formando um verdadeiro exército de estátuas para protegerem sua vida após a morte, demonstrar poder e superioridade.
Mas o conceito ganhou popularidade na era moderna e durante o plano “One City, Nine Towns” em Xangai. O governo tinha como objetivo aliviar a superlotação de pessoas no centro da cidade, e para isso, decidiu criar 10 cidades-satélites com o estilo arquitetônico de diferentes países europeus. A semelhança é surreal.
Em 2007, uma empresa de imóveis de luxo investiu na construção de Tianducheng, complexo habitacional na província de Zhejiang (China), recriou a Torre Eiffel com 108 metros, além de ruas, edifícios, fontes, estátuas e parques, como em Paris.
Paris Syndrome
Estes marcos icônicos são construídos normalmente com materiais de baixa qualidade, tem o poder de clonar séculos da história europeia em questão de meses, além de incorporar adaptações ideológicas, como o Feng Shui, para aumentar a habitabilidade.
O resultado, nem sempre, é tão positivo como se espera: segundo a National Geographic, cenários como o de Tianducheng acabam se tornando destinos que atraem “um fluxo constante de turistas chineses e internacionais, incluindo recém-casados que procuram locais perfeitos para fotos”.
Mesmo assim, nesta mesma China ainda existem reproduções da Torre de Londres, da Baía de Sydney e da ponte Alexandre III de Paris (em Sucheu), do Arco do Triunfo (em Zhengzhou), das estátuas da Ilha de Páscoa (em Pequim), do Coliseu de Roma (em Macau), da Estátua da Liberdade (em Shenyang) e até do Capitólio e Casa Branca dos Estados Unidos (em Xangai).
Exceto que estes castelos não são na China
A mais recente “Sim City” a se juntar a insanidade da duplitetura é cortesia da incorporadora Sarot na Turquia. São centenas de falsos minicastelos do Loire que fazem parte do “Burj Al Babas”, local perto do centro de Mudurnu, cidade ao noroeste da Turquia.
Estranhamente, ali também é fácil notar que tudo parece deserto. O projeto, que começou a ser construído em 2014 na província montanhosa de Bolu, a meio caminho entre Istambul e Ancara, possui mais de 730 castelos quase idênticos que se alinham no horizonte.
O Burj Al Babas, um empreendimento residencial de US$ 200 milhões, traria também promissores centros médicos, de beleza, shoppings, parques aquáticos, spas, além de cadeias de fast-food. Também haviam planos para construir banhos turcos, cinemas, mesquitas e instalações esportivas.
Em 2018, a empresa entrou em dificuldades financeiras alimentadas pela recessão e as centenas de castelos foram abandonados, no meio da construção. Muitos até já estavam vendidos, mas os investidores se retiraram do negócio desde então.
O que deu errado?
Somente 587 castelos foram finalizados. Cada propriedade tinha o valor entre US$ 370.000 a US$ 530.000. O prefeito da cidade manteve-se confiante de que passada a crise, o projeto recomeçaria. Mas com a pandemia, tudo desandou.
Apesar de todos os minicastelos serem idênticos por fora — os potenciais moradores podiam escolher entre três modelos de construções e decorações. Entre os opcionais havia um elevador, armários nos quartos, cozinha com conceito aberto, piscina, ofurô aquecido no quintal.
Os Castelos de Burj Al Babas estão vazios até hoje
Em 2019, o designer Alexandre Humbert criou este curta-metragem para imaginar como seria se os castelos da vila fantasma turca tivessem uma segunda chance. Projetados como Disney, nunca foram concluídos.
O destino de Burj Al Babas segue sem final feliz
O conto de fadas acabou se tornando também um local único para quem gosta de descobertas. Muitos turistas visitam Burj Al Babas para tirar fotos ou até mesmo participar de excursões caça-fantasmas.
Desabitado, desolado e deserdado, os sonhos de Burj Al Babas de um futuro promissor foram destruídos.
Hoje, é a maior “cidade fantasma” do planeta. São toneladas de materiais parados, vilas inacabadas, algumas das quais até começaram a se deteriorar.
