Flamingo rosa de plástico: Como nasceu o adereço kitsch de jardim mais famoso do mundo

O famoso flamingo rosa de plástico por LoulouVonGlup/Shutterstock

Amado (e também odiado) por muitos, o flamingo rosa de plástico divide opiniões na decoração de jardins. Mas o que é indiscutível é o sucesso que esse objeto se tornou desde o seu nascimento, que já data de mais de 60 anos. Criado por Don Featherstone em 1957, o adereço não tinha inicialmente a pretensão de se tornar um ícone da decoração externa.

Nascido no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos, Featherstone estudou na Escola de Arte de Worcester, sua cidade natal. Aos 21 anos de idade ele terminou os estudos sem a pretensão de abrir seu próprio estúdio de arte.

Logo o americano ingressou na Union Products, uma empresa local que produzia adornos de jardim que usavam o plástico como matéria-prima principal. E seria nesse espaço que ele viria a desenvolver seu projeto mais famoso.

Todavia, o flamingo não foi a primeira ave esculpida por ele na companhia. Sua primeira criação para a Union foi um pato. E seu empenho foi tamanho que ele chegou a adquirir um animal de verdade para observar e, a partir de desenhos, moldar o enfeite de jardim.

Mas foi com seu próximo projeto que o artista colocou seu nome na história.

Don Featherstone (The Original Pink Flamingos: Esplendor na Relva, 1999) – Cortesia de Schiffer Publishing

A INSPIRAÇÃO

A experiência com o “pink flamingo” foi um pouquinho diferente da anterior com o pato. A inspiração para esculpir a ave veio de uma matéria publicada pelo National Geographic, que apelidava os animais de “bailarinas vestindo rosa”. E a partir de imagens retiradas da publicação Featherstone pôde trabalhar na sua principal criação.

O trabalho de esculpir em argila o flamingo durou três semanas, e naquele mesmo ano o produto já ganhou sua versão final em plástico na cor rosa. Eles eram vendidos inicialmente em pares, por pouco mais de dois dólares o conjunto. A descrição da embalagem era: “Coloque no jardim, gramado, para embelezar a paisagem.”

Desde a sua criação, o Phoenicopterus ruber plasticus, como Featherstone sugeriu com alegria, foi reproduzido mais de 20 milhões de vezes.

O MERGULHO NA ONDA KITSCH

O sucesso instantâneo nas vendas gerou certa rejeição da classe mais abastada pelo produto, que espalhava pelos jardins dos subúrbios da cidade. Mas a popularidade do adereço o consagrou como um símbolo do estilo kitsch, conhecido pelo emprego de objetos acessíveis e reproduzidos em larga escala na decoração.

Além disso, o movimento Pop Art impulsionou ainda mais o triunfo desse item nos anos 80, através do seu caráter de transformar objetos simples do cotidiano em grandes obras de arte.

Vendemos elegância tropical para pessoas em uma caixa por menos de dez dólares, disse o inventor do enfeite quando questionado sobre o motivo dele se esgotar tão rapidamente das prateleiras. Antes apenas os ricos podiam se dar ao luxo de ter mau gosto.”

Eles foram um sucesso instantâneo, vendendo aos milhares e se espalhando por todo o país. E os críticos de arte prontamente o classificaram como um excelente exemplo da propagação desprezível do kitsch. Mas em vez de vacilar sob as críticas, a popularidade do flamingo plástico prosperou em sua reputação como um símbolo do movimento kitsch. Imagem por Barb Elkin/Shutterstock

FLAMINGO? QUANTA IRONIA

Apesar do enorme sucesso, a criação de Featherstone não era o adereço que reunia o maior número de vendas. O seu adorno de jardim mais procurado era um cisne de plástico,(que possui flores saindo do espaço entre o pescoço e as penas da cauda) e que apesar da popularidade não compartilha o mesmo status da ave cor-de-rosa.

O flamingo gerava tanta identificação com seu criador que poderia até ser lido como um alter ego dele. Don Featherstone costumava usar roupas hiper estampadas e chamativas, à contramão do que se lia popularmente como um sinônimo de “bom gosto”. Ele chegou inclusive a contabilizar 57 aves rosas de plástico ao mesmo tempo em seu jardim“Eu digo que não é mau gosto”, ele uma vez disse ao Jornal Tribune“É o que você faz com isso que é de mau gosto.”

O pai dos flamingos continuou seu trabalho na Union Projects durante longos anos, nos quais projetou mais de 600 ornamentos para áreas externas, incluindo regadores em formato de elefante, mamão e papoulas. Inclusive alcançando o cargo de presidente da empresa.

Ele faleceu no ano de 2015 e, apesar de não estar mais entre nós, sua ave de cor vibrante continua sendo replicada pelo mundo através de diferentes formas e materialidades. Quando morreu, os lençóis que cobriam seu leito eram estampados com flamingos de plástico rosa.

Imagem: Reeva/Shutterstock

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Por Affonso Malagutti

Affonso atua como artista visual e ilustrador e tem dificuldade em ficar parado. Amante dos trabalhos manuais desde pequeno, ele se dedica ao bordado manual como expressão artística e acredita que com criatividade é possível transformar o espaço e as pessoas ao seu redor.