Livro do ano 2017 Lara Dias
Cooltura

O Livro do ano 2017 não foi terminado e você pode preenchê-lo com suas próprias histórias e cores

Lara Dias é uma mulher de cores. Já apareceu por aqui com seu projeto Dedique um Cartão e suas aquarelas. A jornalista e fotógrafa com mil ideias na cabeça, vem sempre com boas surpresas, e dessa vez é o Livro do Ano 2017.

Lara pesquisou a trajetória de diversas mulheres negras incríveis e inspiradoras, se (re)conectou com sua consciência feminina e nesse contexto encontrou leveza, força e renovação. Surgia mais um projeto. Desta vez no ‘vazio’. Mas, o preto no branco foi pensado propositalmente para cada pessoa preencher o livro com suas próprias histórias e tons.

Ela explica: “O branco, que é a junção de todas as cores do espectro de luz, no livro, são os espaços vazios onde cada um pode escrever sua história e inserir cor. O preto, ausência de luz, é o que ilumina a história de mulheres incríveis e inspiradoras e representa minha homenagem pelo o que fizeram e fazem, resignificando o nosso lugar no mundo”.

Essas mulheres são lembradas ao longo do ano na data de seus aniversários por meio de aquarelas delicadas, dando boas vindas e força ao início de cada mês. Confira entrevista exclusiva sobre o Livro do Ano 2017 com Lara:

FTC: Como você preenche atualmente sua bio nos diversos sites e redes sociais em que participa?

É sempre um desespero preencher esses campos! hahaha Hoje eu entendo que nós não somos (só) o que fazemos ou com o que trabalhamos. A resposta esperada seria dizer que sou formada em jornalismo, saí da redação para fotografar e no caminho comecei a pintar aquarelas.

Entre ser e estar, eu estou. E hoje me divido entre muitos projetos, um micro apartamento pra transformar em lar (@cubo35), um mundo inteiro pra viajar (30 países até 30 anos, é o plano) e estou feliz sem conseguir preencher a bio de um jeito objetivo!

FTC: Qual foi seu momento “a-ha”, seu estalo, para se interessar e criar o livro desse ano? Como surgiu essa sua relação com as mulheres negras, a arte e o design?

Lá por Setembro de 2016 eu me deparei com aquele sentimento de tempo corrido, das resoluções de ano novo ficando pra trás, sendo atropeladas pela rotina. Estava cheia de trabalho, numa correria maluca como sócia de uma produtora de conteúdo (a Bingo), e percebi que se eu não fizesse o livro do ano de 2017, um hiato de um ano poderia matar o projeto que só tinha tido um sopro de vida e prometia crescer!

Daí eu resolvi me ilhar por duas semanas em casa, desconectei do estúdio com a ajuda das minhas sócias que me incentivaram e seguraram a barra da empresa praticamente sozinhas e eu comecei a me reunir com o designer que assina o projeto, Luciano Ferreira, do Estúdio Triciclo.

O prazo era muito curto então a gente resolveu fazer um final de semana de residência artística na Lapinha da Serra. Uma imersão pra escolher os acabamentos, o estilo, as fontes. Eu já tinha muito claro pra mim que a estética seria minimalista e me encontro apaixonada por preto e branco.

Isso veio de encontro com um processo que estou vivendo de me re-conhecer como mulher e negra. No ano passado, fiz uma lista de 50 mulheres inspiradoras e destaquei a data de aniversário delas ao longo da agenda.

Dessa vez, além dessa lista, eu decidi pintar 12 aquarelas de mulheres negras. Inicialmente, me incomodava o fato de ter que dizer que essas 12 mulheres são negras. Quantas listas de escritoras, diretoras, atrizes, profissionais de várias áreas foram preenchidas só por mulheres brancas e isso nunca foi dito? Depois entendi que existia uma importância em dizer. Ainda é preciso dizer.

O restante do projeto foi pautado pelo preto e branco e o destaque para os retratos que pintei. A costura aparente é um acabamento delicado, o calendário lunar é para nos guiar por transformações, o mini planner para organizar e realizar.

Ao fim de cada mês, uma página para agradecer e as páginas livres são um respiro. O livro não foi terminado. Ele é um instrumento para cada um escrever os seus dias e fazer um ano incrível!

FTC: Que dicas você daria para alguém que tiver o livro em mãos?

Para quem tem o Livro em mãos, eu sugiro pesquisar sobre as mulheres que vão surgindo e permitir que elas te inspirem com suas histórias. Não deixar de preencher as páginas de objetivos e metas mas principalmente, não deixar de escrever os motivos pelos quais você é grato(a) pelos dias que passaram.

FTC: Conta mais sobre esse lance do P&B, do vazio das cores.

O projeto é todo em P&B. O branco, que é a junção de todas as cores do espectro de luz, no livro, são os espaços vazios onde cada um pode escrever sua história e inserir cor. O preto, ausência de luz, é o que ilumina a história de mulheres incríveis e inspiradoras e representa minha homenagem pelo o que fizeram e fazem, resignificando o nosso lugar no mundo.

Mulheres podem ocupar o lugar que quiserem e é por isso que minhas escolhidas têm idades variadas e atuam em áreas diferentes. De ativistas, cantoras, escritoras, filósofas, cientistas a modelos, atrizes e até aquelas que não receberam o destaque que deveriam na nossa história.

FTC: Pode contar pra gente um pouco do seu processo criativo no seu dia a dia?

Meu processo criativo começa de dentro. São muitos estímulos ao redor que me inspiram e que me atingem o tempo todo. As cores, a luz, o som da cidade, o silêncio de casa, as pessoas, as conversas. Mas o meu ímpeto de criação é sempre uma vontade urgente e quase visceral para colocar para fora um sentimento.

Tem sempre uma intenção, algo que quero fazer as pessoas sentirem também. Acho que é um sentimento de compartilhar o que não está mais cabendo só em mim.

FTC: E agora, o que vem pela frente?

Não sei! Sinto que esse ano de Saturno me reserva muitas descobertas. Dei um passo contrário ao caminho que estava seguindo, empreendendo numa produtora de conteúdo. Me sinto livre para escolher estudar algo novo, morar em outro lugar desse mundo, explorar minha capacidade artística que sempre foi um tantinho reprimida.

Quero voltar a criar vídeos para o Youtube. Quero renascer o projeto #DediqueumCartão com ilustrações novas, voltar a escrever e pintar com mais freqüência e continuar fotografando pessoas. Nem eu sei muito bem o que esperar mas é sempre bom ter companhia <3 Vai ser lindo!

Nina Simone, Lupita Nyong’o, Djamilla Ribeiro e mais. Este livro não foi terminado. Ele é o princípio de uma história a ser escrita por outras mãos. É também, uma pequena homenagem a mulheres que fizeram e fazem histórias de vida tão inspiradoras!

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Imagem: Lara Dias por Patricia Penna.