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Jovens estilistas do Capão Redondo desfilam coleções e empoderam mulheres por meio da moda

O evento mostrou como projetos sociais são importantes para dar visibilidade aos talentos e capacitar jovens de comunidades no Brasil.

A moda é uma grande forma de expressão artística e sempre revelou nomes novos para o mercado, por meio de desfiles. Isso acontece não só lá fora, mas também aqui no Brasil, e os novos talentos podem estar escondidos em diversos lugares.

Para promover estilistas do Capão Redondo, foi realizado em maio de 2018 um desfile no Unibes Cultural, onde foram apresentadas duas coleções upcycling. O termo está relacionado com a moda sustentável e trata-se de usar roupas já existentes e dar um novo significado para elas.

As jovens estilistas Ana Carolina Santos Barcelos, de 22 anos, e Karen Marques, de 21 anos, apresentaram suas coleções. Ambas são moradoras de uma das maiores comunidades de São Paulo, e participantes do projeto Descobertas no Capão, criado pela jornalista Nádia de Mello.

Ana Carolina e Karen Marques, estilistas reveladas pelo projeto Descoberta do Capão

PROJETO DESCOBERTAS DO CAPÃO

Nádia conta que o projeto surgiu da vontade de valorizar o trabalho de costureiras da comunidade e ajudá-las a enxergar o seu potencial criativo. Ela frequentava a Base Colaborativa, uma iniciativa de projetos voluntariados e lá sugeriram que ela procurasse a ONG Libertários do Capão.

Essa ONG já promovia um curso de corte e costura para a comunidade, e convidou algumas de suas alunas para se juntarem à Nádia em seu projeto. “Falamos de moda, cultura de moda, do processo de criação, da parte histórica, que de algum modo é um tanto distante do imaginário delas e as incentivamos para que se desenvolvessem como criadoras de moda”, conta a jornalista.

A jornalista Nádia de Mello, idealizadora do projeto Descobertas do Capão

Apesar de interesse de muitas mulheres, nem todas puderam dar continuidade ao projeto por não conseguirem administrar com seus trabalhos ou outras necessidades. No final, as duas alunas que ficaram foram Ana Carolina e Karen. Ambas começaram a costurar por motivos parecidos.

Ana sempre gostou de peças diferentes, de influência japonesa e coreana. Ainda adolescente, ela se caracterizava de Lolita – um estilo de cosplay em que mulheres se vestem de bonecas – e era difícil encontrar as roupas ideais para seus personagens. Já Karen diz que nunca foi de seguir moda e sempre criou o seu próprio estilo. Como ela tinha dificuldade em achar peças legais que combinassem com o seu estilo, ela começou a criá-las.

Suas coleções, apresentadas em seus primeiros desfiles, têm o objetivo de empoderar a mulher por meio da moda. Visual Kei, de Ana Carolina Santos Barcelos, e Sensualize, de Karen Marques, se baseiam nas técnicas de upcycling. “O Upcycling é uma coisa nova. Você tem a ideia e com as peças que tem precisa quebrar a cabeça para chegar ao que quer. Elas escolheram tudo sobre o que queriam fazer e a partir disso demos o suporte”, diz Nádia.

As inspirações das estilistas vieram de temas pessoais e muito atuais. “Eu pretendo mostrar que a mulher pode ser sensual e não precisa se vulgarizar para isso. As mulheres acreditam que se colocam uma roupa mais curta, justa, decotada que seja, estará bonita e seja desejada. A ideia é mostrar que não precisa desses artifícios para ser linda, bonita, desejada, sensual. Enfim, a ideia é mostrar que cada mulher é bonita à sua maneira”, diz Karen.

Ana já tinha uma experiência com o upcycling, mesmo sem utilizar este termo, sendo que o trabalho com roupas foi uma fonte de renda para ela em um momento importante de sua vida, quando se viu encarregada do sustento de seus filhos. Nesse desfile, ela teve a oportunidade de mostrar todo o seu potencial.

“Sou brasileira com coração japonês, referência que está na coleção. Meu desfile terá saias e blusas com paletas escuras no azul marinho, vinho, vermelho, preto e roxo. São saias com design despontados e com cortes e geometria diferentes. É como gostaria de me vestir. Talvez algo chamativo para algumas pessoas, mas para mim é algo muito simples. Sempre costurei para mim, mas apresentar para um público, nunca pensei nisso”, afirma.

O desfile contou com a participação de doze modelos do projeto social Periferia Inventando Moda, criado em 2014, em Paraisópolis pelo estilista Alex Santos. Desde então, ele fortalece a identidade da moda e beleza da periferia por meio de cursos dedicados a quem sonha em desfilar, produzir, maquiar ou fotografar.

A beleza foi assinada pelo coletivo Amuse e a trilha sonora ficou nas mãos do cantor e compositor Samuca (Samuca e a Selva).

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