A maneira como nos relacionamos com o trabalho está mudando aceleradamente. Com isso as relações entre empresas, profissionais e estado, precisam ser revistas em muitos aspectos.
Para quem já trabalha de forma independente, a afirmação do título pode não ser necessariamente uma novidade. Mas, alguns números recentes projetam um crescimento surpreendente de freelancers em todo o mundo em um curto período. Nos Estados Unidos, por exemplo, uma pesquisa da Freelancers Union diz que até 2020 mais de 40% dos profissionais atuarão “por conta” e não estarão vinculados a uma única empresa.
De fato, com as inconsistências econômicas e os avanços tecnológicos, as relações de trabalho vêm mudando a galope. No Brasil, os altos índices de desemprego e a escassez progressiva de vagas formais têm ajudado a afastar a mão de obra do regime tradicional, com carteira assinada. E, dessa forma, fomentando o acréscimo de adeptos à vida de autônomo.
Mas, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, esse movimento não ocorre apenas por imposições econômicas ou questões financeiras.
A pesquisa norte-americana entrevistou centenas de freelancers e boa parte deles – especialmente os mais jovens – diz ter escolhido o modelo por conta do crescimento pessoal, a flexibilidade de horário e a liberdade criativa. E quase 70% afirmam ter agora mais qualidade de vida. Se as mesmas perguntas fossem feitas para profissionais brasileiros, certamente as respostas não seriam muito diferentes.
Ou seja, parece que os números confirmam o que já esperávamos: estamos mesmo em um caminho sem volta.
FREELANCERS – IMPACTO NA ECONOMIA
No entanto, os dados sobre o crescimento do modelo independente nos fazem questionar: qual o impacto desse salto na economia?
Ainda segundo pesquisas da Freelance Union, a força de trabalho do modelo independente adiciona por volta de US$ 715 bilhões todos os anos à economia norte-americana. E a expectativa é que esse montante cresça substancialmente nos próximos anos.
Isso porque um em cada três freelancers disse ter visto a demanda por serviços aumentarem até 32% na comparação com o ano passado. E com o aumento de demanda, as horas de trabalho são também mais valorizadas. Cerca de metade (43%) dos entrevistados disse esperar que seus rendimentos aumentem no próximo ano – quatro vezes mais do os que projetam diminuição de seus rendimentos (11%).
Além disso, 77% dos profissionais participantes afirmam ter conseguido o mesmo ou mais dinheiro do que quando estavam vinculados a uma empresa – indicando que o freelancing pode ser um caminho de carreira ainda mais lucrativo do que os empregos tradicionais.
E um dos mercados mais movimentados e promissores para quem atua de modo independente é o da Comunicação. Designers, jornalistas, relações públicas, fotógrafos e produtores audiovisuais já estão hoje entre os freelancers mais solicitados. E serão ainda mais. Afinal, os trabalhadores da área parecem ser os mais adaptáveis ao formato.
As mudanças que se desenrolam no mercado contribuirão para esse cenário. Cada vez mais as empresas de Comunicação realizam trabalhos por projetos, com data de início e fim, e contratam mão de obra temporária especializada para cada um deles – ao invés de manter equipes fixas com todos os seus tributos empregatícios.
E POR AQUI?
No Brasil, embora o formato venha crescendo a olhos vistos, ainda não se consegue mensurar de maneira precisa seu impacto na economia. No entanto, pesquisas informais registram que ele ainda não é tão significativo em termos financeiros quanto nos EUA.
Isso ocorre, basicamente, por dois motivos. Um deles é o receio por parte das empresas na hora da contratação, causado normalmente pela falta de conhecimento sobre o que é ou não legal quando se trata desse tipo de mão de obra (tanto Pessoa Jurídica quanto MEI).
Outra razão é o fato de que o freelancer não é a atividade principal para a maioria dos profissionais. Na maioria dos casos, eles ainda estão vinculados a um emprego tradicional e fazem trabalhos extras para turbinar o orçamento.
Em contrapartida, engana-se quem pensa que o freelancer é alguém despreparado, que não se encaixa no mercado formal por não ser qualificado. Ao contrário, 60% dos profissionais que atuam no formato é graduado e pelo menos 20% possui certificado de curso técnicos ou profissionalizante. Além disso, nos últimos três anos o número de MEIs triplicou em todo o Brasil.
Ou seja, os freelancers no país são altamente especializados e têm, cada vez mais, buscado formalizar suas atividades, sejam elas sua única fonte de renda ou não.
CONSTRUÇÃO COLETIVA
De qualquer maneira, caminhamos a passos largos para a consolidação do formato independente no país. E isso torna imprescindível ampliar o debate sobre os direitos e deveres de empregados e empregadores diante das novas relações de trabalho.
Um dos maiores medos ao decidir encarar a carreira freelancer é a precarização. Sem uma legislação clara, benefícios como aposentadoria e seguro saúde se tornam difíceis de manejar. Nesse sentido, algumas proposições já vêm sendo feitas, mas nada ainda saiu do papel.
O pesquisador norte-americano Steven Hill, especialista em economia da New America Foundation, crê que a saída seja a criação de uma espécie de plano de seguro universal, no qual as empresas pagariam taxas para contratação de mão de obra freelancer. Com isso, ficaria garantido ao profissional independente, conforme o número de horas dedicadas a cada projeto, alguns dos benefícios hoje reservados ao modelo tradicional de contratação.
Para Hill, estudioso desse movimento nas relações de trabalho já há alguns anos, essa seria a maneira mais efetiva de equacionar as mudanças nos vínculos empregatícios. E, de fato, o ideal é que esse caminho seja construído coletivamente, definindo diretrizes que sejam viáveis e, claro, boas para todas as partes envolvidas.
E você, o que pensa sobre as mudanças nas relações de trabalho?