Marcas que buscam um propósito e acompanham a evolução das minorias se relacionam melhor com os consumidores
O relatório “A Visão” (The Vision/2019), estudo de macrotendências da WGSN, revela os três principais movimentos para os próximos anos. A empresa global de análises e previsões de tendências -, apresentou Estilo Livre, Consciência Total e Um Pouco de Magia – ideias como ponto de partida para inovar, inspirar e instigar a forma como a população ao redor do mundo consumirá e fará negócios para os próximos dois anos.
Uma próxima década se aproxima e as transições causam momentos de euforia na sociedade em geral. Por isso, todos os setores da indústria e criatividade terão que apostar na reflexão ativa – ou reFLEXão – utilizando o conhecimento e vivência das experiências passadas e os insights do presente para que possam preparar estrategicamente o futuro de seus negócios.
Segundo o levantamento da WGSN, as esferas intelectual, física e emocional terão impacto direto na concepção de como as marcas devem observar o consumidor e de que forma pretendem se aproximar. Neste sentido, haverá análises com relação a forma com que as pessoas se relacionam – sociedade e marcas –, produção industrial e como nos conectamos com a natureza.
Evidentemente, cada macrotendência tem sua nuance e forma singular de impactar os negócios. A provocação é como antecipar-se a elas. Confira:
ESTILO LIVRE
Dentro do Estilo Livre, que aborda as identidades pessoais e, respectivamente, suas características, é fundamental observar que a diversidade do indivíduo será celebrada, incluindo o pensamento flexível e a criatividade. “A individualidade vai se tornar ainda mais importante para as marcas, já que o perfil do consumidor será determinado, cada vez mais, por tribos sociais, estilo de vida e crenças. Para as empresas, o perfil psicológico será um dos caminhos para se aprofundar em que caminho pretende seguir, e principalmente, que geração está mais perceptível e aberta para isso”, destaca Eva Farah, especialista da WGSN.
Na era do individualismo, novas minorias passam a se tornar maiorias e as causas terão um impacto significativo na relação e estratégia destes players. Um exemplo é a ascensão e o constante crescimento da comunidade muçulmana que passará a definir uma nova rota de como as marcas pretendem criar um storytelling e uma possível construção de relacionamento com este consumidor, em sua predominância jovem. “Estamos falando principalmente da geração Z, que é assídua por uma boa causa e tem muito bem definida sua forma de pensar, o que lhe atrai”, completa Eva.
Aqui refletimos sobre pessoas, passado, presente e futuro, valorizando a identidade plural, onde trabalho, riqueza e bem-estar guiarão as discussões, à medida que questionamos as práticas do passado e valorizamos as inovações para as minorias e maiorias. As identidades pessoais serão libertadas e todos os estilos serão celebrados. Os consumidores são ambiculturais, com pessoas de múltiplas raças e etnias capazes de navegar naturalmente entre diversas culturas. Aprimoramos a moda de acordo com a sua cultura e não copiando outros países.
Outro ponto que compõe essa tendência é a migração da era moderna. Com a globalização, novos mapas irão imergir. E o conceito de nacionalismo será questionado: as fronteiras definem a nossa identidade?
Linda Rodin, modelo com 70 anos, se tornou ícone de alguém que envelhece com muita elegância e mantém seu senso de estilo continuamente aguçado
Contudo, o mais importante para os negócios é entender o que esse movimento pode impactar na prática. Dentre os pontos relevantes, é válido se atentar para o surgimento de um novo sentido de patriotismo e uma descoberta individual de cada ser dentro de um processo de aceitação. Soma-se a isso as práticas sociais que passam a ampliar as modalidades de renda, proporcionando mais tempo para as pessoas livres contribuírem com a sociedade. Também fazem parte deste pensamento os formatos de auto expressão e identidade, com a valorização das imperfeições – tanto na beleza quanto no design e aumento dos valores hedonistas.
CONSCIÊNCIA TOTAL
A Consciência Total promoverá um novo nível de sustentabilidade sobre a produção industrial. A ideia é que os consumidores irão viver com menos e melhor, uma vez que o desenvolvimento sustentável se infiltrará em todos os aspectos da nossa vida, sobretudo, o pessoal e profissional. O consumo com propósito amplia suas compras– principalmente, os produtos com maior durabilidade e que nutrem o planeta. A transparência na produção será mais exigida pelos consumidores. O levantamento aponta também que há um potencial estimado de 966 bilhões de euros a serem explorados pelas marcas através de iniciativas sustentáveis dentro de inúmeras esferas da indústria.
O atual vício pela tecnologia vai transformar a forma como os indivíduos a consomem. A ‘brainternet’ – interface direta entre o cérebro e a internet – também se tornará uma realidade. Exemplo disso já pode ser observado com a empresa de Elon Musk, a Neuralink, que aposta em aumentar o cérebro por meio da tecnologia. “Em contrapartida a esse desenvolvimento tecnológico, movimentos culturais pretendem lutar contra os parâmetros irreais de sucesso e propõem soluções criativas para eliminar a relação imediata com a tecnologia e, consequentemente, a interação com plataformas integrais, que oferecem experiências tecnológicas e não viciam as pessoas. O futuro vai, novamente, apreciar o tempo e a arte da espera”, destaca Eva Farah.
Aqui refletimos sobre produção, tecnologia, cuidados com o meio ambiente, onde todo o produto precisa ter um propósito e a sustentabilidade atingirá um novo patamar com produtos que possam durar mais. A relação de consumo muda, vamos deixar de viver com muito para viver muito melhor. Se nós sabemos a origem dos alimentos que comemos, por que não saber a origem das coisas que compramos?
Coleção de móveis da Fogo Island Inn, que fez sua estréia internacional e é composta por 70 peças maravilhosas de designers de renome mundial e artesãos locais que contam a história sobre o lugar (a ilha de Fogo Island) nas etiquetas de cada peça. As peças trazem a herança e uma narrativa distinta da comunidade de pescadores que descobriu na arte de fazer como continuar, como pertencer e como serem relevante na cidade.
É importante saber quem fez, quais os custos, etc. O excesso de informação e de atividades a serem realizadas geram insatisfação, apatia, e por isso, é necessário ser seletivo, ninguém dá conta de tudo, escolha as atividades e assuntos que fazem sentido na sua vida. Outra característica abordada nesse tema é o valor da espera em um mundo onde ninguém tem paciência para nada. Precisamos desacelerar.
MAGIA TOTAL
A Magia vai estar à tona! Uma nova era, antes movida pela racionalidade e por dados, terá que se adaptar ao anseio crescente dos consumidores de tangibilizar as emoções. As expressões humanas serão importantes, assim como a informação quantificável. “Neste sentido, já é notável o interesse de consumo pela espiritualidade – seja na busca de conhecimento pela bruxaria como um elo de magia, cultos xamânicos e outras vertentes que buscam promover um grande exercício de auto-conhecimento, fé e respostas para os desafios pessoais”, comenta Luiza Loyola, especialista da WGSN.
Será também questionado o estigma em torno do envelhecimento, uma vez que os indivíduos e a sociedade como um todo passarão a se importar menos com a idade biológica e mais com o estilo de vida. Mudanças na forma de reprodução, como a gestação fora do corpo humano impactam a ciência e tecnologia. Um exemplo disso, são os ovários impressos em 3D, além dos métodos de gerar bebês com três pais (o DNA de uma mulher mais velha é transferido para outra mais jovem e saudável), que estão em fase de testes, já ressaltam os avanços desta indústria.
Uma sessão de cura energética
Aqui refletimos sobre a natureza – fauna, flora e a humanidade também. Além do misticismo que vem permeando diferentes áreas. A emoção mescla-se às diferentes crenças e a percepção da natureza muda radicalmente. Envelhecer, atualmente, não é mais um problema. “À medida que buscamos mais equilíbrio, calma e estabilidade, os novos especialistas em saúde mental serão místicos, bruxos e xamãs”, comenta Luiz Arruda, diretor da WGSN/Mindset. Segundo ele, as pessoas se conectarão por meio de seus hobbies, valores e estilo de vida. A tecnologia aqui irá simular o que só a natureza poderia fazer sozinha.
O conceito traz experiências sensoriais que serão cada vez mais significativas e pessoais. Cada um tem uma sensação diferente, pensa de uma forma distinta para cada acontecimento e devemos aprender e respeitar essas sensações únicas.
A radiografia dos comportamentos de consumo diz muito sobre que caminhos as marcas podem avançar no futuro. “São movimentos que passam a ser um guia de como a indústria deve se comportar e para quais caminhos pretende disseminar investimentos e tornar sua história de comunicação criativa e adequada para cada geração”, acrescenta Luiza Loyola. “O aprendizado deste levantamento é que podemos acompanhar essa evolução e avaliar como a sociedade vai se comportar”, finaliza.
Imagens: WGSN/Divulgação.