A crise dos refugiados ainda é notícia pelo mundo todo. Muitas dessas pessoas escolhem o Brasil para chamar de casa. O fato é que somos um povo hospitaleiro, mas nem sempre. Muitas famílias, casais ou pessoas em busca de uma nova oportunidade chegam aqui e não conseguem trabalho ou a chance de mostrar o seu talento. Foi pensando nisso que surgiu o Migraflix.
Aquela senhora vinda da Síria tem uma mão incrível para fazer doces típicos. O homem de terno na estação de metrô era um ótimo dançarino de Tango na Argentina. O moço que está na fila da lotérica era professor de caligrafia árabe em seu país. Todos vieram em busca de uma nova oportunidade no Brasil. E graças ao Migraflix, hoje eles tem conseguido mostrar um pouco de seu talento.
O Migraflix é um projeto voltado ao empoderamento de refugiados e imigrantes que chegam ao Brasil. É um movimento que aproxima pessoas através de oficinas culturais de arte, música, gastronomia, quebrando preconceitos, esteriótipos e ainda permitindo uma renda para o imigrante. A missão do Migraflix é por meio da cultura, conectar esses imigrantes e brasileiros em oficinas (workshops) ministradas por eles.
Todos os meses, acontecem inúmeros cursos para um número reduzido de pessoas (dez pessoas em cada aula). A ideia é que esses palestrantes mostrem suas culturas de uma maneira mais próxima, e que haja uma interação maior durante a atividade. 80% do lucro de cada workshop é revertido para o imigrante e os demais 20% ficam com a plataforma, para custeio da divulgação e local do curso.
Entre os temas estão os ritmos de Togo, a cozinha Andaluz, quitutes sírios, caligrafia árabe, os sabores de Marrocos, aprender a dançar tango.
O time, formado por imigrantes, refugiados e brasileiros, acredita na possibilidade de viver em uma sociedade mais justa e inclusiva. O empreendedor argentino Jonathan Berezovsky, um dos fundadores nos conta um pouco mais sobre a ideia:
“Entendemos que cada cultura é rica à sua maneira e que, a troca de experiências entre indivíduos é uma importante ferramenta de transformação da sociedade. Pensando nisso, criamos uma ação social baseada em workshops culturais ministrados por imigrantes e refugiados. O Migraflix busca integrá-los social e economicamente por meio da divulgação da sua própria cultura. Isso se dá a partir de workshops oferecidos a um preço justo, aonde o público em geral, com predominância brasileira, é convidado a entrar em contato com uma nova visão de mundo, enquanto aprende um assunto de seu interesse.”
Conversamos um pouco mais com Jonatan para saber como tudo funciona:
“Acreditamos que a partir dessa aproximação todos saem ganhando. Quem faz um curso com o Migraflix logo percebe a importância de receber com carinho a sabedoria do outro e o quanto essa relação pode enriquecer a nossa própria cultura.”
FTC: Como surgiu a ideia do Migraflix?
JB: O Migraflix surgiu da tentativa de encontrar soluções para um objetivo: o empoderamento social e econômico dos imigrantes e refugiados. Eu já tinha experiência com programas de microcrédito para refugiados no exterior e queria aproveitar essa ferramenta para empoderar os imigrantes aqui no Brasil. Mas, por causa de obstáculos burocráticos, tive que pensar em outras ideias que se aplicassem por aqui. No começo, apresentei a ideia para a Social Good Brasil, que decidiu apoiar o projeto com mentoria.
FTC: Hoje os cursos acontecem apenas na cidade de São Paulo, vocês pensam na possibilidade de se espalhar por outras cidades?
JB: Estamos começando a dar os primeiros cursos fora de São Paulo agora em Abril. O primeiro curso vai ser ministrado por um refugiado sírio em Curitiba, onde ele vai ensinar a fazer os pratos mais famosos de seu país. A partir de Maio, vamos ter também cursos em Brasília e Belo Horizonte.
FTC: Quais os cursos que as pessoas mais procuram?
JB: Os cursos mais procurados são aqueles de culinária. Hoje em dia, temos cursos de culinária síria, marroquina, peruana, colombiana e camaronesa. Estamos abrindo em breve cursos de comida boliviana e comida congolesa.
FTC: Onde esses cursos são realizados?
JB: Os cursos são realizados em espaços da cidade que tem as condições necessárias para abrigar as pessoas e materiais com qualidade, sejam de culinária, arte, música ou dança. Por exemplo, a Escola de Gastronomia Wilma Kovesi é um parceiro do Migraflix e da o espaço para fazer os cursos na sua cozinha. Com cerca de 3 horas de duração, é possível escolher ainda temas como caligrafia árabe, culinária marroquina, percussão de Togo e dança colombiana.
FTC: Onde querem chegar com a ideia?
JB: O plano é, ao longo dos próximos anos, empoderar econômica e socialmente cada vez mais imigrantes, dando a eles a oportunidade de ministrar cursos e gerar uma renda significativa a partir da própria bagagem cultural. Além disso, o plano inclui atingir milhares de participantes nos cursos, gerando impacto sobre a sociedade e fazendo com que as pessoas entendam que os imigrantes récem-chegados ao país podem enriquecer a cultura local e ter identificação com eles. Esse intercâmbio cultural abre portas para novas oportunidades de integração que vão surgir a partir dessa aceitação.
Que tal trocar experiências e ainda aprender algo bacana com alguém totalmente disponível para ensinar um pouco de sua cultura? Confira as datas dos próximos workshops do Migraflix no site, acompanhe o projeto no Facebook, Instagram e blog.
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