Mais do que uma extravagante residência real e jardins encantadores, a grandeza de Versalhes reside nos detalhes sutis e na história pouco conhecida da propriedade;
O Palácio de Versalhes é um dos pontos turísticos mais visitados da França. Localizado a 20 km de Paris, na cidade de Versalhes, pelo grandioso castelo passam cerca de 10 milhões de pessoas todos os anos.
Construído durante o reinado de Luís XV, que governou a França entre 1661 e 1715, o projeto levou 40 anos para ser concluído. Considerado Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, Versalhes é também um grande símbolo de poder dos monarcas no país, além de representar o padrão de vida luxuoso da nobreza na época.
O que muitos não sabem, é que apesar de ser uma residência real, a vida da corte francesa já foi insalubre e repleta de regras estranhas. Descubra curiosidades e fatos interessantes sobre o famoso palácio. Saiba mais:
1 – Antes de Versalhes, os reis moravam no Louvre
A partir do reinado de Henrique III, o Palácio do Louvre tornou-se a principal residência dos monarcas. No entanto, na época de Luís XIV, verdadeiro entusiasta da arquitetura, ao tentar reformar e expandir o local, o rei encontrou diversos desafios. Mesmo com todos os esforços para renovar o Louvre e o Palácio das Tulherias, o governante se deparou com a limitação do terreno, bem no centro de Paris.
Em 1678, Luís XIV tomou a decisão então de deixar o Louvre e se mudar para Versalhes, onde finalmente pôde dar asas à criatividade, expressando a elegância e grandiosidade dos nobres franceses.
2 – O palácio era originalmente um pavilhão de caça
O Palácio de Versalhes teve um início bastante humilde. Luís XIII (1601-1643) comprou o terreno porque adorava caçar. Ali, construiu uma “pousada”, onde adorava passar a noite se não tivesse tempo de voltar a Paris ou Saint-Germain-en-Laye antes de escurecer. Logo adquiriu mais terras, o que abriu caminho para seu filho, Luís XIV, mais tarde, transformar Versalhes em um verdadeiro palácio – até transferir o governo francês e sua corte para lá.
Construído pelo rei Luís XIV, o “Rei Sol”, a partir de 1664, Versalhes foi por mais de um século modelo de residência real na Europa, e por muitas vezes teve seu estilo copiado. O palácio possui 67 mil metros quadrados, 2.153 janelas, 67 escadarias, 352 chaminés, 700 quartos, 1.250 lareiras e 700 hectares de parque.
Residiam ali a família real e aristocratas de alto escalão que recebessem o benefício de viver num apartamento da propriedade. A certa altura, mais de 5.000 pessoas puderam ser acomodadas no amplo espaço. Em 1837, o castelo foi transformado em museu de história.
3 – A sala mais famosa é uma complexa obra de arquitetura
Versalhes conta com a Galeria dos Espelhos, projetada pelo arquiteto francês Jules Hardouin-Mansart, entre 1678 e 1684, no reinado do rei Luís XV. Com 73 m de comprimento, um teto decorado com pinturas coloridas e 357 espelhos, que na época estavam entre os objetos mais caros, o ambiente traz 17 enormes janelas que permitiam a entrada da luz solar e a vista da paisagem dos jardins de Versalhes, com o intuito de trazer a natureza para dentro.
Como tudo o que foi utilizado para construir e decorar o Palácio foi criado na França, na época, o país conseguiu atrair os famosos fabricantes de espelhos venezianos, que acabaram jurados de morte por partilhar o seu conhecimento com os franceses.
Para ser iluminada durante a noite, a Galeria dos Espelhos exigia 3.000 velas, e seu espaço era utilizado de várias maneiras: para receber visitas, bailes e diversas reuniões. Não por acaso, o Tratado de Versalhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial, foi assinado ali.
Os espelhos refletem a luz para proteger as paredes ornamentadas e o teto da fumaça das velas. Em ocasiões especiais o salão recebia cerca de 20.000 velas, transformando-se num “Corredor de Luz”. Os vários lustres de vidro complementam perfeitamente o hall espelhado.
4 – O cheiro dos jardins era tão forte que as pessoas passavam mal
Os jardins de Versalhes é famoso por sua grandeza e beleza. Um dos mais espetaculares do mundo, contêm 372 estátuas, 55 fontes de água, 600 fontes e mais de 32 quilômetros de canos de água. Um espetáculo à parte hoje para os visitantes, possui diversas esculturas ao ar livre, 221 obras de mármore, chumbo e bronze entre seus bosques.
Porém, tempos atrás, nem tudo era perfeito. Com mais de 210.000 flores e 200.000 árvores, visitantes acabavam passavam mal, de tão forte o cheiro, especialmente durante a época das alergias.
Uma amante real escreveu que a mistura das flores e a “natureza” exacerbada deixava as pessoas enjoadas quase todas as noites. A enorme quantidade de plantas era potente o suficiente para causar dores de cabeça, dificuldades respiratórias e desmaios, até a aldeia vizinha de Trianon.
5 – A nobreza do palácio não se estendia à sua higiene e saneamento
Sem saneamento básico, as necessidades em Versalhes eram feitas em qualquer parte das ruas. No palácio, o conteúdo dos penicos eram despejados pelas janelas. Versalhes era extremamente sujo, cheirava urina e continha material fecal espalhado. Como as dependências do palácio não eram fechadas ao público, os transeuntes aproveitavam para despejar o próprio lixo nas mediações.
Em 1715, o monarca decretou que as fezes seriam recolhidas dos corredores uma vez por semana, mas nem sempre os servos davam conta de combater o fedor que infestava o ar. Logo após, sob o reinado de Luís XV, começaram a ser instalados os “toilettes à l’anglaise” nos aposentos privados, trazendo um pouco mais de conforto e higiene para a corte real.
Tomar banho também não era um hábito rotineiro. E apesar dos nobres se perfumarem em excesso, eram cobertos de piolhos e pulgas. Os banhos do rei eram limitados aos recomendados pelo médico; sua limpeza pessoal era feita com pano embebido em água, álcool ou até mesmo saliva.
Para combater o terrível mau hálito, a população precisava esfregar os dentes e gengivas com panos embebidos em uma mistura de ervas, já que escovas e pastas de dente ainda não eram uma realidade.
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6 – A bebida preferida do rei Luís XV era o chocolate quente
Em meio a toda a abundância de comida e bebida em Versalhes, o rei Luís XV tinha um favorito incontestável: o chocolate quente. Verdadeira iguaria na época, a bebida era considerada exótica, famosa por seus supostos efeitos afrodisíacos e oferecida generosamente às suas amantes. O rei chegou até mesmo a preparar pessoalmente algumas xícaras – algo inédito para um monarca naquela época.
Maria Antonieta também sucumbia ao encanto do chocolate quente. Quando se casou com Luís XVI em 1770, ela trouxe seu próprio fabricante para a corte, que ostentava o título de “Fabricante de chocolate para a Rainha”.
7 – O primeiro jardim zoológico do mundo
Luís XIV amava animais e gastava milhares de euros por ano com elefantes, flamingos, cachorros e gatos. O palácio possuía um zoológico elaborado pelo arquiteto Louis le Vau. Os animais antes dispersos nos cercados das residências reais, passaram a ser classificados por espécies, em recintos separados e especialmente adaptados, que podiam ser vistos da varanda do pavilhão central de La Ménagerie.
Grandes aves de todo mundo predominavam, mas era possível ver também camelos, avestruzes, crocodilos, tartarugas. A cenografia elaborada pelo arquiteto, com sua planta radial e a projeção dos recintos a partir de um ponto de observação elevado, era um perfeito divertimento para a corte. O conceito foi rapidamente adaptado por toda a Europa e coleções deste tipo foram eventualmente chamadas de jardins zoológicos.
8 – As refeições do rei eram frequentemente servidas frias
O palácio é majestoso e grandioso, com seus salões luxuosos e jardins exuberantes. Porém, um pequeno detalhe escapou ao olhar atento do arquiteto: a distância entre a cozinha e as salas de jantar. Com mais de 5.000 pessoas no local, dar conta das refeições era um desafio imenso. Centenas de servos corriam de um lado para o outro, garantindo que todas as bocas fossem alimentadas. Mas o rei, coitado, enfrentava um dilema peculiar.
A distância entre seu trono e a cozinha era tão grande que sua comida muitas vezes chegava fria à mesa. Frustrado com essa situação, Luís XV, no século 18, tomou uma decisão inusitada: mandou construir cozinhas privadas dentro dos próprios aposentos.
9 – O palácio teve papel crucial na investigação científica
Durante o Iluminismo, os reis Luís XV e Luís XVI não só eram apaixonados pela ciência, como também incentivavam a pesquisa e colecionavam instrumentos utilizados em experimentos de diversas áreas (relojoaria, astronomia e cartografia). Essa atmosfera permitiu avanços significativos em diversos estudos.
Além disso, os vastos jardins de Versalhes foram fundamentais para avanços na botânica e agricultura. Com mais de 400 espécies de plantas de todo o mundo, incluindo abacaxi, baunilha e café, o jardim era um verdadeiro paraíso para os entusiastas da natureza.
Muitas pinturas e esculturas realçam a presença desses elementos no Palácio. No Salão dos Nobres, por exemplo, anjos apaixonados fazem cálculos das longitudes; no teto do Salão de Mercúrio, podemos encontrar a geometria e a matemática. A astronomia também está por todo o lado, representada em decorações no teto ou pequenos detalhes entalhados.
10 – As regras de vestimenta eram tão rígidas que as mulheres sofriam
Na época, a moda possuía diversas regras e muita rigidez. A elegância custava caro e a liberdade de movimento era praticamente inexistente. Os espartilhos, feitos de ossos de baleia, esmagavam as costelas das mulheres, enquanto as saias precisavam ter exatos 30 metros de tecido francês, pois o monarca só aceitava produtos nacionais.
Para completar, elas tinham que aprender a caminhar de um jeito específico, deslizando sem chutar as saias, sob o olhar atento dos nobres encarregados de informar ao rei quem não seguia a ordem corretamente. Maria Antonieta também gostava de organizar várias celebrações nos jardins do Trianon, as quais era crucial seguir o “código de vestimenta”.
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11 – Com tanto mármore, no inverno, as pessoas morriam de frio
Quando as pessoas não estavam morrendo pelas doenças que se espalhavam, estavam sofrendo por conta do frio. Mesmo bonito, a imensa quantidade de mármore no palácio, acabou sendo uma má escolha, principalmente durante o inverno. Em março de 1695, o vinho chegou a congelar no copo do rei.
O revestimento tornava os ambientes tão frios que as condições de vida eram quase insuportáveis. Muitos nobres ocupavam aposentos escuros e mofados e as lareiras não conseguiam aquecer todos os cômodos. A solução encontrada foi a lareira dentro do quarto, mas a fumaça intoxicante fez muitos serem expulsos do local – e outros morrerem por asfixia.
12 – O palácio possui a Orangery, maior coleção de laranjeiras da Europa
A flor de laranjeira era o perfume preferido do rei. Na época, como era considerado boa educação os cortesãos gratificarem o rei oferecendo-lhe suas próprias mudas, com mais de 150 metros de comprimento e 12 metros de altura, o extenso Orangery reunia todas as laranjeiras das casas reais e um grande número de árvores da França, Itália, Espanha e Portugal. O laranjal de Versalhes logo ostentava a maior coleção da espécie da Europa.
Até hoje o Orangery é vigiado por uma estátua de Luís XIV. As paredes, as janelas duplas e a orientação para o sul, permitem manter uma temperatura que não seja inferior a 5°C. Milhares de laranjeiras, limoeiros e romãzeiras são mantidas no interior do prédio durante o inverno – algumas com mais de 200 anos – e dispostas em padrões geométricos no jardim ornamental, durante o verão.
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