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Cidade Cinza: documentário mostra grafite nas ruas de SP

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Como bom menino do interior, me lembro bem quando comecei a entender o caos da capital paulista. E uma das primeiras sensações que tive, (para quem é nativo talvez não seja novidade), foi de que tudo na cidade era cinza. Céu, muros e até algumas pessoas me traziam essa impressão. Na época, lembro que chamava a maioria dos homens de 45 até 60 anos de “Grays”.

Não como o Mr. do livro, mas como os dos UFOS. Os “Grays” tinham nitidamente o impacto da cidade estampado na tonalidade de suas peles e no semblante de seus rostos.

Acho que esse foi um dos motivos que chamou a minha atenção para o título do documentário de Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo, sobre o graffiti na cidade de São Paulo. Cidade Cinza (2013) é um trabalho de 7 anos e coloca o estilo – com toda a razão – como movimento artístico e cultural legítimo.

O filme traz como protagonistas, os principais graffiteiros brasileiros: Os Gêmeos (Otávio e Gustavo), Nina, Zefix, Finok, Ise e Nunca. O pano de fundo é a história do mural de 700 metros feito pelos artistas na Avenida 23 de maio e apagado por “equívoco” pela prefeitura de SP logo após a sua finalização, e que depois, em uma crise de arrependimento forçada pela mídia, pediu para que os artistas o refizessem.

Cidade Cinza mostra um pouco do início do estilo no brasil, no final dos anos 80. As dificuldades iniciais, a falta de reconhecimento (ainda!), os patrocínios e a evolução dos protagonistas como artistas (ênfase em Os Gêmeos). Um ponto retratado com atenção também, é como o estilo ainda é confundido com o Pixo. A imagem do graffiti como movimento não marginalizado é recente.

Como contraponto, o diretor mostra o olhar de quem é pago pela prefeitura para apagar os muros. Uma espécie de supervisor e seu motorista, são antagonistas interessantes e até divertidos. À maneira de cada um, sensíveis a arte mas também submissos ao trabalho que escolheram.

A subjetividade do critério de avaliação sobre o que deve ser mantido ou não, está presente. E é a mesma de quem, ao olhar o quadro “Lavrador de Café” de Cândido Portinari, reclama da proporção dos pés da figura e a acha horrível. A arte não é sempre a cópia ou reprodução exata de algo. Necessita e sempre terá estilos diversos. Os gostos podem ser aprimorados e as referências coletadas. Se há estagnação nesses pontos, obviamente a visão e o critério são limitados.

Cidade Cinza reafirma que a arte faz parte do ser humano – em quem a faz e em quem a aprecia. E que a pobreza cultural do Brasil não é o painel da 23 de maio e está longe de ser rapidamente apagada. São mais de 500 anos de pensamento colonial, e é uma pena que artistas geniais como esses, ainda precisarão pintar muitos castelos na Escócia ou paredes de celebridades da música internacional para serem reconhecidos no país onde mais se inspiram.

Em colaboração com o Instagrafite, o projeto #CidadeCinza mapea muros apagados em São Paulo. Viu um? Colabore, envie sua foto na página do filme no Facebook e no site do Instagrafite. Aproveite e assine a petição contra a política do cinza.

Sinopse: Nas ruas de uma das maiores e mais desorganizadas metrópolis do mundo nasceu uma nova forma de graffiti, na qual o hip hop americano foi substituído pela cultura regional brasileira. Rapidamente, as obras d’Osgemeos, Nunca e Nina se espalharam pelas ruas de São Paulo e depois pelas galerias do mundo. No entanto, uma nova lei de combate à poluição visual fez a prefeitura de São Paulo cobrir suas pinturas de cinza. Assista ao trailer:

No Facebook: Cidade Cinza. Faça o download do filme aqui.

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