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Em Poemas Presos, Rafael Cavalcanti nos faz mergulhar em diferentes sensações através de poucas palavras

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Estamos sentindo na prática alguns efeitos negativos que podem surgir de uma vida muito conectada, além da ansiedade que as redes sociais em exagero podem trazer. Quem diria que em pleno século 21, tanta informação cansaria nosso corpo quanto a mente, tão brevemente, nos levando a buscar conteúdos que nos façam diminuir o ritmo, e nos tragam diferentes sentimentos e sensações através de poucas palavras?

Eis o que o livro de 150 páginas carregado de folhas pretas de Rafael Cavalcanti tem o poder de fazer: Poemas Presos tem um lado subjetivo e pessoal para cada leitor. A narrativa nos faz mergulhar no que o autor força através de discussões e questionamentos internos.

Diferente de outros poemas publicados, a história é contada através de um caminho linear e metafórico. Com um único personagem agênero, a edição, foi inteiramente datilografada em uma máquina de escrever. Conversamos com Rafael Cavalcanti para conhecer um pouco mais sobre o escritor e essa sua linda obra que vale muito a pena a leitura. Confira!

POEMAS PRESOS, POR RAFAEL CAVALCANTI
FTC: Queria que falasse um pouco sobre você e como chegou até à poesia.

Rafael Cavalcanti: Falar sobre o que sou é sempre difícil pra mim, então vou tentar começar por onde vim. Nasci em São Paulo e tenho 32 anos. Minha família paterna é alagoana e a materna, pernambucana. Tenho somente um irmão, mais novo, nascido aqui também.

Sou escritor e tenho um livro publicado no ano passado, chamado Poemas Presos. Uma vez, em uma entrevista, o Leminski, o Paulo, disse que a poesia já vem como um erro na programação genética de algumas pessoas, e eu acredito nisso e nele. Lembro de muitas recordações da infância, quase todas elas já dentro de uma ótica poética. Entendo que ser poeta é algo que não se adquire, compra, estuda ou aprimora. É genuíno.

FTC: Por que os poemas presos são, a maioria, escritos em folhas pretas?

Rafael Cavalcanti: As folhas pretas fazem parte da metalinguagem visual do livro e conversam diretamente com tudo que está escrito nele. Mas, na verdade, essa escolha de cor veio antes mesmo do seu nascimento. Quando decidi voltar a escrever, usava o Instagram como forma de externar alguns textos e, lá, quase todos já tinham letra branca e fundo preto.

Sou designer por formação e trabalho com isso desde a minha adolescência. Apesar de ter atuado muito mais com o digital, sempre tive fascínio pelo charme analógico. Quando surgiu a possibilidade de fazer Poemas Presos, já tinha a certeza de como ele seria imageticamente.

Todos os textos foram datilografados em minha máquina de escrever, uma Olivetti Lettera 35, seguindo uma diagramação concretista que admiro. Depois, fiz uma cópia invertida, em uma máquina de xerox: o fundo branco virou preto, a letra preta ficou branca. Pra finalizar, digitalizei e ajustei o tamanho. Fiz isso página a página.

FTC: Qual é o seu poema preferido?

Rafael Cavalcanti: O livro, apesar do nome Poemas Presos, é uma narrativa contada com linearidade através de várias linguagens poéticas. Geralmente, os livros de poesia podem ser lidos de forma alternada. Este possui um começo, meio e fim. Um dos textos que mais gosto está no primeiro capítulo, chamado erros ao rio.

no encontro
da casa
com o rio,
que era o quarto,
tinha um espelho
d’água.

às vezes
ele era grande
e mostrava
todo mundo bonito.

às vezes
ele era pequeno
e não mostrava ninguém.

dependia
se chovia.

FTC: O que é arte para você e como definiria a sua arte?

Rafael Cavalcanti: O Ferreira Gullar dizia que a arte existe, pois, a vida por si só não basta. Acho uma definição interessante dentre um infinito de indefinições. Sobre a minha literatura, ainda não consigo classificá-la. Alguns leitores, ou outros escritores, dizem que é subjetiva o suficiente a ponto de eles mesmos criarem suas próprias imagens. Tento oferecer os personagens, os espaços e os períodos, mas cada um recria isso da forma que achar melhor.

FTC: Através dela, o que deseja passar para o público?

Rafael Cavalcanti: Que a função da arte é servir o tempo.

FTC: Em que você se inspira?

Rafael Cavalcanti: Na incompreensão.

FTC: E agora, o que vem pela frente?

Rafael Cavalcanti: Tenho me dividido entre as ramificações do Poemas Presos e os próximos livros. O livro foi traduzido para o francês, quero ser lido na França. Saiu também um audiobook, uma segunda edição, limitada, e outros desdobramentos dentro do teatro. Enquanto isso, escrevo o segundo livro, O Espelho D’Água, e outros dois que não posso falar o nome, pois pode ser que mudem.

Para adquirir o livro, acesse o site de Poemas Presos. Acompanhe também os lançamentos de Rafael Cavalcanti no Instagram.

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