A ilustradora e diretora de arte Sue Maistro entrou para o mundo das tatuagens para ter mais liberdade criativa e se aproximar de suas criações autorais
O desenho sempre fez parte de sua vida. Suelen Maistro, conhecida como Sue Maistro, então cursou Publicidade e Propaganda, fez cursos de design gráfico, criação, desenho, e foi trabalhar como diretora de arte.
A ilustração era um plus em seus projetos e a paixão pelo assunto só aumentava. “Foi assim por mais de 18 anos, mas chegou um momento em que eu queria criar de forma mais autônoma”, conta ela.
A forma como as agências funcionam a frustraram bastante, apesar de gostar muito de sua profissão.
Como mãe, ela também tinha um problema. “Eu queria estar presente para as demandas do meu filho sem precisar terceirizar a criação dele. Então eu comecei a ter uma inquietação constante que me forçava a pensar em soluções”.
A MATERNIDADE TROUXE CORAGEM PARA MUDAR
Foi aí que ela criou, quando seu filho nasceu, um projeto chamado Mãe Pop, portal sobre maternidade e amamentação, junto a uma iniciativa chamada de Mama Neném, que além de informar e empoderar mães sobre a maternidade e seus desafios, principalmente sobre os da amamentação, formou profissionais de aleitamento.
Toda esta caminhada a fez entender que trabalhar até de madrugada para entregar projetos publicitários não era compatível com o tipo de mãe que queria ser. A maternidade acabou dando coragem para ela tentar mudar este cenário.
“Eu tive que trilhar caminhos profissionais bem diferentes para entender de uma vez por todas que não dava para fugir muito do que mais me motiva, que é a arte”.
A TATUAGEM DEU VIDA PARA SUA ARTE
Foi assim que Sue Maistro resolveu então fazer um curso de tatuagem, algo que desde a adolescência tinha curiosidade de aprender. A ideia inicial era conecta-la com seus desenhos novamente. “O trabalho de um tatuador é como o de um artesão. Eu já sabia pintar e desenhar, queria explorar a aplicação de forma diferente e simplesmente me apaixonei pela tattoo. Foi como dar vida para minha arte”.
Suelen começou então a olhar para a tatuagem como um encontro. A arte aplicada à pele transformava o outro e o outro transforma sua arte. “Fiquei muito empolgada e decidi seguir em frente para ver como seria este caminho”.
Seu trabalho traz cores, linhas finas e expressivas, além de elementos que honram a criação (natureza, feminino, vida animal) e a liberdade. Confira nossa entrevista exclusiva com a artista!
SUE MAISTRO – ENTREVISTA
FTC: Como você define hoje a sua arte?
Hoje eu acredito que meu trabalho está em evolução. Eu fiquei tempo demais desconectada da minha arte, sem abraçar ela como a alma da minha veia profissional. Estou em processo de busca, me apoderando dela novamente.
Quando eu penso em estilo, eu a defino como uma representação subjetiva da vida em camadas. Eu uso muitos detalhes, com linhas finas, sempre conectada com elementos que honram a criação (natureza, feminino, vida animal) e a liberdade. Minhas linhas são sinuosas e soltas.
Eu gosto de usar cores em pontos estratégicos quando penso em tatuagem, no entanto, na arte digital e pintura, as cores são um elemento bem forte no meu trabalho, eu não tenho medo de usá-las.
FTC: Com o que você se inspira hoje?
Meu trabalho é muito inspirado na Art Nouveau, Klimt, Mucha, entre outros artistas. No dia a dia, me inspiro na natureza e no feminino.
Como sou muito visual, a direção de arte de filmes e séries chama bastante minha atenção. Eu piro na abertura do seriado da Netflix Anne with E, essas aberturas artísticas me inspiram bastante.
FTC: Qual foi sua primeira tatuagem em um cliente?
Não exatamente em cliente, mas principalmente modelo. Meu marido foi um das 1ª pessoas que tatuei porque ele se ofereceu como tela para que eu treinasse. Também me auto tatuei nas coxas, mão e pernas, para treinar antes de ir para a pele de um cliente especificamente.
Acho que este caminho é comum para a maioria dos que iniciam na tatuagem. Também tatuei duas modelos amigas que me ajudaram no início (e ainda as tatuo quando tenho um projeto legal que elas curtem). Minha primeira tattoo no curso foi uma mini lua com pontilhismo e mini flores, dentro da forma lunar.
FTC: Está tocando algum projeto específico?
Meu projeto principal hoje é estabelecer minha arte como minha profissão principal com possibilidades sempre abertas desde a tatuagem à tela. Tenho feito coberturas de cicatrizes com a tatuagem e isto só está confirmando cada dia mais o quanto a arte pode ser importante na vida das pessoas e ajudar a virar páginas.
FTC: A pandemia mudou alguma coisa na sua maneira de trabalhar?
Antes da pandemia eu já era uma profissional em Home office na maioria dos projetos. A pandemia foi extremamente desafiadora porque eu decidi abrir meu próprio estúdio de tatuagem em janeiro de 2020 e de repente tudo fechou.
Tive que me organizar financeiramente, passei a maior parte do tempo fechada, aproveitei para estudar mais e resolvi me graduar em estética e cosmetologia para entender de pele, algo que acho importante. Isso ajudou bastante na evolução do meu trabalho.
FTC: E agora, o que vem pela frente?
Meu objetivo final não é ficar somente na tatuagem, ela é a forma que encontrei de me conectar com a arte e chegou para ficar na minha vida. Eu reconheço e honro a importância da tela viva que é a pele humana e o quanto de significado e história ela carrega, mas eu quero voltar (também) para as telas assim que conseguir um espaço maior para meu ateliê. Será um espaço de arte aplicada. Na pele, nas telas e no que mais me der vontade.
Curtiu? Amamos o trabalho dela! Acesse o site de Sue Maistro e acompanhe seu trabalho no Instagram.