Alessandro Novello é publicitário, nascido em São Paulo e atualmente trabalha como diretor de criação em uma empresa de design promocional. Casado, Alê é pai de dois filhos e super urbano, já que adora a rua. Curte mais televisão e rádio do que internet, prefere CDs a MP3, livros a eBooks, além de ser apreciador de tudo o que acontece ao seu redor e admirador de gente. “Gosto de tudo que é feito com as mãos e com amor, tipo cozinhar, cuidar de plantas, cuidar da casa, etc“.
Recentemente, Alessandro teve a vontade de fazer algo que tivesse um significado maior para ele e ao mesmo tempo, um impacto positivo nas pessoas. Foi aí que surgiu a ideia (ou a necessidade, como ele mesmo diz) de criar um projeto. Seus maiores desafios eram “o que fazer” e por onde “começar”. Uma coisa ele já tinha em mente: seria alguma manifestação artística e ao mesmo tempo urbana. Ele não queria restringir a ideia ao virtual.
Desse processo de brainstorming, nasceu o Letras Garrafais – movimento que espalha gentileza através de frases inspiradoras que saíram do papel e garrafas que não foram para o lixo nas ruas de São Paulo. Hoje Alessandro “deixa” garrafas pela cidade, com o intuito de levar um pouco mais de positividade e alegria para as pessoas.
Ele conta: “Como quase todo mundo, eu gosto de arte, poesia e caligrafia. Também gosto de escrever, sem pretensões, nem tenho competência literária ou poética pra isso, apenas expresso meus pensamentos. Claro que minha experiência profissional contribui para que as coisas tenham uma estética interessante. Então, eu precisava juntar tudo e descobrir um meio pra isso acontecer. Daí vieram as garrafas. Comecei fazendo uma para minha esposa, depois para presentear a galera da agência e logo depois comecei a distribuir nas ruas.”
Ele completa: “Eu deixo e me mando, não espero pra ver quem pegou. Prefiro ir embora com a curiosidade”. Atualmente, as garrafas não são vendidas, apesar dos inúmeros pedidos, pelo menos por enquanto. O propósito é único: fazer gentileza sem mesmo saber pra quem está fazendo. Conversamos com ele para saber um pouco mais de suas inspirações. Confira entrevista:
“Vivemos em uma época em que as pessoas estão muito duras, especialmente em cidades como São Paulo. Poucos notam o que acontece ao redor, as pequenas e belas coisas que a cidade oferece. Notei isso claramente com o Letras, muitas pessoas passam por mim ou pelas garrafas e sequer enxergam. Ou pior, algumas enxergam e têm medo que seja uma coisa ruim”.
“É legal saber que Letras Garrafais nasceu antes do Instagram. Na essência, é um projeto de gentileza urbana, ou seja, acontece fisicamente e nas ruas. Eu criei o Insta somente para que outras pessoas pudessem ser impactadas e também para estabelecer algum tipo de contato com quem achasse a garrafa.”
“Eu deixo e me mando, não espero pra ver quem pegou. Prefiro ir embora com a curiosidade. Ao mesmo tempo, fica mais forte o lance da doação. O Letras me ensinou muita coisa e uma delas é praticar o desapego. Em resumo, é um ato de gentileza com as pessoas que acham e também comigo, me ajuda a ser um cara melhor.”
“Outra coisa boa que aconteceu é que o projeto também incorporou um lance de sustentabilidade, pois eu só reutilizo garrafas que iriam para o lixo. No começo eu usava as garrafas de consumo próprio mas depois comecei a recolher garrafas pelos caminhos onde deixava uma do Letras Garrafais. Então, veio mais um tipo de gentileza, com a própria cidade. Difícil é lugar para armazenar tanta garrafa!”
FTC: O que é arte para você e como você define a sua arte?
Pra mim arte é indefinível. De qualquer forma, penso que qualquer tipo de manifestação, com algum senso estético, capaz de estabelecer alguma comunicação sensorial com a audiência é arte. Pode ser um prato de comida, uma tela pintada, um som, dança, uma projeção, enfim, qualquer coisa.
Sobre mim, é sempre muito difícil definir-se, eu demorei um pouco para considerar o que faço arte. Diante do que conheço de arte e pelas minhas influências / inspirações, eu definiria minha arte como poesia. Utilizo outros recursos associados a escrita, como a garrafa, as flores, a cidade que serve de cenário, a foto. Também gosto de brincar com o formato das letras e o duplo sentido das palavras, que é mais um recurso estético, A minha é arte para ler e para ver. Podemos dizer que minha arte é poesia. Mas eu gosto mesmo é da intervenção urbana. É na rua meu momento mais feliz. Então eu classifico como poesia urbana.
FTC: Qual material utiliza?
Garrafas usadas, Canetas spray a base de óleo (pra resistir à água), flores, papel kraft para a etiqueta e barbante.
FTC: Com o que você se inspira?
Para escrever, tudo. O que eu tô sentindo, uma notícia, uma cena, as pessoas, ás vezes uma palavra que me provoca a fazer uma frase. Como eu disse, procuro estar sempre atento a tudo que acontece ao meu redor.
FTC: Qual foi sua primeira garrafa?
A que eu fiz para minha esposa. Dizia “Boas doses do meu amor que é todo seu”. Para rua, a primeira foi “Do nada o amor te pede tudo.”
FTC: Está tocando algum projeto especial atualmente?
Com o Letras eu estou amadurecendo a ideia de uma exposição. Muita gente tem curiosidade, quer ver como são, então tô pensando em como viabilizar. Mas não tem nada de concreto, são só ideias. Também estou fazendo uma série com frases sobre as relações das pessoas com a internet. É a primeira vez que faço um tema para as ruas. Antes disso, fiz uma série de 33 peças para uma exposição sobre inclusão social. Essa sobre internet está divertida e ao mesmo tempo contundente. Logo logo estarão nas ruas.
Em paralelo tenho uma série no meu perfil pessoal que é a #retrato3x3 . Já tem umas 240 fotos, sempre de elementos repetitivos nos 9 quadrantes do Instagram. Quero chegar a 339 (3×3=9 = 339), apesar de que o Insta acabou com a historia da fotos quadradas. Também penso em fazer alguma mostra. O resultado gráfico desta série é bem legal, especialmente pra mim que sou um tanto simétrico.
FTC:Uma frase especial para ser colocada em uma garrafa;
Curto muito o título do livro do Renato Russo: “Só por hoje e para sempre”. Agora, se for uma frase minha, vai essa inédita: “Mesmo entre as letras mais apertadas existe espaço para o amor.”
FTC: 5 coisas que não consegue viver sem.
Essa é uma pergunta muito difícil! Tem tanta coisa boa! Vou responder sem filosofar, de uma forma bem prosaica! minha família (sempre! não sei ser sozinho); óculos escuros (olhos claros tem suas desvantagens); lápis (penso rabiscando); café espresso (sou apreciador e não viciado) e meu iphone (pra registrar minhas entregas).
No Facebook: Projeto Letras Garrafais.