Lançado em 1961, o 1º livro de colorir para adultos era subversivo, político e ironizava os conceitos da sociedade
Em 2015, a febre começou: era difícil entrar em uma livraria e não encontrar em uma mesa inúmeros desenhos temáticos para colorir: mandalas, cenas de cidade, padrões florais. Os editores muitas vezes afirmavam que os livros de colorir para adultos poderiam ser uma forma de meditação e um método para acalmar a ansiedade, trazer um maior bem-estar e relaxamento às pessoas.
Embora muitos os tenham considerado como uma tendência passageira, eles ainda são fáceis de encontrar. Curiosamente, pouco foi feito para provar cientificamente se a atividade têm ou não algum efeito sobre a saúde mental. Segundo estudos, os livros de colorir realmente funcionam como uma válvula de escape para rotinas estressantes. Alteram a nossa atividade cerebral e relaxam.
Duas pesquisadoras de arte-terapia, Jennifer Forkosh e Jennifer E. Drake, também realizaram pesquisas que confirmam os benefícios emocionais de desenhar; elas também se perguntaram se colorir teria a mesma eficácia benéfica semelhante. A resposta é sim.
Mas essa história é mais antiga do que imaginamos. Segundo o Smithsonian, o conceito de livros de colorir para adultos não é exatamente novo. A ideia surgiu na década de 60, quando as livrarias explodiram com esse tipo de venda. A diferença é o fato de que os temas eram adultos em conteúdo e forma – satíricos e subversivos, ofereciam um olhar que ironizava os conceitos da sociedade, principalmente a americana.
Página do livro The John Birch Society Coloring Book
OS 1º LIVRO DE COLORIR PARA ADULTOS
O 1º livro de colorir feito especialmente para adultos, chamado The Executive Coloring Book, foi publicado em 1961, seguido do título The John Birch Society Coloring Book. Assim como eles, muitos outros títulos similares ridicularizavam o conformismo, o trabalho, John F. Kennedy e a União Soviética.
E, no entanto, ao contrário dos que estão nas prateleiras hoje, estes não foram criados com a intenção de serem coloridos como relaxamento – não da maneira como conhecemos hoje.
Página do livro The Executive Coloring Book
É só vermos as páginas. Em The Executive Coloring Book, temos um executivo se preparando para o seu dia de trabalho com a legenda “Este é o meu terno. Ou visto cinza ou vou perder meu emprego”.
Em outra página, uma fila de executivos idênticos embarcam em um trem. Batendo o ponto, a legenda traz um “Este é o meu trem. Me leva ao escritório todos os dias. Você conhece muitas pessoas interessantes no trem. Pinte-os todos de cinza”.
A maioria dos desenhos descrevem um mundo adulto sombrio e implacável. Ao invés de vender bem-estar, relaxamento e calma, o livro de colorir para adultos dos anos 60 estavam “engajados” na política, falavam sobre a cultura corporativa, traziam ironias, teorias da conspiração, medos e comunismo.
A ideia não fez tanto sucesso na época que nem nos dias atuais. “A maioria dos adultos parecia satisfeito ao dar uma risada com o livro”, escreveu Milton Bracker para o New York Times em um artigo de 1962 sobre a popularidade no segmento. “Mas houve muitas vendas múltiplas – algumas pessoas compraram várias cópias para presentear amigos”.
Bracker acrescentou que durante a sua análise ele encontrou apenas um adulto que admitiu colorir o livro, com a ressalva de que o homem trabalhava em uma empresa que fabricava lápis de cor.
A 1ª onda morreu na década de 1970, mas a tendência tentou se levantar novamente várias vezes durante os anos 80 e 90. Porém, o livro de colorir político nunca tornou-se popular. Até passarem pela transformação editorial em 2015.
O fantástico é que até hoje você encontra esses títulos para comprar pela web.
Já pensou se, na atual circunstância do país, o livro de colorir para adultos retomasse como tema a consciência política? Aí sim a moda voltaria mais uma vez para ficar.
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