Fab Labs: um lugar para criar (quase) tudo

Claudia Bär é designer de produto e especialista em inovação. Embora esteja mais inclinada à pesquisa, sonha em um dia voltar a criar coisas com as suas próprias mãos e assim unir suas grandes paixões.  

Na primeira vez que a Carol me convidou para escrever aqui no Follow eu fiz uma breve análise das ilustrações da Rikka Sourmunen. A ideia era convidar as pessoas para refletirem um pouquinho mais sobre o trabalho da artista e quem sabe levar esta prática adiante em outros momentos.

Na época eu estava bastante envolvida com pesquisa em artes e design. O tempo passou e agora estou mergulhada em outro universo: a cultura maker.

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(Imagem: Jude Landry para Tattly)

Alguns dizem que este movimento começou nos Estados Unidos e na Europa. Eu já acho que ele sempre esteve presente em todos os lugares. A diferença é que agora temos novas tecnologias ao nosso alcance que nos permitem não apenas criar, mas também compartilhar nossas invenções.

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Na direita, a MakerBot Thing-O-Matic, uma das impressoras 3D mais conhecidas. Na esquerda uma máquina CNC em ação numa exposição em Londres sobre a 3ª Revolução Industrial

Tema de controvérsias, as tão faladas impressoras 3D são uma delas. Há aqueles que se preocupam com a perda de direitos autorais e questões éticas, outros já acham o máximo poder dividir suas ideias e acreditam que a finalidade desta ferramenta (assim como qualquer outra) está no uso que damos para ela.

Não vou entrar nesta discussão agora. Contudo, indico que você assista esta entrevista (em inglês) com o Henry Chesbrough, criador do termo “inovação aberta“, e leia também o livro Makers do Chris Anderson, editor-chefe da revista Wired e fundador da 3DRobotics, que fala sobre a 3ª Revolução Industrial – momento pelo qual estamos passando agorinha mesmo!

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Na esquerda, Stag Sculpture por Fabneo. Na direita,peça de alta costura criada por Iris Van Herpen

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Exoesqueleto criado por Jake Evill para substituir os gessos convencionais.

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Forminhas de biscoito disponíveis para download no Thingverse

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Prótese de mão (Robohand) desenvolvida por Richard Van As. 

É aí que surgem os Fab Labs, uma rede mundial de laboratórios de fabricação digital proposta por Neil Gershenfeld, professor do MIT (Massachusetts Institute of Techlonogy) e diretor do Centre os Bits and Atoms.

Tudo começou em 1998 (pasmem!) quando o Neil começou a lecionar uma matéria que todo mundo sempre sonhou em ter: “How To Make (almost) Everything”. A princípio o curso era apenas para um pequeno grupo de alunos, mas, para a surpresa de Neil, centenas deles apareceram.

O professor, então, percebeu que a maior motivação destas pessoas era produzir aquilo que elas sempre sonharam, mas que nunca existiu. O prazer estava em fabricar as coisas com as suas próprias mãos, em criar com o coração. Ele também notou que esta era uma necessidade global e assim nasceram os Fab Labs.

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(Ilustração Tad Carpenter)

Hoje já podemos encontrar centenas deles pelo mundo, todos seguindo os mesmos princípios: fabricação digital, compartilhamento do conhecimento e design open source (aberto e compartilhado).  Nos vídeos abaixo, Gershenfeld explica como os Fab Labs funcionam e seu impacto para a indústria.

Aí você se pergunta: “mas isso já existe no Brasil?”. A resposta é: SIM! o/ Por aqui temos a Associação Fab Lab Brasil, que quer divulgar a ideologia da rede e também auxiliar as pessoas à criarem seus Fab Labs. Porém, se você não faz o tipo empreendedor e mesmo assim gostaria de abraçar a causa, pode se tornar um membro e frequentar os laboratórios.

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Workshop de impressoras 3D no Garagem Lab em agosto deste ano.

Existem 2 deles em São Paulo: um na USP, vinculado à universidade; e o outro no Centro da cidade, chamado Garagem Lab. Nestes dois espaços os estudantes, profissionais autônomos, empresas e a comunidade local podem trabalhar lado a lado e desenvolver seus projetos, utilizando impressoras 3D, fresadoras CNC e outras ferramentas. Dá só uma olhadinha nesse vídeo onde a Heloísa Neves, diretora da Associação Fab Lab Brasil, fala sobre a chegada deste modelo no nosso país.

Se você não mora em SP não precisa ficar triste. A tendência é que cada vez mais cidades brasileiras se juntem ao time mundial de Fab Labs. Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Florianópolis são apenas algumas que prometem lançar seus laboratórios em breve. Saiba mais aqui.

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À direita, teste de impressão da Luxo Lamp. À esquerda o Fab Lab Kids, projeto educacional desenvolvido pela Associação Fab Lab Brasil.

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fab lab sp 2 Imagens: Fab Lab Brasil

Dito tudo isso, aposto que você ficou com um brilho nos olhos. “Quer dizer que aquela ideia que eu tive e ninguém deu bola finalmente pode se tornar realidade?” É isso mesmo, meu amigo! Os Fab Labs são apenas um dos indícios de que o movimento “fazedor” veio para ficar. Pode ter certeza que daqui para frente muita coisa vai mudar. Principalmente em relação ao modo como produzimos e consumimos as coisas.

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