Rio Invisível traz emocionantes histórias de moradores de rua
“Meu nome é Paulo e tenho meia cinco. É a primeira vez que tô sentado aqui nesse lugar. Eu tinha uma casa na Zona Oeste, mas deixei de pagar o aluguel por um dia e a moça colocou um cadeado. Não pude mais entrar. Já morei em Ipanema também. O meu irmão alugou o apartamento e ficou de me dar a metade do dinheiro – isso nunca aconteceu. Eu tô botando ele na justiça, mas já faz muito tempo. Acho que não vou voltar a morar lá. ”
Por trás de cada pessoa, uma história. É isso que Humans of New York vem para nos lembrar. E inspirado na iniciativa, muitos projetos surgiram. Uns super interessantes, outros nem tanto. Rio Invisível está na parte daqueles que são incríveis, já que nos faz parar para pensar nas pessoas que vivem à margem da sociedade. Nos que são “invisíveis”.
A ideia que começou no Facebook traz emocionantes relatos sobre moradores de rua do Rio de Janeiro. O publicitário Nelson Pinho e a jornalista Yzadora Monteiro querem que a iniciativa seja um exercício diário para enxergar a vida pelas ruas da cidade e redirecionar o olhar para os que estão ali. “O que a gente gostaria mesmo é que essa página não existisse. Falo isso numa visão utópica de que um dia essa realidade não exista mais”, diz Nelson.
Só no Rio são 5.580 cidadãos nessa situação. A maioria fica feliz com a possibilidade de conversar e ser ouvida. Outros, não topam participar, pois não querem ser encontrados pela família.“Sempre que a gente aborda alguém, nenhum deles pede dinheiro ou outra coisa. O que eles querem mesmo é poder se expressar”, diz Nelson.
O melhor de tudo? Ver que muita gente já demonstrarou interesse em oferecer algum tipo de ajuda aos personagens reais apresentados. Plantemos o bem, para colhermos o bem sempre.
“Pode me chamar de Valéria. Ih, nem sei minha idade direito. Eu tô por fora. Tá quente, né? Daqui a pouco esfria, anoitece. Saí de casa bem nova, aconteceu muita coisa e vim morar na rua. Já sofri e vi muita gente sofrendo. Já usei droga. Droga não, remédio. Na mente da gente funciona como se fosse um remédio. Moro por aqui mesmo já tem um tempinho. Aqui é um lugar bom, sabe? Ainda mais quando a gente começa a lembrar das coisas, fica melhor ainda. Mas só adianta lembrar, não muda nada.”
“Meu nome é Jorge. Toma esse livro aqui. Eu tô com ele há 3 meses e já li várias vezes. Abre na primeira página e vai lendo. Mas deixa a última frase pra mim. U com M dá o quê? Continua até a próxima página e vai até a primeira pergunta. De lá, eu sigo. ‘O que’ indica a primeira pergunta.”
“Pode sentar sim. Meu nome é Márcio, mas sou conhecido como Xangô. Tenho 30 anos, sou de São Paulo e vim para o Rio há 16 por causa de uns parentes. Mas parente não é família, né? Não é a mesma coisa. Eles sabem que estou morando na rua, mas não dá em nada. Eu ando sozinho. Fiquei preso por 10 meses, mas era inocente. Sou inocente. Fui perseguido e, ao invés de me levarem para a delegacia, já me prenderam direto. Um dia eu estava voltando da pizzaria que eu trabalhava e vi um monte de moleque correndo. Corri junto, sem entender. Uma viatura parou e me prendeu”.
“Meu nome é Lucélio, mas as pessoas me chamam de Célio. Eu tenho 44 anos, nem parece, né? O segredo são duas esposas. Os nomes dos meus cinco filhos começam L, de liberdade. Quero que eles sejam livres. Eu vim de Pernambuco pra cá quando tinha 1 ano. Então, sou mais carioca do que pernambucano. Tenho uma casa alugada no Andaraí e em Angra dos Reis. Quero comprar uma em Muriqui, lá é muito legal – conhece? Mas às vezes durmo na rua sim, não vou mentir pra você. Peço uma comida ali e tal, mas isso não é vida. Não repara meu pé sujo não, tá? Aqui não tem nem água pra gente se lavar direito.”
“Meu nome é Estefany, eu tenho 16 anos. Vim morar na rua aos 10, quando meus pais foram assassinados. Assim que cheguei aqui, eu tinha medo de dormir, mas hoje não tenho mais. Na rua a gente não tem amigo, e sim colegas achegados, rola muita falsidade. Só dá pra confiar em si mesmo.”
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