As tatuagens do sistema carcerário Russo de Alan Crisogano
A Rússia possui a maior população encarcerada do mundo e seus prisioneiros possuem tatuagens com muitas simbologias complexas. Há diversas informações interessantes, explicações sobre o que representam e até histórias bizarras sobre as técnicas improvisadas. E é exatamente isso que faz Alan Crisogano ter total interesse pelo assunto.
Alan é tatuador em São Paulo, fã do estilo clássico, mas tem um enfoque diferenciado. Nos últimos dois anos, se dedicou a estudar os desenhos e a cultura da tatuagem do sistema carcerário da Rússia e desenvolveu postais com ilustrações únicas – todos feitos à mão.
A estética do artista traz um universo original representado por tradicionais cúpulas, cabeças de gatos, objetos militares, mulheres, caveiras. Mas como começou esse interesse? Como Alan tem essas inspirações?
Conversamos com o artista para saber um pouco mais sobre. Veja a entrevista!
FTC: Queria que você falasse um pouco sobre você, contasse o que fazia antes e como foi parar no mundo da tatuagem.
Alan: Antes de se interessar pela tatuagem, eu trabalhava com uns amigos em uma cidade do interior. Depois, fui para a empresa do meu pai e trabalhava como boy interno, mas sempre gostei muito de desenhar e de tatuagem.
Eu escutava umas bandas de metal e rock, e comecei e reparar nas capas de discos com o visual mais hardrock como AC/DC, Kiss e Guns N Roses, além das tatuagens que os próprios integrantes estampavam no corpo.
Com 19 anos, conheci um casal de tatuadores que me ensinaram bastante coisa. Eu então fiquei como assistente do estúdio deles, montando agenda, era responsável pela assepsia, esterilização. Ali, fui conhecendo um pouco mais sobre os diferentes estilos, como atender um cliente e etc. Hoje você pode me encontrar em São Paulo, no estúdio True Love Tattoo.
FTC: Como começou a se pesquisar sobre as tatuagens do sistema carcerário Russo?
Um amigo me mostrou um dos livros que documentam esse trabalho – Russian Criminal Tattoo Encylopaedia. Ele me mostrou um deles – são 3 volumes – e eu fiquei encantado pela questão política/social que envolve as artes que eles faziam, pela precisão de detalhes e como na cadeia, eles conseguiam desenvolver desenhos tão lindos como catedrais, rostos femininos, dentre outras coisas, além da história de como era designado cada tatuagem para cada detento.
Eles não podiam tatuar o que quisessem, tatuavam o que mereciam. Se fosse um ladrão de banco tinha X desenho, se fosse um estuprador tinha Y, e assim por diante.
FTC: Qual a curiosidade mais legal que descobriu sobre elas em suas pesquisas?
Alan: Hmmm… Olha, é meio complicado essa coisa de curiosidade. A história, o significado e o desenho que eles tem são de uma conexão muito complexa. Mas confesso que fiquei bem chocado em saber que eles tatuavam coisas como suástica nazista apenas por serem contra o comunismo, e não necessariamente serem a favor do nazismo.
FTC: Com o que você se inspira?
Alan: A inspiração vem de muitos lugares. Eu toco bateria em 2 bandas – Gattopardo e Cadáver em Transe – então a música é algo que tá sempre presente na minha vida. Alguns artistas e livros. A arte japonesa – como Kyosai, Yoshitoshi, Kuniyoshi – até pintores do século 18 como Renoir, Degas, Van Gogh. E passando obviamente pela tatuagem tradicional, Sailor Jerry, Spider Murphy, dentre muitos outros.
Os trabalho de amigos também me inspiram muito – Rick Pacchini, Jeizel Seidy, Hugo HAB, Thiago Abel, Edmar Santos. Apesar de tudo isso, naturalmente meu estilo acaba saindo sempre com a minha cara.
FTC: Qual foi sua primeira tatuagem russa em um cliente?
Alan: Eu não lembro muito bem, mas imagino que foi uma cabeça de gato. Nas prisões, gato é tatuagem de ladrão, batedor de carteira mais especificamente.
FTC: 3 sites que definem um pouco de você.
Alan: Russian Criminal Tattoo – esse site eu gosto porque tem bastante informação, não só apenas sobre tatuagem da cadeia russa, mas também vídeos e fotos sobre o que acontece no país. As imagens tem créditos de confiança, contam se a tatuagem foi feita mesmo na cadeia, seus significados e algumas informações que não encontro nos livros.
Nada Nada Discos – esse é um selo aqui de São Paulo, que lança bastante banda legal, tanto do Brasil quanto de fora e re-lança alguns clássicos como Anti-Cimex, Colera X, Ratos de Porão, Olho Seco e etc.
Wind Horse Tattoo – eu gosto desse site pela conexão entre a música com tatuagem, além do que, os 2 tatuadores do estúdio são extremamente artísticos e deixaram o site com uma cara bem séria, o que diz muito do trabalho deles também.
FTC: Uma frase que você carrega para a vida.
Alan: Eu não sei… Nunca tive um lema, ou frase que me comove. Pra mim, as palavras perdem o sentido meio rápido. Mas, se puder ser um desenho, caveira é algo que eu gosto bastante! hahaha.
No Tumblr: Alan Tattoo. Para tatuar com Alan, True Love Tattoo em São Paulo.