Birdman e a era de Hollywood que premia quem a critica
Na era em que os filmes de super-heróis precisam de altas doses de realidade para atrair grandes públicos, confesso que “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” me causou uma certa confusão. Não por ser um filme de super-herói, que apesar do nome, não é. Mas sim, por ser um drama que abusa da ficção para fazer uma crítica da própria indústria Hollywoodiana, que na semana passada, usou de uma inesperada virtude ou da mais pura ignorância para elegê-lo o melhor filme deste ano.
“Birdman” pinta o retrato de como essa indústria pode ser devastadora para os seus funcionários, os artistas. O papel principal parece ter sido escolhido a dedo para Michael Keaton. Ator de sucesso no final dos anos 80 e início dos 90, ele teve o seu ápice como o homem-morcego nos dois filmes do Batman dirigidos pelo genial Tim Burton.
Keaton, encarna nessa versão análoga e fantasiosa de sua própria carreira, um tal de Riggan Thomson que há 20 anos fez fama interpretando o herói homem-pássaro, e atualmente, falido e esquecido pelos grandes estúdios, tenta provar que realmente é um bom ator e não apenas uma celebridade, ao escrever, atuar e dirigir uma peça de teatro na Broadway.
Riggan passa o filme se arrependendo e tentando se redimir dos pecados passados causados pelo seu ego, ao mesmo tempo em que implora para tê-lo inflado novamente. “Birdman” não é um filme convencional e se torna muito mais fácil de ser assimilado se você conhece de alguma forma o universo artístico. Não é um blockbuster como “Titanic” ou ”Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei” que levaram a estatueta de melhor filme para a casa, com uma história mais simples e grande espetáculo visual.
Tecnicamente, a ideia do diretor Alejandro Iñárritu em fazer um filme inteiro com uma câmera incansável, que persegue seus personagens em planos (quase sempre) fechados ou mostram a visão deles em 1ª pessoa, gera uma certa claustrofobia visual e acaba exigindo bastante do elenco (não à toa que a maior parte foi indicada ao Oscar), mas também torna o filme ágil e nos prende a atenção.
Assim como o belo não existe sem o feio, “Birdman” pontua que virtude e ignorância, apesar de antagônicas, são totalmente complementares. Só devemos ter cuidado para não sermos engolidos por qualquer uma delas. Veja o trailer: