Nando Zevê cria tattoos fantásticas de seus desenhos autorais e linhas estilizadas
Nando Zevê é um artista inquieto, tatuador profissional, ilustrador e também trabalha com algumas intervenções urbanas. Nasceu em Recife, mas passou boa parte de sua infância e adolescência veraneando na praia da Catuama no litoral norte de Pernambuco.
Foi lá que ele começou a sua relação íntima com o mar. No final de 2012, Nando iniciou um projeto chamado #peixeforadagua, no qual o artista produz cartazes artesanais em formatos de peixe e cola nas paredes das cidades por onde passa. Além do Brasil, Toronto (Canadá) e Nova York (EUA) já ganharam suas cores.
Recentemente, muitas pessoas começaram a procurá-lo para tatuar suas criações. Desde 2011 o artista vem se aperfeiçoando. Trabalhou durante 3 meses no Lucky 13 Tattoos em Toronto, e atualmente tem seu próprio studio na Galeria Joana D’Arc, no bairro do Pina, na cidade do Recife.
Nando Zevê cria tattoos autorais fantásticas, com linhas estilizadas, traços finos e sketches, que falam sobre sua relação com a natureza, com os animais, seres e com a água salgada. Conheça um pouco mais sobre o seu trabalho:
FTC: Queria que vc falasse um pouco sobre você com as suas palavras, contasse o que fazia antes e como foi parar na tatuagem.
Eu desenho desde muito pequeno, meu pai de certa forma me incentivava, lembro dele rabiscando algumas coisas pra que eu pudesse pintar depois e também de um livro ensinando a desenhar animais. Eu devia ter entre 5 e 7 anos nessa época, passei pela fase de desenhar as coisas que via na TV, cinema, as Tartarugas Ninja, Robocop, Cavaleiros do zodíaco e por aí vai. Lembro de um desenho dessa época, fiz depois de assistir o filme Mad Max, é um cara de perfil com brinco de cruz e uma tattoo de águia no rosto, aquilo já mostrava que eu curtia tatuagem.
Porém, eu só vim aprimorar mesmo meu desenho depois que comecei a estudar. Em 2002 eu fiz um curso de desenho no SENAC – PE e em 2003 ingressei na UFPE no curso de artes visuais, lugar onde eu aprendi um monte coisa, vivenciei pintura, gravura, modelagem em argila e foi lá também que eu conheci um tatuador que me disse como comprar meu material. Comprei tudo pela internet, já que nessa época não tinha loja de material aqui em Recife, e então comecei a aprender na vontade mesmo. A primeira cobaia fui eu mesmo, tatuei minha perna.
No meio do curso de artes visuais eu fiz alguns cursos de extensão e dentre eles teve um muito bom de desenho com um artista chamado Renato Valle. Nessa época, eu engatinhava nas tattoos e também fazia alguns trabalhos autorais mais na área de arte contemporânea. Cheguei a aprovar trabalho em edital no Instituto de Arte Contemporânea da UFPE – IAC, participei de algumas exposições coletivas e também da semana de artes visuais do Recife SPA das Artes.
Em 2007 eu já não aguentava mais a chatice da arte conceitual, queria mergulhar mais nas tatuagens e então abri um estúdio com um amigo, lá que rolou toda experimentação, tatuei todas as pimentinhas, borboletinhas, estrelinhas e coisinhas possíveis. A gente tentava ser o mais profissional possível, mas eu era muito pirralho e não era tão dedicado quanto hoje em dia! Se você quer ser um bom tatuador tem que se dedicar quase que exclusivamente a isso, exige muita responsabilidade.
Em fevereiro de 2011 eu fui parar na Galeria Joana D’Arc, um espaço que tá completando 25 anos esse ano e que foi dos pontos de encontro da galera do movimento manguebeat. Nesse lugar tem vários restaurantes funcionando, lojas de designers, escritórios de arquitetura, por isso, sempre tem muita gente interessante circulando por lá. Foi a partir daí que eu comecei a ver a possibilidade de unir a tattoo com os meus próprios anseios criativos, eu sabia que lá eu ia encontrar um público que estivesse interessado numa proposta mais experimental. Passei 3 anos e meio tatuando lá, fiz muita coisa bacana, inclusive foi lá dentro desse estúdio que surgiu o primeiro lambe-lambe do projeto #peixeforadagua.
FTC: Como você define a sua arte?
É difícil definir a minha própria arte, até porque ela é algo que tá sempre mudando e de certa forma evoluindo. Eu estou sempre experimentando diferentes suportes e técnicas, e a tatuagem é um desses campos de experimentação. Além de tatuar na pele de clientes, eu já tatuei em pele de bode, papel, frutas, e até em um peixe de verdade.
Eu sempre me empolgo muito quando eu tenho uma ideia pra um trabalho novo, sempre que faço o primeiro trabalho de uma série geralmente é ele que mais me dá prazer. Em toda a minha vida a única coisa que eu comecei e não larguei foi a arte e tenho certeza que vou morrer velhinho desenhando.
FTC: Com o que você se inspira?
Eu me inspiro na vida, no cotidiano, me inspiro em um monte de artista foda que tem pelo mundo todo, desde os grandes mestres do passado até os de agora. Me inspiro muito na música também, Bob Marley principalmente. Me inspiro muito na natureza, nas flores, animais, principalmente os que vivem no mar.
Na minha concepção, artista é aquele que tem uma sensibilidade aguçada, um olhar diferente para o mundo, e por isso eu estou sempre buscando fazer algo assim, visitar um lugar novo, ir num museu, galeria, ir no ateliê de um amigo, ler livros, ver filmes. Minha inspiração vem de estímulos diversos, então na hora de criar eu só faço juntar as referências.
FTC: Qual foi sua primeira tatuagem em um cliente?
Minha primeira tatuagem em cliente foi uma carpa na costela, hahahaha, um desastre, feita no terraço da casa da minha mãe. O cara estava deitado no chão bebendo e eu fiz tudo feito como se não devia. Eu sempre fui muito ansioso e pular as etapas era uma coisa que sempre acontecia comigo. Os tatuadores mais antigos não tinham tempo, nem paciência pra me ensinar e por isso decidir aprender na tora!
Depois de alguns anos, eu descobri que eu coloquei a vida de um monte de gente em perigo, mas ainda bem que nada de grave aconteceu, fora umas tattoos cagadas circulando por aí! Pra compensar isso, eu penso em realizar uns mini cursos de tattoo, já fiz isso em Fortaleza à convite do Acidum Grupo. Durante uma semana eu compartilhei conhecimento prático e teórico com 10 artistas plásticos que queriam aprender a tatuar, todos eles aprenderam como montar uma bancada, tatuaram em suportes alternativos e finalmente tatuaram em gente de verdade, foi massa a experiência!
FTC: Está tocando algum projeto especial ou específico atualmente?
Atualmente eu tô focando em tatuar somente meus próprios desenhos. Acredito que já passei a fase de trabalhar com trabalhos comerciais, o que quero mesmo agora é continuar trabalhando num portfólio autoral bem forte e começar viajar um pouco aqui dentro do Brasil mesmo. Ano passado em julho, eu fui morar na cidade de Toronto no Canadá e passei 3 meses somente estudando inglês pela manhã e o resto do dia em casa só desenhando.
Nessa época, eu comecei a explorar mais o meu trabalho com linhas, esse é o meu melhor fundamento na tattoo. Eu comecei a estudar texturas e comecei a produzir desenhos que eu curto tatuar, felizmente as pessoas estão gostando bastante do que venho fazendo e já começam a me procurar pelo meu próprio estilo. Lá mesmo em Toronto quando eu trabalhei no Lucky 13 Tattoos eu comecei a tatuar algumas coisas dentro desse meu estilo, e isso foi muito gratificante.
Além das tattoos, eu estou sempre fazendo algo diferente. No mês de março, eu fiz uma exposição na UrbanArts Recife com trabalhos da série Adorno de Maré que eu produzi lá em Toronto também. Vou fazer uma segunda edição dessa mesma exposição no Roda Café, um espaço bem bacana que fica aqui no Recife Antigo. Estou com quase tudo pronto pra lançar a minha loja virtual onde vou vender pôsteres e originais, tanto coisas relacionadas ao projeto #peixeforadagua quanto umas gravuras que eu faço.
E agora em maio eu estou de mudança novamente. Vou inaugurar um estúdio novo na Galeria Joana D’Arc, que montei lá em 2011 eu precisei fechar por conta do tempo que passei morando no exterior. Esse novo espaço vai ser totalmente diferente do que era antes. Vai ter mais cara de ateliê, vai ser bem mais intimista, sem vitrine, agora vou trabalhar escondidinho!
FTC: Uma frase que você carrega para a vida.
Posso trocar a frase por uma palavra? A palavra é Respire. Já tatuei ela em mim, pra eu me lembrar de prestar atenção na minha respiração. Isso me mantém calmo quando preciso e menos ansioso também!
FTC: 5 coisas que não consegue viver sem.
Não consigo ficar muito tempo longe do mar, sem desenhar, sem escutar música, não consigo ficar quieto e nem satisfeito com o meu trabalho.
No Facebook: /zvtattooartist. No Instagram: @nandozeve. Saiba mais sobre o Projeto Peixe Fora D’água.