Estudante faz série fotográfica sobre o período menstrual para retratar o íntimo feminino e autodescobrimento
Estudante de Desenho Industrial na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Ana Clara Tito, de 23 anos, começou a série fotográfica “That Thing that happens every month” (‘Aquela coisa que acontece todo mês’) no final de seu intercâmbio na York University (Canadá), em 2014, onde cursou Artes Visuais. O intuito era o seguinte: retratar o íntimo feminino de maneira natural, sem vergonhas ou firulas.
“Foi quando eu levei mais a fundo e talvez mais radicalmente essa minha vontade, que era com certeza para chocar um pouco, mas principalmente para questionar o porquê algo como o cotidiano de uma mulher menstruada espanta algumas pessoas”, explica.
Ana Clara, então, seguiu seu próprio período menstrual: “Só fotografei o que foi acontecendo pelos meses, sempre me preocupando com o tom do que mostrava, tentando manter uma delicadeza visual e um ar intrigante”.
Quando voltou do intercâmbio, no início de 2015, ela estava ansiosa para continuar o trabalho: “As fotos falam sobre o que estava acontecendo em mim. Uma das coisas que borbulhou foi reconhecer-me como ser emocional, indivíduo com sentimentos.”
Misturando novas descobertas, a readaptação de sua volta e um término de relacionamento, ela criou uma outra série, “Pink Affair”, onde explora momentos de solidão, melancolia e autodescobrimento.
“Durante muito tempo eu fui a garota que odiava rosa, coisas muito fofas e cheias de brilho por serem, na minha opinião, símbolos de um estereótipo feminino. Gostava de ter amigos homens e de mostrar que não era fresca. Eventualmente isso veio contra mim e uma casca se quebrou”.
“Quando eu comecei as fotos, estava passando por aquela situação na qual parte de você, e também a sociedade, diz que está sentido demais, pedindo demais dos outros, sendo dramática, emocional, e outras coisas que mulheres muitas vezes têm que ouvir. Precisei de um tempo para perceber que eu tenho o direito de sentir sim, de ser tratada com respeito e também de demandar isso”, explica.
Além disso, a estudante afirma que a série documentou seu processo de aceitação e “empoderamento”, colocando tudo que estava em si em fotos nas quais o rosa e o floral são predominantes.
“Essa série tem uma carga emocional muito grande para mim, isso passa despercebido para a maioria das pessoas”. Ana explica que a reação mais comum é perguntarem se o sangue de “That thing that happens every month” é real.
Além disso, percebeu que pessoas mais novas têm um envolvimento maior com a série de fotografias. “A última foto que fiz foi numa manhã, com o céu as minhas costas e o rosa envolvendo o meu rosto – minha mente. O rosa tinha vencido”, finaliza ela, que até os cabelos tingiu da mesma cor.
Sem a ajuda de terceiros para os cliques, Ana Clara Tito relaciona em suas séries, de maneira fantástica e delicada, a feminilidade, os estereótipos de gênero e os estados mentais e emocionais – de todas as mulheres.
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