Louise Bourgeois nasceu na cidade de Paris, na França, em 1911. Filha de uma família de restauradores de tapeçarias, desde cedo ela se envolveu nas atividades da galeria onde os pais comercializavam as peças. Isso a permitiu desenvolver práticas como o desenho e a costura, por exemplo.
A artista enfrentou episódios traumáticos durante toda a infância. Seu pai lutou pelo exército francês durante a 1ª Guerra Mundial, teve casos extraconjugais e sua mãe sofreu com prolongadamente por ter contraído gripe espanhola, da qual nunca se recuperou completamente.
“Minha infância nunca perdeu sua magia, nunca perdeu seu mistério e nunca perdeu seu drama“, ela disse certa vez. “Todo o meu trabalho dos últimos cinquenta anos, todas as temáticas que trabalhei, encontraram inspiração na minha infância“, conclui.
Todos esses episódios se refletiram em sua produção artística. Segundo a Fundação Iberê Camargo, ela “usou suas emoções como matéria-prima da sua obra, percorrendo temas como a sexualidade e a memória”.
No início da década de 1930, Louise estudou Matemática e Filosofia na Universidade Sorbonne, em Paris. Mas depois da morte de sua mãe, em 1932, começou a se dedicar ao estudo da Arte.
Em 1938, começou a exibir impressões e pinturas, e abriu a própria galeria em uma área separada do showroom de tapeçarias do pai. Conheceu o historiador Robert Goldwater, com quem se casou e se mudou para a cidade de Nova York no mesmo ano. Nos Estados Unidos ela continuou estudando Arte, com foco na gravura e pintura, e também teve três filhos.
A artista faleceu em 2010, aos 98 anos de idade, deixando inúmeros trabalhos e textos dos quais foram extraídas as quatro lições de “como ser um artista” segundo ela. Acompanhe a seguir.
COMO SER UM ARTISTA? POR LOUISE BOURGEOIS
LIÇÃO 01: FAÇA ARTE SOBRE A SUA VIDA
Nas inúmeras entrevistas, ensaios e anotações que formam o registro escrito de sua obra, Bourgeois defendeu que a Arte e a vida eram uma só. “Arte não é Arte. A arte é sobre a vida, e isso resume tudo”, declarou ela.
Todos os elementos das composições de Louise surgiram a partir de detalhes de sua vida. Os cabelos amarradas em nós representam seus estados emocionais variáveis, por exemplo. Já as árvores são metáforas para seus filhos e sua responsabilidade sobre eles.
Em uma série de gravuras do início dos anos 2000, intitulada The Laws of Nature, ela resume sua experiência de amor e casamento. O resultado é uma mistura de prazer, dor, socorro e abuso.
LIÇÃO 02: ENCONTRE INSPIRAÇÃO EM TODA A NATUREZA, INCLUINDO NAS ARANHAS E LARVAS
Um dos principais elementos da natureza utilizados por ela foi a aranha, que começou a aparecer em seus desenhos e gravuras a partir da década de 1940. Com o passar dos anos elas foram se tornaram uma presença frequente em seu trabalho. Bourgeois as enxergava como seres protetores, inteligentes e inventivos, características que ela admirava em sua mãe.
Em entrevista, a artista explica a existência de dois temas nas obras em que ela representa os aracnídeos: “A aranha é protetora, a nossa protetora contra os mosquitos. […] A outra metáfora é que a aranha representa a mãe. A minha mãe era a minha melhor amiga. Ela era inteligente, paciente, tranquilizadora, delicada, trabalhadora, indispensável e, sobretudo, ela era tecelã – como a aranha. Para mim, as aranhas não são aterrorizantes”, complementa.
LIÇÃO 03: REVISITE O MESMO TEMA DIVERSAS VEZES (MAS TAMBÉM CONTINUE EXPERIMENTANDO)
Louise fazia o uso repetido de imagens, formas abstratas e cores. “Há um desenvolvimento. A repetição de uma imagem e de outra imagem… Significa que o que você não pode dizer em palavras, tenta colocar em termos visuais”, ela refletiu uma vez.
“Você tem que repetir e repetir; caso contrário, as pessoas não entenderão do que você está falando“. O uso da repetição também a fez aprender a lidar com questões pessoais antigas, revisitando traumas específicos e duradouros da infância.
A francesa esculpia em madeira, mármore e, mais provocativamente talvez, látex, entre outros materiais. Ela fez impressões usando diferentes técnicas, experimentando vários papéis e às vezes incrementando as composições com guache, aquarela e lápis.
LIÇÃO 04: NUNCA PARE DE PRODUZIR ARTE
Nos anos 90, quando Louise Bourgeois tinha mais de oitenta anos, ela lançou novos trabalhos. Entre eles esculturas de aranhas e instalações semelhantes a salas, que ela chamava de “células“. Na mesma década, quando sua visão começou a falhar, em vez de desistir de sua produção de gravuras, ela aumentou o tamanho das chapas para poder vê-las melhor e passou a utilizar materiais mais fáceis de manusear.
Com cerca de um metro e meio de altura, as muitas impressões que ela produziu nos últimos quatro anos de vida mostram a resistência de uma artista que parecia ter acabado de começar sua carreira. Segundo o Artsy, “a morte (2010) foi a única coisa que finalmente a impediu de fazer arte”.