Com o intuito de gerar reflexões sobre a política e a sociedade, o artista americano Fred Tomaselli escolheu as capas do jornal The New York Times pra receber suas pinturas com toques surrealistas.
Nascido na cidade de Santa Monica, na Califórnia, o artista é conhecido por suas pinturas e colagens com materiais pouco convencionais, que cria resultados fantásticos. Aos 64 anos de idade, ele vive e trabalha atualmente na região do Brooklyn, em Nova York, e explora a realidade mostrada na mídia impressa com o objetivo de chamar atenção para as questões da contemporaneidade.
A INFLUÊNCIA DOS ANOS 70 NA OBRA DE FRED TOMASELLI
Segundo o ArtNet, Tomaselli cresceu na cultura repleta de drogas dos anos 1970 na costa oeste americana, antes de se mudar para Nova York, onde ingressou na comunidade artística local.
Ainda na década de 70, ele viajou durante dois anos de carona pelos Estados Unidos fazendo estudos de campo, desenhos ao ar livre e aquarelas de casas e paisagens. Ele inclusive revelou ao Hyperallergic que as pessoas às vezes paravam na estrada e ele vendia alguns trabalhos pra elas.
O americano se formou em Pintura e Desenho na Universidade do Estado da Califórnia, em 1982, e sua primeira exposição foi dois anos depois, em 1984. Desde então ele não parou mais de expor, e já exibiu suas obras em países como o Canadá, Austrália, Reino Unido, Alemanha e Japão, por exemplo.
Tomaselli cita o clima dos anos 80 da cidade que nunca dorme como inspiração para os seus trabalhos. Ele incorpora diversos materiais em obras “brilhantes e cintilantes que combinam imagens naturais e padrões surreais, misturando o natural e o artificial”.
SURGIMENTO DA SÉRIE “THE TIMES”
A partir de 2005, Fred investiu no seu projeto de transformação das capas do jornal The New York Times, que perdura até os dias atuais. Segundo o James Cohan, as composições surreais são “ruminações sobre o absurdo dos ciclos de notícias e fornecem ao artista um espaço para responder a uma variedade de questões – desde questões regionais até crises globais”.
O projeto começou durante a administração de George W. Bush, e foi usado como uma plataforma na qual Tomaselli se permite explorar criativamente as calamidades globais e pesadelos políticos de sua vida. Segundo o CreativeBoom, “suas intervenções pictóricas ressaltam a tatilidade do papel de jornal, dramatizando eventos e muitas vezes mostrando as realidades ridículas e deprimentes do mundo”.
O seu processo de criação consiste em intervir nas publicações com tinta guache e colagem, tendo em vista o conteúdo da manchete principal. Em seguida elas recebem uma moldura e estão prontas para serem exibidas. O título que cada obra recebe é referente à data de publicação de cada jornal.
Além das intervenções, ele também cria colagens em grandes formatos, algumas com mais de 1,5m², que são fixadas em painéis de madeira e cobertas com uma camada de resina para preservar seu conteúdo. Essas grandes colagens também utilizam recortes de jornais para serem concluídas.
Outra influência por trás das criações da série “The Times” foram os desenhos de constelações do artista espanhol Joan Miró. Fred descobriu que eles foram feitos durante a Segunda Guerra Mundial, e o fato mexeu com ele: “Mesmo que o mundo estivesse em chamas, eles insistem que vale a pena fazer arte”, ele diz.
Quando cria suas “versões” do jornal, Fred Tomaselli diz que age como um “editor do mundo”, alterando a notícia a partir do seu olhar artístico: ”Eu penso sobre que tipo de conteúdo minhas pinturas podem lidar. Quanto do mundo eu quero colocar no trabalho? Que tipo de política, que tipo de aspectos sociais a Arte é capaz de lidar? Você olha para a História da Arte e pode encontrar rimas e respostas interessantes para isso”, conclui.