Virginia Frances Sterrett (1900–1931) mal tinha aprendido a andar quando começou a desenhar. Era uma criança introvertida que preferia o mundo da imaginação e do desenho à interação social com outras crianças na escola. Desenhar sempre foi a sua paixão, e durante toda a sua breve vida, nunca parou.
Virginia Sterrett nasceu em Chicago, Illinois em 1900. Aos 14 anos, quando veio a morte do seu pai, sua família se mudou para o Missouri para morar perto de parentes.
Sem qualquer ambição, amigos a convenceram a enviar seus desenhos para a Feira da cidade e para sua surpresa, ela ganhou 1º lugar em três categorias diferentes. Enquanto morava no interior, ganhou vários prêmios na Kansas State Fair (c. 1913), evento que a encorajou a se concentrar ainda mais em suas ilustrações únicas.
Em 1915, Virginia e sua família voltaram para Chicago. Ela começou o ensino médio com a intenção de estudar arte, e logo migrou seus estudos para o Art Institute of Chicago, onde foi admitida com uma bolsa de estudos completa.
A originalidade de seus desenhos – pareciam mais como visões que ela apenas canalizava para a página com caneta e pincel. Virginia deixou o Instituto pouco mais de um ano depois, quando sua mãe adoeceu.
Sendo o único sustento de sua família, Virginia Sterrett foi trabalhar em agências de publicidade. Ganhando US$ 10 por semana, criava desenhos intermináveis de potes, panelas, camas e malas de viagem – por conta de dinheiro.
Mais uma vez, uma amiga – apaixonada pelo seu talento, mais do que ela mesma – levou alguns de seus desenhos para a feira anual, dessa vez, a de livros de Chicago.
Mas antes que qualquer oportunidade aparecesse, ela adoeceu. Sua própria saúde começou a falhar; ela foi diagnosticada com tuberculose aos 19 anos. A doença, comum na época, matava 1 em cada 7 pessoas.
Virginia precisou ser colocada em um sanatório, mas mesmo assim, continuou a desenhar com o mínimo de energia que tinha. Acamada, quase um ano depois, recebeu uma carta de uma grande editora da Filadélfia: um dos representantes havia encontrado seus desenhos na feira de livros de Chicago.
Sua primeira encomenda oficial veio então em 1919. Ela então foi contratada pela Penn Publishing Company para ilustrar os antigos contos de fadas franceses da Comttesse de Ségur, escritora russa, conhecida no século XIX como autora de obras-primas de literatura infantojuvenil.
OLD FRENCH FAIRY TALES (1919-1920)
Virginia Frances Sterrett — 19 anos, acamada, sem dinheiro — estava contratada então para ilustrar a edição americana de Old French Fairy Tales da escritora franco-russa do século XIX Sophie Rostopchine, a Condessa de Ségur, que começou sua carreira literária quando tinha quase sessenta anos.
Virginia recebeu US$ 750 – pela arte da capa, 8 aquarelas, 16 desenhos a bico de pena e ilustrações guarda-chuva – valor impressionante para uma adolescente em qualquer época, especialmente a dela, quando mulheres adultas raramente ganhavam dinheiro em algum campo profissional, especialmente na arte.
Para essa artista adolescente em particular, foi nada menos que sua salvação e sustento de sua família por temporadas. A editora ainda a deixou escolher as cenas mais interessantes para que ela pudesse ilustrá-las da maneira que se inspirasse.
Depois que o livro foi publicado em 1920, a editora ficou tão satisfeita que imediatamente a contratou para ilustrar a edição de Tanglewood Tales, de Nathaniel Hawthorne , publicada em 1921, seguida por outra comissão para uma adaptação de The Arabian Nights, editada pela neta de Hawthorne.
THE ARABIAN NIGHTS (1923 – 1928)
Mas apesar de 14 meses no sanatório – a mesma quantidade de tempo que ela passou na escola de arte – a saúde de Virginia continuou a piorar. Ela acabou se mudando para o sul da Califórnia e fez uma casa como um bangalô coberto no pé das montanhas de San Gabriel, onde continuou trabalhando em seus desenhos de The Arabian Nights.
Seu talento encantou a comunidade local. Suas ilustrações de contos de fadas se espalhou. Ela criou uma série de desenhos de cenários para a produção comunitária teatral de Hollywood de Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Uma artista e educadora local também organizou uma exposição de desenhos de Virginia em sua galeria e estúdio.
Mesmo assim, o clima da Califórnia não conseguiu deter a invasão da bactéria. Virginia voltava para o sanatório, agora o Compton Sanitorium. Contra o pano de fundo de sua arte encantadora, seu corpo definhava.
Mesmo com pouca energia, ela começou a nova série de ilustrações para Arabian Nights, mas com o declínio de sua saúde, os desenhos levaram três anos para ser concluído. Porém, as Noites Árabes, suas últimas obras publicadas, são consideradas uma obra-prima.
Entre 1929 e 1930, a saúde de Virginia melhorou um pouco e ela conseguiu se mudar para casa com sua família. Ela expôs localmente na Little Gallery em Monrovia, Califórnia; e entrou em competições na Los Angeles County Fair e na California State Fair.
Emocionada com as pinturas de paisagens dos mestres franceses dos séculos XVIII e XIX, Virginia ainda sonhava em viajar para a Europa para continuar sua educação artística. Mas a França permaneceu apenas como uma paisagem da sua imaginação, visitada apenas na mesa de desenho e suas ilustrações de contos de fadas.
Em 1930, Virginia começou a trabalhar em sua última encomenda, uma série de ilustrações para Myths and Legends . Esta comissão nunca foi concluída; sua saúde piorou e ela morreu de tuberculose em 8 de junho de 1931, aos 30 anos.
A doença se manteve sem cura até o desenvolvimento do antibiótico estreptomicina – 15 anos depois de sua morte.
Nas cenas imaginativas que Virginia Sterrett colocou no papel durante seu breve período aqui, ela deu sua própria vida, mostrando um puro e incrível talento fantasioso, que escapa da nossa dura realidade de existência.
Fonte: The Marginalian / Art Passions