Marta Vilarinho de Freitas, arquiteta nascida no Porto em Portugal, desenvolve um belíssimo trabalho em seu atelier na cidade invicta retratando paisagens urbanas e elementos arquitetônicos. A forma poética com que Marta respresenta os lugares que escolhe, culmina em um trabalho repleto de referências da cultura local e do cotidiano das pessoas que ali habitam.
Seu olhar traduz artisticamente a vida dos citadinos com detalhes que encantam nossos olhos curiosos ao percorrerem as serigrafias como quem procura Wally nos quadrinhos. Ao longo da contemplação das obras, encontram-se belas supresas incrustadas nos traços delicados da artista: um azulejinho, uma roupa secando na janela, uma taça de vinho, uma flor, dentre outros elementos que surgem em meio a prédios famosos e casas simples, refletindo as diversas camadas que compõem a vida nas cidades.
A arquiteta concedeu uma entrevista ao FTC explicando sua trajetória profissional, seu processo criativo e dá dicas para quem também quer desenhar. Venha com a gente conhecer mais um pouco desse trabalho inspirador!
1. Você cursou Arquitetura, porém em qual momento passou a se dedicar exclusivamente às ilustrações?
Terminei o curso em 2009 e logo depois fui trabalhar num atelier de Arquitetura, no Porto. Entretanto vivi várias experiências profissionais – trabalhei em um órgão público, fiz avaliações patrimoniais e projetos de interiores até que, em 2014, de uma forma muito natural e espontânea, comecei o meu Projeto Artístico e desde aí me dedico inteiramente ao Desenho de Arquitetura.
Na verdade, sempre gostei muito de desenhar. Acho que esse gosto foi ganhando forma durante a faculdade quando passei a esboçar a escala urbana e o espaço público: as ruas, as praças e os mercados, as casas e os pormenores arquitetônicos à minha volta. Costumo dizer que este projeto começou aí, sem eu me aperceber e sem imaginar que, passados alguns anos, estaria totalmente dedicada a ele.
2. De que forma ocorre seu processo criativo? Há alguma especificidade técnica em desenhar especialmente paisagens urbanas?
Sim, eu desenho paisagens urbanas e elementos arquitetônicos justamente devido ao meu percurso pela Arquitetura e pelo universo da Arte. A minha formação influenciou a escolha do tema do meu projeto e ajudou também a definir a minha linguagem artística, o gosto pelo desenho à mão, e foi essencial para desenvolver a técnica, para a compreensão e análise das formas, do estudo da geometria e da perspectiva – mas também pela valorização do lado mais criativo e sensível, da interpretação da natureza, da história, do edificado em si.
Normalmente o processo criativo é a parte mais poética, mais emocional, mais abstrata e mais espontânea – talvez o momento de maior importância – onde se cruza a arte, a música, a poesia, conceitos, na procura do desenho em si mesmo. Muitas vezes vou registrando ideias, ou formando imagens mentais que depois exploro no processo criativo.
3. Como surgiu a inspiração de retratar a cidade do Porto de forma tão diferente e poética?
O Porto sempre mereceu destaque especial no meu trabalho e o fato de ter estudado Arquitetura no Centro Histórico da cidade, de perceber a sua história, de percorrer as ruas com muita atenção e de desenhar grande parte dos monumentos, foi essencial na descoberta deste processo. A beleza da cidade, a sua arquitetura ímpar e a sua história concentram no meu projeto o rendilhado do casario, a complexidade de ruas e vielas, varandas e varandins que desenho numa linguagem criativa entre o real e o imaginário.
O Porto tem muitos pormenores imperdíveis, muitas camadas de história, é muito rico em detalhes que gosto especialmente de destacar. Os azulejos, as claraboias, as portas e as janelas trabalhadas, as roupinhas secando nas varandas são uma imagem forte da cidade e que eu gosto particularmente de desenhar. Estes detalhes são a vida da cidade, a tal poesia.
4. Você considera que algum projeto tenha marcado sua trajetória de maneira especial? Qual?
Esta é uma pergunta difícil de responder. Talvez os projetos de grande escala, no geral, tenham marcado a forma como o meu trabalho pode se desenvolver e crescer. Até uma certa altura eu desenhava em suportes menores, que adoro, normalmente em folhas de papel, e essa continua a ser a essência do meu trabalho.
No entanto, no decorrer dos anos, comecei a ter vários projetos maiores – murais de azulejos ou em parede – e essa passagem de escala é uma descoberta muito interessante também para mim. É uma nova forma de explorar a minha linguagem artística e plástica, em diferentes suportes e materiais.
5. Você considera que o nível de dificuldade é o mesmo entre os trabalhos de diferentes escalas?
Não, normalmente projetos de diferentes escalas possuem dificuldades diferentes, a começar pelo detalhe que é desenhado em cada trabalho específico ou mesmo pela exigência física que pode existir.
Um projeto numa escala menor, como uma folha, pode ser mais fácil de controlar, o traço é mais firme, há mais controle na mão, no que quero desenhar. Se for um mural, por exemplo, torna-se mais difícil controlar o gesto, a ponta da caneta, a linha é mais vulnerável, mais escorregadia, é difícil ter movimentos maiores porque tem de haver uma certa distância entre o corpo e o desenho, os olhos e o desenho, para conseguirmos ver o todo.
6. Há uma cidade específica que não tenha desenhado, mas pensa em ilustrar? Se sim, qual?
Sim, várias! Na minha lista para um futuro próximo, estão Nova Iorque, Londres e Guimarães, mas a lista é extensa! Estou planejando também fazer mais uns desenhos da coleção “Cidade Imaginada”.
7. Qual dica você falaria para as pessoas que gostariam de desenvolver ilustrações sobre elementos arquitetônicos e paisagens urbanas?
É essencial desenhar muito, experimentar diferentes técnicas sem medo de errar e principalmente conhecer bem “a alma” da cidade, o seu ambiente, a luz, as texturas, as cores, os padrões! Pessoalmente, acho muito importante transmitir a essência da cidade nos desenhos, é algo que procuro sempre e é a minha maior inspiração. Só assim o desenho é autêntico e verdadeiro e essa verdade passa para quem o vê.
8. É possível adquirir alguma de suas obras no Brasil? Se sim, como proceder?
Neste momento não é possível, mas num futuro próximo irei começar a fazer envios também para o Brasil!
Para mais, acesse o site de Marta Vilarinho de Freitas e a siga no Instagram!