Aheneah é o nome artístico de Ana Martins, uma jovem de 22 anos que levou para as ruas de Portugal uma técnica de bordado que antes ficava restrita somente ao interior das casas.
A artista, que também atua como designer gráfica, concluiu seus estudos em 2017. E foi durante a graduação que ela aprendeu a bordar com a sua avó: “Sempre tive ligação às técnicas têxteis porque, na minha família, sempre fomos muitas mulheres e sempre todas adoraram tricotar, costurar, fazer rendas em paninhos, enfim. Desde pequena que também queria fazer parte desse clube de costura aos sábados e domingos”, Aheneah conta.
A formação em Design Gráfico foi um fator-chave no despertar do interesse de Ana pela junção da técnica com uma estética visual mais contemporânea. Mas a ideia de criar seus grandes painéis externos veio das experiências com amigos que já praticavam arte de rua usando outras linguagens.
A partir dessas experiências a portuguesa teve a ideia de utilizar o bordado como ferramenta para espalhar suas artes pelas paredes da cidade. E o ambiente incomum para a manifestação dessa prática artística garantiu o aspecto inovador do seu trabalho.
PROCESSO DE CRIAÇÃO
A primeira preocupação de Ana ao começar a idealizar seus painéis é o local de implantação. Ela conta que a sua criação deve dialogar com o local e com as pessoas que passam por ali, e que por isso é de extrema importância estudar o ambiente onde seus “bordados urbanos” serão instalados antes de iniciar um projeto.
O processo passa por várias etapas antes da conclusão. Depois de idealizar a imagem a ser retratada, Aheneah cria estudos digitais para garantir que tudo sairá como planejado. E então ela escolhe as cores e o material que irá utilizar. A etapa seguinte é a de execução. Nessa fase ela utiliza painéis de madeira (quando a obra não será fixada diretamente na parede), pregos ou parafusos, e muita lã para concluir projetos que normalmente levam uma semana para serem finalizados.
TRABALHOS
O primeiro painel de Aneheah para uma grande marca foi criado em 2016 e representava um Nike Air. A criação fez uso de aproximadamente 400 pregos e foi chamada de “Go Big or Go Home”. O título está ligado ao fato dela não criar grandes expectativas em relação ao resultado da sua primeira intervenção, que, caso não alcançasse o resultado esperado, ela poderia “voltar pra casa e continuar com seus pequenos pontos”.
Mais tarde, em 2018, a artista fez o uso da mesma técnica para criar a representação da imagem de sua avó praticando tricô. A obra, intitulada Matriz, foi uma homenagem à figura que a ensinou a bordar. Em seu site ela diz que a instalação é “um tributo a todas as bisavós, avós e mães que ensinam coisas que carregamos por toda a nossa vida”.
No mesmo ano, a artista foi convidada a intervir em uma das fachadas de um espaço criado a partir de contêineres em Lisboa. E o resultado foi um painel que desafia a percepção do espectador, tanto pela ilusão de profundidade que ele propõe, quanto ao material utilizado na sua construção, que dificilmente é identificado ao ser observado de longe.
A inscrição “Why Not?” se destaca no painel, e dialoga com o fato dela se sentir criando um trabalho que deverá ser aprovado pelo público que o observa, como um “briefing” de um projeto que ela teria criado na sua profissão de designer gráfico, por exemplo. E o título da obra vem do fato do lugar de implantação ser conhecido pelas fachadas criativas, então ela questiona: “Por que não ter uma fachada feita com lã?”
Uma das peças de maior destaque e que projetou grandemente o trabalho de Aheneah foi batizada de “Switch-over”. Ele fez uso de aproximadamente 2.300 parafusos e 700 metros de fios de lã. A criação foi instalada em uma rua de destaque em sua cidade natal, Vila Franca de Xira, e por ela passam diversas crianças diariamente a caminho da escola.
A obra foi instalada em caráter permanente no local e retrata uma figura feminina. E ela explica que as crianças que passam por ali todos os dias normalmente estão perdidas em seus pensamentos e em suas rotinas, assim como ela mesma durante a infância, até que seus caminhos mudam de direção.
Segundo o Shifter, a grande a imagem da garota em movimento configura a “passagem da escola para o mundo, mas ao mesmo tempo a rapidez da idade juvenil, muitas vezes imbuída em pensamentos e sonhos”.
Aheneah encara a arte urbana como uma evolução do ponto-cruz e, sobretudo, como uma maneira de dar manutenção à técnica: “A arte urbana em ponto-cruz permite que esta técnica tradicional não morra”. E ainda complementa que a intenção do seu trabalho é “desconstruir, descontextualizar e transformar uma técnica tradicional em um gráfico moderno, conectando culturas e gerações”.
Para acompanhar o trabalho de Aheneah, visite o seu site e o seu perfil no Instagram.