Cantos da casa e memórias afetivas saem da arquitetura e se transformam em pinturas maravilhosas por Ana Elisa Egreja
Durante a pandemia, Ana Elisa Egreja buscou refúgio nas pinturas, especificamente nas de pequeno formato. As saboneteiras saíram da arquitetura e do seu imaginário afetivo, materializando-se nas telas. Das telas, ganharam as páginas do livro bilíngue Saboneteiras, lançado pela Act. Editora, em parceria com a Galeria Leme.
O livro apresenta 31 saboneteiras. Além delas, a artista pintou mais cinco, que foram expostas no estande da Galeria Leme em abril de 2022, durante a 18ª edição da SP-Arte.
SABONETEIRAS COMO INSPIRAÇÃO
Materiais e texturas são parte da identidade das obras dessa série, que retrata – em uma vasta gama de cores e composições minuciosas – elementos vistos como banais, mas que nos transportam a memórias e lugares de afeto associados ao ambiente doméstico.
“Estão presentes um mosaico exibindo uma arara de cores formidáveis originário de uma casa em Manaus e azulejos em estilo art noveau descobertos na Rua 25 de março, em São Paulo. A proliferação de estilos de azulejos compõe o tema da série junto aos receptáculos de sabonetes em si”, escreve Ann Gallagher, curadora e escritora independente residente em Londres, no texto apresentado no livro.
A grande curiosidade é que os cenários, por mais reais que pareçam, foram todos inventados pela pintora. Nenhum deles existe nos moldes em que são retratados. Tudo foi inspirado por milhares de imagens de azulejos de todos os tipos, catalogadas em pesquisas pela artista.
A partir dessas referências, Egreja criou recortes e imagens únicas, como uma saboneteira com azulejos de Athos Bulcão. Essa linguagem pictórica realista fantástica faz parte de um exercício da artista que utilizou telas menores das que costumava pintar – uma estratégia para seguir trabalhando mesmo quando não era possível frequentar seu ateliê.
“Pintar banheiros e saboneteiras já fazia parte do meu trabalho. O que eu fiz foi dar um zoom num detalhe que já era presente na minha pintura de interior. Já pintei maçanetas e agora os pratos, que são desdobramentos dessa série”, explica Ana Elisa Egreja.
Olhar para a intimidade da casa, dos interiores, de tudo o que é doméstico, é assunto da artista. “Encontrei nesse microcosmo uma capacidade tão potente quanto numa pintura mais ampla. Foi o que senti quando pintei a primeira saboneteira”, declara.
SOBRE ANA ELISA EGREJA
Ana Elisa Egreja é artista plástica, nascida em São Paulo, em 1983. Suas pinturas materializam cenas fantásticas relacionadas a domesticidade, arquitetura e gêneros clássicos da pintura, como Interior e Natureza-Morta.
Seus trabalhos integram: Coleção Santander; Franks-Suss Collection, Londres; Fondazione Sandretto Re Rebaudengo, Turim; Kistefos Museum, Jevnaker; Deji Art Museum, Nanjing; MAM/Bahia, Salvador; Museu de Arte do Rio (MAR) e Pinacoteca de São Paulo.
LIVRO: SABONETEIRAS
A publicação reúne as criações da artista realizadas durante o período de isolamento, entre 2020 e 2021. Os trabalhos condensam de forma sutil alguns temas explorados ao longo de sua carreira, como a reprodução minuciosa de materiais e texturas e a representação da memória afetiva impregnada nos interiores das casas.
Todas as obras estão no livro Saboneteiras, lançado pela Act. São quatro opções de capa, prefácio de Jac Leirner, poema de Carola Saavedra, texto crítico de Ann Gallagher, edição de Marina Dias Teixeira e organização de Fernando Ticoulat e João Paulo Siqueira Lopes. O projeto gráfico é de Felipe Sabatini e Nina Farkas (Gabinete Gráfico).
À venda nas principais livrarias.
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