Art Attack

Andy Hope leva seus personagens autorais para as superfícies urbanas através do grafite

Natural da cidade de São Paulo, mais especificamente do bairro Cidade Tiradentes, Andy Hope se inspira no cotidiano da região onde nasceu e onde mora pra criar seus personagens inconfundíveis através do grafite.

Andy Hope é o nome artístico adotado por Anderson, que desde 1996 se dedica à arte de rua. Ele conta que desde criança foi encorajado pelo pai, que também desenhava, a se expressar artisticamente. Durante a adolescência ele teve uma breve passagem pela pichação antes de se aventurar no grafite estilo throw up, que tem como característica o uso de contornos, incentivado por um amigo. E desde então ele não parou mais.

Hope contou à Soul Art que gastou seu primeiro salário inteiro com tinta spray. Seu trabalho passa por uma constante evolução, mas ainda assim o grafiteiro e ilustrador ressalta que há muitas dificuldades na carreira artística. Sua esposa também é artista, e o apoio dela é primordial pra que ele siga seu trabalho, mas mesmo assim Andy revela que medo: “É sempre mais fácil a certeza do salário no final do mês. Mas não dá. Eu nasci pra isso. Tem que ser perseverante. Já faz vinte anos que eu pinto e as coisas estão acontecendo agora. No começo a gente queria tudo na hora. Pintava e já imaginava que no dia seguinte estaria na galeria, que venderia quadro de cem mil reais, que nada! É tudo a longo prazo. Tudo depende também de onde o artista quer chegar”.

INSPIRAÇÕES E PROCESSO CRIATIVO DE ANDY HOPE

Seus personagens são inspirados em suas vivências e no lugar onde mora, o bairro da zona leste de São Paulo. Aos 45 anos de idade, ele diz que seu processo criativo parte dos seus filhos: “Fico observando as ações e atitudes de cada um deles… São formas diferentes de agir, de olhar, de brincar… Até mesmo na hora das refeições… Onde coloco em prática nos meus personagens. Mas sempre dou uma volta pelo bairro pra ter mais inspiração pra produzir, ele diz.

As abelhas também são elementos que aparecem com frequência em seus trabalhos, e elas têm um significado muito importante. Elas simbolizam a união coletiva: “A abelha, uma morre pela outra. No momento que ela dá uma ferroada em alguém, ela sabe que ela vai morrer, mas o que eu vejo, é que ela se doou por aquilo”, disse o artista à El Cabriton.

Elas inclusive estão presentes na arte que ele ilustrou na fachada da loja El Cabriton, na rua Augusta, em São Paulo, e que permaneceu lá durante todo o mês de março de 2020.

Mas o ato de aplicar sua arte nas superfícies urbanas também implica em desenvolver um certo desapego, já que o período de permanência das obras nas paredes e muros é quase sempre imprevisível. Andy conta que já se preocupou muito com isso, mas que hoje em dia acredita que faz parte do processo. No entanto, o grafiteiro sempre guarda os papéis que “rabisca”.

Os personagens de Andy são expressivos, e criam narrativas visuais repletas de emoções. Como ele conta para o ArtLuv, eles “trazem a tona a manifestação de emoções por parte dos expectadores, que se identificam e encontram no desenho a representação do que sentem”.

Apesar da projeção que o grafite o proporcionou, Hope ainda conta com as incertezas que a profissão gera. Tem muito orgulho de onde chegou, mas até hoje sua mãe o orienta a procurar um trabalho formal. O artista acredita que muita coisa que sai do seu coração ainda pode o levar ainda mais longe: “Quanto maior o muro, maior a chance de explorar o que tem aqui dentro. E tem bastante coisa”, conclui.

Quando perguntado sobre qual conselho daria pra quem quer ingressar no universo do grafite, Hope afirma que é preciso entender que não é fácil, que se mataum gigante por dia”, e que é preciso aceitar as críticas e saber receber elogios, mas sem se deixar levar.

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