Ao viajar, você segue ou cria seus próprios roteiros e aquilo que sai do planejado é justamente a memória mais marcante de toda a experiência. Isso não é regra, claro, mas pode ser estimulado a cada viagem apenas baixando a sua guarda.
No início eu tinha uma certa resistência em dar corda a brasileiros desconhecidos pelo caminho. Um equívoco xóvem de pensar que precisava me desligar da origem para sentir verdadeiramente a cidade em que estava. Até alguém na travessia do mar Báltico mudar minha percepção da importância de se abrir ao outro, da pessoa melhor que eu me tornaria depois daquela ponte.
A viagem foi uma mistura de coisas: trabalho, aniversário de 30 anos e a possibilidade de acompanhar um grupo de brasileiros por um roteiro focado em design. Por si só uma experiência bem diferente das usuais. Em uma tarde livre de compromissos, eu e mais 5 destes novos amigos pegamos um trem da Dinamarca para a Suécia sem saber exatamente o que fazer por lá.
Ao primeiro sinal de confusão com o nome da estação de desembarque, um rapaz nos aborda e pergunta em português se precisávamos de ajuda. Coincidentemente ele desceria na mesma estação e se ofereceu para nos mostrar a cidade de Malmö. A cidade dele.
Tratava-se de um brasileiro adotado por suecos ainda criança. Um encontro que rendeu surpresas como um convite para uma festa particular em um jardim da cidade e, mais tarde, um pulo na casa do nosso amigo-guia. Com uma parada estratégica para perder o fôlego com o pôr do sol das 22h.
Ele resgatou o português quase esquecido. Nós desbravamos a cidade que o turista comum não conheceria. Estávamos abertos comungando de uma mesma sensação de liberdade possível somente quando o interesse está na história do outro, na diferença que nada mais é do algo prestes a se revelar igual. É incrível como a curiosidade sem julgamento cola as pessoas.
Eu até tenho dicas de lugares para se conhecer por aquelas bandas de lá, mas não vejo propósito em citar aqui. Sua viagem vai ser diferente da minha, então do que adianta indicar o restaurante im-per-dí-vel se a percepção foi minha e não sua? Imperdível é se deixar levar pelo seu humor, suas vontades e abrir caminho para desconhecidos passarem e, talvez, mudarem suas coordenadas por alguns instantes ou para a vida toda.
[fotos: sérgio souto]