A história das irmãs pioneiras da Art Nouveau

Spring, Frances MacDonald

A maioria das pessoas já ouviu falar em Art Nouveau, mas poucas se lembram de duas das figuras mais influentes em sua concepção: as irmãs Margaret e Frances MacDonald. Com formas lineares e influências da ciência, natureza, história mítica, modernidade e elementos que caracterizam a feminilidade, quase essencial em seus princípios estéticos, não é surpresa que mulheres estivessem entre as criadoras dos fundamentos visuais da corrente artística que iluminou a Europa entre 1890 e 1915.

Margaret e Frances, juntamente com seus colegas (e futuros maridos) da Glasgow SchoolCharles Rennie Mackintosh e Herbert MacNair, compunham o coletivo criativo The Four. Ao se inspirarem na espiritualidade e simbolismos celta, no puritanismo vitoriano, nos contornos de plantas e figuras femininas, dentre outros elementos, o grupo criou peças gráficas inovadoras que abusavam das silhuetas alongadas e graciosas, usando paletas oníricas e etéreas que também mostravam componentes iniciais da arte moderna, como o uso de simetrias e figuras geométricas.

Margaret e Frances MacDonald, as irmãs pioneiras 

Juntos, o The Four alcançou um raro “equilíbrio de qualidades de gênero” em seu trabalho. E para alguns críticos, a tensão sexual subjacente à colaboração dos quatro era inegável. Talvez isso explique as mulheres nuas que aparecem em muitas de suas peças. Era incomum para as pintoras retratarem uma mulher nua na década de 1890. Mas seus nus têm uma certa neutralidade – são independentes e não submissos. A forma como as mulheres são retratadas no trabalho de Margaret e Frances ecoam sua própria independência. Enquanto muitas mulheres estudavam arte por prazer pessoal, as irmãs a transformaram em profissão e prontamente vendiam suas produções.

The Mysterious Garden, Margaret MacDonald

Ao final de seus estudos, Frances e Margaret abriram seu próprio estúdio. Seus pôsteres, propagandas, aquarelas, peças de metal e desenhos de tecidos venderam super bem, e elas exibiram suas criações em toda a Europa por vários anos. Os contemporâneos se maravilhavam com o trabalho de metal das irmãs e com a união delas – que co-assinaram muitas de suas produções iniciais. Mas então quando casaram-se com Charles e Herbert a dinâmica no trabalho foi alterada.

Frances e Herbert mudaram-se para Liverpool, onde focaram em uma vida acadêmica e familiar, continuando a produzir peças quase exclusivamente para sua própria casa. Margaret e Charles permaneceram em Glasgow, onde ele se tornaria um famoso arquiteto e designer de móveis.

Truth Lies at the Bottom of the Well, Frances MacDonald

Em 1897, Gustav Klimt liderou uma dissensão do mundo acadêmico tradicional para estabelecer a Secessão de Viena juntamente com outros artistas de estilo Art Nouveau, como Joseph Hoffman. A Secessão organizou mostras regulares, e na VIII exposição, em 1900, Klimt os convidou para participar e foram muito bem sucedidos. Venderam todas as obras e foram contratados para novas produções, dentre elas, o design de interiores da sala de música de Fritz Wärndorfer, um rico patrono das artes vienense.

Dois painéis de Margaret MacDonald

O mobiliário e o design de interiores estimularam o trabalho posterior de Hoffmann e Moser, e é prontamente dito que a obra Beethoven Frieze, de Klimt, foi influenciada pelo The Four, em particular a obra de Frances intitulada Sleep, de 1899. Roger Billcliffe e Peter Vergo escreveram que o uso de quadrados do Mackintosh foi “imitado pelos austríacos de tal forma que adquiriu o status quase de um leitmotif, especialmente em seu trabalho tipográfico e decoração de livros”.

Beethoven Frieze Right Wall, obra de Klimt

A Paradox, Frances MacDonald, 1905

Apesar do reconhecimento no circuito artístico, os casais voltaram para suas respectivas residências em Glasgow e Liverpool, locais muito remotos para permanecerem importantes para o movimento, pois o coração da Art Nouveau era Viena. Em poucos anos, Margaret e Charles se mudaram novamente, agora, para mais perto de Londres, porém, tinham dificuldade em estabelecer uma nova clientela. Frances e Herbert perderam o dinheiro na crise financeira de 1909 e Frances acabou apoiando-os com empregos de meio período.

Sua desilusão afetou as produções seguintes como o Man makes the beads of life, but woman must thread them  (1912-15) que, de acordo com Helland, oscila entre recusar-se a agradar e procurar agradar. Em 1921, quando Frances morreu de uma hemorragia cerebral aos 48 anos, Herbert destruiu grande parte de seu trabalho e se recusou a desenhar novamente. Dois anos depois da morte de Frances, Charles e Margaret mudaram-se para a França para viver tranquilamente e pintar.

Ophelia, Frances MacDonald

ATUALMENTE, A ARTE EM GLASGOW

Atualmente, todo mês de outubro, Glasgow realiza o Festival Criativo Mackintosh onde os visitantes podem se movimentar pela cidade descobrindo traços do coletivo The Four. Os museus de Kelvingrove e Hunterian exibem permanentemente obras dos quatro artistas que são em grande parte esquecidos pelo resto do mundo. Aqui, trazemos à tona a memória dessas duas mulheres (e seus maridos) que participaram ativamente da concepção de um dos movimentos artísticos mais conhecidos do mundo.

Frances MacDonald

Fontes: Cultura Inquieta JSTOR DailyArtwork of the week 

Por Marjorie Simões

Marjorie Simões é designer de interiores e artista visual. Curiosa, observadora e pesquisadora, adora aprender coisas distintas para depois conectá-las. Valoriza os trabalhos manuais, a cultura vernacular, a economia criativa e a produção/consumo sustentável. Acredita no poder das cores e tem leves faniquitos quando entra em ambientes beges.