Ela não se limita a apenas uma técnica e muito menos a um estilo. A tatuadora brasileira de São Paulo Lan Pravda, por enquanto, mistura várias influências e gosta de enxergar o seu trabalho como experimentações artísticas sobre a pele. Lan diz que para chegar onde está hoje, deu algumas voltas. Escolheu fazer Arquitetura, mas queria mesmo é ter feito Artes Visuais. Desde criança já demostrava ter habilidade para o desenho, mas foi desencorajada a levar isso adiante.
Seu interesse pela tatuagem começou pouco antes de entrar na faculdade. Durante o curso, criou os desenhos de suas tattoos, para um amigo e, vez por outra, “tatuava” seus amigos com canetinha. Não chegou a exercer a profissão de arquiteta depois de se formar, mas o curso ajudou a apurar seu senso estético.
Após isso, prestou concurso e virou servidora pública federal, função que lhe dava um bom salário e estabilidade. Trabalhou por 6 anos como designer gráfico no tribunal. Mas, foi tão criativamente frustrante que não suportou: pediu exoneração. Precisava de mais criatividade no seu cotidiano, então, finalmente, decidiu ir atrás do que acreditava. A mudança rápida que tem acontecido nos últimos anos com relação a estética e temas abordados na tatuagem a encorajou.
Ela então, fez diversos cursos para se aperfeiçoar: ilustração, aquarela, pintura a óleo, guache, xilogravura, caligrafia etc. Mas, Lan Pravda conta que entrar nessa área foi bem complicado: ela não tinha contatos, não sabia por onde começar e ninguém queria dar um help. Foi atrás de dicas básicas, como montar uma máquina e coisas do tipo, e leveu várias portadas na cara (reais e virtuais). Até que, no final de 2013, o tatuador Antônio Sérgio do Organika Tattoo foi receptivo e se dispôs a passar alguns fundamentos.
Lan comprou seu material e treinou muito em pele artificial e de porco, até ter coragem de testar em sua própria pele. Nas muitas pesquisas que fez descobriu blogs, vídeos, grupos de discussão que davam dicas sobre o assunto, além de participar de um ou outro workshop. Foi dando um jeitinho aqui e ali para ir tirando suas dúvidas.
Hoje a artista testa traços, linhas, cores, desenhos e diz: “A arte da tatuagem cada dia me fascina mais por me desafiar constantemente. Diferente de outras técnicas em que o suporte é plano e previsível, a tatuagem é um organismo vivo, com formas variadas e muitas expectativas. E o que poderia ser mais poético do que sua arte tomar vida e andar por aí a ponto de se perder de você?”
Conversamos com ela para saber um pouco mais sobre suas inspirações:
FTC: Como você define a sua arte?
Eu não defino e não pretendo definir. Gosto do borbulhar das possibilidades, de poder experimentar várias linguagens e não me concluir.
FTC: Com o que você se inspira?
As influências são muitas. Me inspiro essencialmente nas minhas experiências/vivências subjetivas para as criações autorais. A sutileza da representação gráfica dessa subjetividade abre margem para outras interpretações, de forma que o outro se identifica com a criação, às vezes, por um motivo diverso do meu. Me instiga perceber que minhas criações ganham novos sentidos pelo olhar do outro. Para criações personalizadas, ou seja, quando o tema me é dado, procuro harmonizar os anseios do cliente com meu senso estético, de forma que as duas partes fiquem satisfeitas.
Além disso, acompanho o trabalho de vários tatuadores que admiro e, de alguma forma, aqui ou ali, me influenciam: a delicadeza da Bicem Sinik, o pontilhismo de Chaim Machlev, Nazareno Tubaro, Thomas Hooper, Ilya Brezinski, as linhas da Nouvelle Rita, Sasha Masiuk, Tilldth, as composições do Lukasz Sokolowski, Cody Eich, Expanded Eye, Noon Komikaz, Katarzyna Krutak… enfim, são muitos, e cada dia descubro mais tatuadores incríveis.
FTC: Qual foi sua primeira tatuagem em um cliente?
Foi uma clave de sol com detalhes em pontilhismo. Foi bem tenso pra mim por ser minha primeira tattoo na pele de outra pessoa (até então só tinha me tatuado) e bem tenso para ela também, pois foi sua primeira tatuagem. Mas deu tudo certo!
FTC: Está tocando algum projeto especial ou específico atualmente?
A tatuagem por si só já é algo novo. Ainda tenho muito a explorar! Como projeto, pretendo me direcionar para um trabalho cada vez mais autoral.
FTC: Uma frase que vc carrega para a vida
De um dos meus escritores prediletos, Samuel Beckett: “O fim está no começo e, no entanto, continua-se.”
FTC: 5 coisas que não consegue viver sem.
Ar, água, alimento, arte, afeto.
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