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André Cast: tatuagens em blackwork, brasilidade e conhecimentos cruzados

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André Cast apareceu no FTC há alguns atrás logo quando começou a tatuar. Desde então, o seu trabalho cresceu e se aprimorou absurdamente: seu estilo em blackwork ganhou força, os traços se tornaram mais precisos, a tinta preta ficou definida como princípio, e técnicas como o pontilhismo e outras experimentações, hoje produzem efeitos especiais sobre a cor e sombras.

Inquieto, o mineiro conta que sempre procurou algo para fazer. “Comecei a desenhar sobre as mesas da escola e cantinhos do caderno, e quando notei, já estava pixando o muro e colando lambe-lambe pelas ruas.” Por orientação familiar, deixou de cursar artes para estudar arquitetura, o que não foi uma coisa ruim. “A faculdade me ensinou a lidar com projetos, observar a cidade com um olhar aguçado, e a paixão por viajar e conhecer novos lugares. Sou a terceira geração de arquitetos da minha família, porém, por ironia do destino, acabei caindo de para-quedas na tatuagem.”

Desde que fez sua primeira tattoo, há aproximadamente 4 anos, nunca mais parou. Com apenas 2 meses nesse ofício, se juntou aos artistas Trigs e Frederico Rabelo para juntos experimentarem seus anseios com esse tipo de arte. Foi aí que alugaram uma pequena sala em Juiz de Fora (MG) que foi chamada de Covil Tattoo.

Atualmente faz 3 meses que está morando em São Paulo e no Galo Cego Tattoo. O estúdio se localiza em um ambiente híbrido onde acontecem outras atividades, o que leva o artista a querer aprender sempre mais. Além disso, ele está sempre na estrada, conhecendo novos amigos e ‘mestres’ que o ensinam a aperfeiçoar as técnicas e a lidar com as situações da vida, “para tentar ser uma pessoa melhor a cada dia.”

Nesse tempo, relativamente pequeno, André viajou e tatuou em muitas cidades do Brasil e do mundo. Já trabalhou em estúdios renomados como o Inkonik em Belo Horizonte, A Casa Hermética no Rio de Janeiro, Ardham Tatuaria e Zero Sen em São Paulo, El Cuervo Ink e Teix em Curitiba, VCT em Brasília, AKA Berlin e Deuil Marvelleux em Bruxelas, ao lado de outros grandes profissionais.

Em seus desenhos, explora temas que trazem a geometria sagrada, os animais, sereias, flores, o místico. As linhas contemporâneas que cria são únicas para cada cliente, sempre respeitando seu estilo mais sombrio e a sua leitura sobre determinado assunto. Conversamos com ele para saber um pouco mais sobre suas inspirações. Confira entrevista exclusiva de André Cast ao FTC:

FTC: André, como você define a sua arte hoje? 

Penso que a tatuagem é associada ao tempo. Essa capacidade de expressar graficamente os anseios das pessoas no tempo presente é o que me motiva a tatuar. São histórias, memórias, símbolos, expectativas, tanto individuais, como coletivas, que são incorporadas ao corpo humano físico. Então, defino minha arte como ferramenta de transmissão desses conceitos para a pele, a partir das minhas referências pessoais, das ideias oferecidas pelo cliente e da tinta preta.

FTC: Com o que você se inspira? 

Me inspiro na dinâmica caótica em que os seres humanos conseguem se organizar e sobreviver.

FTC: Está tocando algum projeto especial ou específico atualmente? 

Atualmente estou me adaptando a vida em São Paulo, então estou dedicando muito tempo a aprimorar nosso estúdio, o Galo Cego Tattoo. Tenho outros projetos na manga com meu parceiro Frederico Rabelo, que ainda estão em desenvolvimento. E sou fotógrafo amador, por influência da minha irmã talentosa, Bruna Castanheira.

Gosto de documentar o que eu vivo no mundo da tattoo, os amigos, as viagens e as cidades, quem sabe isso um dia isso se torne um projeto? (Algumas fotos analógicas dele estão no post;)

FTC: Como você vê o futuro da tatuagem no Brasil?

Vejo como tudo o que acontece no capitalismo: empresários estão sedentos pelo mercado da tattoo, institucionalizando uma prática milenar, criando cursos de tatuagem em faculdades e querendo lucrar o máximo com isso.

FTC: 5 coisas que não consegue viver sem?

Café, queijo minas, cerveja, família e amigos.

“É notável no trabalho de André Cast uma forte influência das escolas tradicionais e históricas da tatuagem, como o tribal e o old school. André toma as lições e estéticas desses segmentos e os atualiza através de um pensamento contemporâneo, alicerçado num mix de conhecimentos vindo da arquitetura, design e vernacularidades. Ele é inquieto, dinâmico e transitório. Brasileiro e mineiro. Respeita tradições e é dono de uma incrível proatividade e energia para fazer coisas e se aventurar no novo.

A sua obra é lugar onde podemos ver isso acontecendo nitidamente, ele tem a liberdade de transitar por onde bem entender, sem esquecer de lições passadas e olhando para frente, buscando o novo e se auto-reconhecendo no caos contemporâneo. A resposta de André a tudo isso é sua obra de agora, desse momento. É como naquela história de que um rio não é mesmo depois que você entrou nele, e nem você é mesmo depois de que entrou naquele rio. O rio te muda e você muda o rio. A contemporaneidade muda o Cast a todo tempo, e nesse mesmo segundo Cast devolve interferindo no que a contemporaneidade é.” – Frederico Rabelo;

Frederico Rabelo tatuando, uma das fotografias analógicas por André;

Recentemente André produziu um vídeo portfólio experimental chamado ‘Apartamento Treze‘ em parceria com o estúdio mineiro Inhamis, lançando um olhar diferente sobre o trabalho do tatuador, além de explorar o background das pessoas que foram tatuadas.

Tatuador e tatuado, em simbiose, são coautores nesse processo de desfiguração da forma natural do corpo. Numa sociedade que muitas vezes impõe uma padronização, a pele surge como suporte para a manifestação da individualidade.

“Dealing with nothing more complex than the limits of human space” – Gordon Matta-Clark

Acesse seu site para ver mais trabalhos e siga André Cast no Instagram. Acompanhe também o Covil Tattoo no Instagram e no Facebook e o estúdio em SP Galo Cego Tattoo

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