Analisamos a importância de três conceitos atuais ligados à moda e ao consumo. Entenda por que consumo consciente, trabalho escravo e slow fashion são mais do que temas passageiros.
A moda está presente na vida de todos nós, mesmo que nos consideremos fora dela. Dentre tantas tendências já lançadas, estamos vivendo uma que parece que não vai embora tão cedo – ou talvez nunca.
Os tempos mudaram, e com eles, a mentalidade das novas gerações. Atualmente, muitas marcas de pequenos produtores independentes têm conquistado cada vez mais pessoas. Elas chamam atenção justamente porque valorizam questões como produção manual, comércio justo, sustentabilidade e atemporalidade.
Pensando nisso, para você entender melhor as questões por trás dessas ideias, selecionamos três conceitos que estão muito ligados à moda e a um novo jeito de se consumir e que merecem atenção:
Consumo consciente
Está ligado a uma autoavaliação e a uma avaliação do processo produtivo. A autoavaliação demanda o exercício de um hábito, de nos questionarmos sobre a nossa real necessidade do que estamos prestes a comprar.
O consumo consciente também está ligado a administração financeira, ou vice-versa. Quando se controla melhor o próprio dinheiro, têm-se autonomia para gastar em menos coisas, mas de maior qualidade, pensando sempre a longo prazo.
Essa é uma prática que beneficia todos os envolvidos: os trabalhadores da indústria da moda, os pequenos produtores de marcas independentes, nós consumidores e também o meio ambiente.
Procure sempre pela procedência do que está comprando. Pesquise sobre o processo produtivo das marcas, quais valores que ela preza, quais são os materiais que ela usa. Assim, você ganha mais consciência sobre o que está comprando e quem ou o quê está ajudando com isso.
Reciclar, buscar informações sobre a cadeia de produção, procurar alternativas sustentáveis e comprar de produtores artesanais e locais são práticas de consumo consciente;
Em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e outras capitais já existem diversas feiras mensais compostas apenas por trabalhos manuais ou pequenas empresas. Sempre há uma alternativa para fazer valer o nosso poder de compra.
Para ajudar a pensar em novas formas de consumo, vale acompanhar sites como o Modefica e o Oficina de Estilo, que tem como lema “Substitua Consumo por AutoEstima”. O documentário The True Cost, também contribui para uma reflexão profunda, porque traz cenas reais sobre o impacto da moda fast-fashion na vida das pessoas e no meio ambiente.
Cena do doc True Cost: com 80 bilhões de peças de roupa vendidas por ano, a indústria da moda mantém uma fórmula que combina o consumo desenfreado com a exploração da mão de obra;
Trabalho Escravo
Quando se fala em trabalho escravo, muitas pessoas ainda se questionam se isso existe. Infelizmente, esse tipo de trabalho ainda é uma realidade no mundo todo. Por isso, vale a pena esclarecer o que caracteriza essa prática.
Segundo o artigo 149 do Código Penal brasileiro, o trabalho análogo ao de escravo é caracterizado por condições de trabalho degradantes (que afetem a saúde ou a vida do trabalhador), jornadas exaustivas, trabalho forçado e servidão por dívida. Privação de direitos como descanso ou ir ao banheiro e remuneração desleal também caracterizam a prática.
No ramo da moda, já há engajamento por parte de alguns estilistas e profissionais da área. O Fashion Revolution, movimento global que está presente no Brasil, é uma ótima instituição para seguir nas redes sociais. O grupo incita debates sólidos sobre diferentes pontos da cadeia produtiva da moda.
Outra iniciativa bacana é o aplicativo Moda Consciente, da Repórter Brasil. Nele, é possível acompanhar a situação de marcas em relação ao trabalho escravo. A ONG foi fundada pelo jornalista Leonardo Sakamoto, que investiga o trabalho escravo em diversos segmentos produtivos e já denunciou diversos casos de abusos no Brasil.
Slow Fashion
Esse conceito está muito relacionado ao consumo consciente e, seria o mais próximo de um ideal para a moda e para o consumo em geral. É um movimento que incita a redução do consumo e a valorização do processo produtivo.
Muitas marcas de pequenos produtores têm o slow como uma missão. Significa que prezam pela valorização do tempo. Tempo de plantar e colher a matéria-prima (quando preciso), tempo de criar cada peça única manualmente ou em um processo mais devagar do que a produção em massa, agregando valor a cada produto.
Veja que o movimento também traz de volta para a moda a singularidade de cada produção. Uma coleção baseada no slow fashion vai ter menos peças no mercado, então haverão mais peças únicas, mais diversidade e menos produção em série.
Por uma indústria que valoriza as pessoas, o meio ambiente, a criatividade e o lucro em igual medida – a moda como uma força para o bem!
O conceito slow também contribui de certa forma para que trabalhadores da indústria da moda possam ter condições mais dignas, além de incentivar fornecedores e mão de obra locais.
Outra forma de consumir roupas, ao invés de comprá-las em primeira mão, é procurar por roupas de brechó ou feiras de troca e, se preciso, investir em transformações. Algumas marcas, como a Comas, que transforma camisas masculinas em outras peças, investem apenas na ressignificação de roupas e acessórios que já existem, o que é chamado de upcycling.
O Banco de Tecidos também é uma iniciativa que contribui para um consumo mais sustentável, porque recebe sobras de tecidos que poderão ser reutilizados. Já o Mais Alma é um e-commerce que reúne diversas marcas de roupas, acessórios e objetos para casa, todos feitos com o cuidado de marcas independentes e preocupadas com a origem e o impacto de seus produtos.
Alguns sites bem legais que também abordam o assunto: Review Slow Living e o Estilistas Brasileiros.
Que tal começar a investir mais em peças produzidas de forma autoral e artesanal, feitas no Brasil e em pequena escala?
Depois dessa reflexão e com tantas opções assim, não dá para continuar consumindo do mesmo jeito que antes. E você, conhece mais projetos legais que unem sustentabilidade e moda consciente?
Imagens: Fashion Revolution, True Cost, Unsplash.
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