Dicionário das Tristezas Obscuras traz coleção de palavras inventadas para emoções que não conseguimos explicar
Quando vivemos conscientemente, sentindo os mínimos detalhes do momento presente, muitas vezes não encontramos palavras que possam explicar o que realmente está acontecendo. Há apenas a expansão dos sentidos, uma experiência da nossa sensibilidade no mais alto grau de percepção, dando sequência a uma série de emoções sem nome.
Para dar forma à complexidade de tais impressões, o designer gráfico norte americano, John Koenig, criou o Dicionário das Tristezas Obscuras (The Dictionary of Obscure Sorrows), onde inventa, com profunda sensibilidade, nomes para expressões ausentes em qualquer idioma já visto, lido, escutado ou dito.
Inicialmente, Koenig começou seu novo dialeto de forma simples. Com o tempo, o feedback foi tão avassalador através da internet que o Discovery Institute, responsável por vários canais como Discovery Channel e Discovery Home & Health, decidiu produzir uma websérie, unindo vídeos belíssimos às criações linguísticas de Koenig.
Confira algumas das sacadas geniais:
1. Adronitis
Frustrar-se com a quantidade de tempo necessário para se conhecer bem alguém.
2. Aimonimia
Medo de que aprender o nome de algo – um pássaro, uma constelação, uma pessoa bonita – irá estragar tudo. Transformando uma descoberta do acaso em uma casca conceitual vazia.
3. Altschmerz
Exaustão diante dos problemas que você sempre teve – as mesmas falhas e ansiedades entediantes que vêm lhe atormentando por anos.
4. Ambedo
Tipo de transe melancólico no qual você se torna completamente absorto por pequenos detalhes sensoriais – pingos de chuva escorrendo pela janela, árvores altas se dobrando lentamente com o vento, espirais de creme se formando no café – levando a uma devastadora constatação da fragilidade da vida.
5. Anchorage
Desejo de segurar o tempo enquanto ele passa, como tentar se segurar em uma pedra diante de uma forte correnteza bem no meio de um rio.
6. Anecdoche
Conversa em que todo mundo está falando mas ninguém está ouvindo.
7. Anemoia
Nostalgia de um tempo no qual você nunca viveu.
8. Anthrodynia
Estado de exaustão ao perceber como as pessoas podem ser horríveis umas com as outras.
9. Chrysalism
A tranquilidade confortável de se estar dentro de casa durante uma tempestade.
10. Ecstatic Shock
Onda de energia que surge ao olhar de relance para alguém que você gosta.
11. Ellipsism
Tristeza por não ser capaz de saber como a história vai terminar.
12. Énouement
Sensação agridoce por ter chegado no futuro, visto como tudo aconteceu, mas não poder contar para o seu ‘eu’ do passado.
13. Exulansis
Tendência de desistir ao tentar falar sobre uma determinada experiência porque as pessoas são incapazes de se relacionar com ela.
14. Gnossienne
Momento em que você percebe que alguém que você conhece há anos, tem uma vida interna, privada e misteriosa.
15. Jouska
Conversa hipotética que você repete compulsivamente na sua cabeça.
16. Kairosclerosis
Momento em que você percebe que está feliz – e tenta conscientemente aproveitar essa sensação – o que obriga seu intelecto a identificar e colocar a sensação em um contexto, onde a felicidade lentamente se dissolve até se tornar pouco mais do que um retrogosto.
17. Kenopsia
Atmosfera misteriosa e desamparada de um lugar que normalmente está cheio de gente, mas que agora está abandonado e quieto.
18. Lachesism
Desejo de ser atingido por um desastre – sobreviver a uma queda de avião, ou perder tudo em um incêndio.
19. Lalalalia
Dar-se conta, enquanto fala sozinho, que outra pessoa pode estar escutando, levando-o- a rapidamente transformar as palavras em um cantarolar sem sentido.
20. Lapyear
Idade em que você se torna mais velho de quando seus pais eram quando você nasceu.
21. Lethobenthos
Hábito de esquecer o quão importante uma pessoa é para você, até o momento em que você a encontra pessoalmente.
22. Liberosis
Desejo de se importar menos com as coisas.
23. Mimeomia
Frustração ao perceber o quão facilmente você se encaixa em um estereótipo.
24. Monachopsis
Sentimento sutil, porém persistente, de estar fora de lugar.
25. Moriturism
Perceber, como um solavanco durante um momento de insônia, que você vai morrer.
26. Nementia
O esforço que vem logo após um momento de distração, para lembrar porque é mesmo que você está se sentindo irritada, ou ansiosa, ou animada.
27. Nodus Tollens
Dar-se conta de que o roteiro da sua vida já não faz o menor sentido.
28. Occhiolism
Dar-se conta da pequenez da sua perspectiva. Com a qual você não tem como chegar a qualquer conclusão significativa sobre o mundo, o passado, ou as complexidades da cultura.
29. Onism
Frustração de estar preso em apenas um corpo que habita apenas um lugar por vez.
30. Opia
Intensidade ambígua de olhar alguém nos olhos, e sentir-se simultaneamente invasivo e vulnerável.
31. Reverse Shibboleth
Prática de atender o telefone com um “alô?” genérico, como se você já não soubesse quem está ligando.
32. Rückkehrunruhe
Sentimento de voltar para casa depois de uma viagem imersiva, e perceber que toda a experiência já está desaparecendo rapidamente da sua consciência.
33. Sonder
Dar-se conta de que cada pessoa tem uma vida tão vívida e complexa quanto a sua – populada por ambições, amigos, rotinas, preocupações e loucura.
34. Scabulous
Sentir orgulho de uma cicatriz. Como um autógrafo dado a você pelo mundo.
35. The Bends
A frustração ao perceber que você não está aproveitando uma experiência tanto quanto deveria.
36. Trumspringa
A tentação de sair da sua meta de carreira e se tornar pastor de ovelhas nas montanhas.
37. Vemödalen
Frustração ao fotografar algo incrível quando milhares de outras fotos idênticas já existem.
38. Vemödalen
Medo de que tudo já tenha sido feito.
39. Waldosia
Olhar para todos os rostos em uma multidão, procurando uma pessoa específica que não teria motivo algum para estar aí.
40. Zenosyne
Sensação de que o tempo está passando cada vez mais rápido.
Não se trata de uma tentativa de condensar emoções e rotulá-las em novos conceitos. O “Dicionário das Tristezas Obscuras” é, em si mesmo, poesia. São ideias e sensações sublimadas em arte.
Não são palavras prisioneiras das limitações próprias do que se define. O trabalho de Koenig é criação, expressão livre e artística, que proporciona a identificação com a subjetividade humana.
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