Em 1946, mais de vinte anos antes de suas ilustrações pouco conhecidas e adoráveis para Alice no País das Maravilhas, o icônico artista surrealista Salvador Dalí foi contratado pela criativa e ambiciosa editora Doubleday (que também lançou uma série de livros com impressionante arte de capa de Edward Gorey e contratou o jovem Andy Warhol como artista freelancer) – para ilustrar Os Ensaios (de Michel De Montaigne) em uma edição limitada especial de 1.000 cópias.
Dalí, com 42 anos na época e já um ávido admirador da mente de Montaigne, aproveitou a oportunidade. O que resultou, publicado em 1947, foi nada menos que uma obra-prima – uma interseção de literatura e arte, de dois talentos formidáveis.
Salvador Dalí criou “37 obras que ilustraram sua própria seleção do Essais de Montaigne”, e “seu interesse neste livro foi devido à ‘grande curiosidade do filósofo sobre todas as expressões da humanidade'”.
Para nosso deleite, aqui estão algumas páginas coloridas e gravuras em preto e branco do mestre do surrealismo. Suas ilustrações são sobrenaturais, apropriadamente surrealistas, além de trazerem uma certa bizarrice, tão conhecida nos trabalhos de Dalí.
MICHEL DE MONTAIGNE
Michel de Montaigne foi um filósofo, escritor e humanista francês. É considerado o inventor do gênero ensaio pessoal quando publicou sua obra Ensaios, em 1580.
Foi influenciado por diversas correntes filosóficas, sobretudo pelo humanismo renascentista, que estava inspirado no antropocentrismo (homem como centro do mundo). Seu Ensaios, publicados entre 1580 e 1588, o tornaram famoso ainda em vida, inspiraram os filósofos do Iluminismo.
“O mundo é movimento; tudo nele muda continuamente. Não posso fixar o objeto que quero representar: move-se e titubeia. É pois no momento mesmo em que o contemplo que devo terminar a descrição; um instante mais tarde não somente poderia encontrar-me diante de uma fisionomia mudada, como também minhas próprias ideias possivelmente já não seriam as mesmas.”
Montaigne demonstrava preocupação com a condição existencial do ser humano. A ilustração “Que Estudar Filosofia é Aprender a Morrer”, por exemplo, está no Capítulo XVII. Perto desta ilustração em particular, Montaigne afirma: “Todo dia viaja em direção à morte: o último só chega a ele…” e que, “há as boas lições que nossa mãe Natureza ensina” (310).
As páginas antes e depois desta ilustração se concentram no fato de que todos morrem, e que realmente não deveria ser tão assustador quanto todo mundo faz parecer.
Dalí incluiu crânios em muitas de suas obras. Os crânios podem ser vistos assim, como uma “imagem aterrorizante da morte”.
OS ENSAIOS DE MONTAIGNE
Ensaios (Essais em francês) é uma coletânea de obras escritas pelo francês Michel de Montaigne (1533-1592), publicada pela primeira vez em 1580. Foi pioneira no gênero literário ensaio – e consiste em relatos de experiências de sua vida.
No geral, diversos assuntos são expostos no livro, sem ordem aparente: medicina, livros, assuntos domésticos, doença, morte, dor, sabedoria, solidão filosófica, etc.
Os Ensaios vão da dissimulação ao relativismo e trata das formas de se interpretar o Novo Mundo. Montaigne marca um percurso importante no estudo do conhecimento humano.
Num primeiro momento ele destrói progressivamente a imposição de interpretações já estabelecidas proporcionando aos leitores uma compreensão diferente, ao pensar sobre as coisas do mundo a partir de um ponto de vista pessoal.
O livro ‘Ensaios’ em inglês é de domínio público, portanto, se você curte ler está disponível para download gratuito!