Emerson Dias é um ilustrador brasileiro que mora no interior de São Paulo, na cidade de Hortolândia. Seu contato com o desenho começou desde cedo. Quando criança gostava muito das atividades artísticas na escola, mas diferente de alguns garotos e garotas, ele nunca parou de rabiscar.
Uma das coisas que marcaram Emerson a continuar a criar na época era o desenho Dragon Ball Z. O artista diz que a animação foi um marco para ele e para sua geração: “Nós crianças da época copiávamos muito os personagens, havia até uma certa competição para ver quem melhor criava melhor usando folha vegetal.”
Aos 11 anos de idade, teve que mudar de escola. O local era inteiramente grafitado e ali descobriu um universo extremamente novo. Foi assim que começou a redesenhar toda Street Art que via pela cidade. De tanto fazer isso, começou a desenvolver o seu estilo, próprios conceitos e ideias.
Quando foi para a Faculdade escolheu o Design, para manter o contato com a sua grande paixão, a arte. As referências das aulas de história da arte e o conhecimento de artistas importantes abriram a sua cabeça para um novo mundo. Ele gostava de aprender também sobre o processo de composição de cada obra, o que o fez evoluir cada vez mais.
Hoje trabalhando como freelancer, Emerson transforma todas as suas inspirações em ilustrações únicas, com traços cheios de curvas e composição de cores brilhantes. O resultado final é realmente sensacional! Confira entrevista que fizemos com o artista:
FTC: Há quanto tempo cria e quais materiais utiliza?
Por toda minha vida sempre levei o desenho como hobby, não me importava com técnicas, não me preocupava em ser bom, era uma válvula de escape apenas. Viver dos meus desenhos era um sonho muito distante que eu preferia não me iludir com isso, porém, tive pessoas que acreditaram em mim. Em 2013, fiz meu primeiro trabalho remunerado para um evento da faculdade FGV e assim dei início a minha carreira. Desde então, venho engatinhando e tropeçando, tudo com muita paciência.
Em relação aos materiais, o que eu mais uso atualmente é o computador e a famosa caneta e papel. Todas minhas ilustrações eu faço à mão e finalizo no digital. Utilizo esses materiais mais pela facilidade e praticidade, mas trabalho também com aquarela, já fiz alguns murais, pinto telas, gosto de testar todos os suportes possíveis.
FTC: Qual sua rotina de criação?
Minha rotina de criação é bem variada. Quando são trabalhos comerciais, tento manter um cronograma e uma certa disciplina, embora seja difícil para mim. Quando são projetos pessoais para portfólio e outros fins, a rotina é não ter rotina. O trabalho flui de uma forma mais natural. Gosto de desenhar principalmente na parte da noite, sinto uma calma e há um silêncio necessário para a minha criação.
FTC: Qual a influência das cores nos seus trabalhos?
Antigamente eu não dava muita importância para as cores. Para mim, não era relevante, o importante era o traço. Hoje penso muito diferente! As cores são extremamente importantes para a composição, assim como os traços. Os tons funcionam de forma intuitiva. Não me aprofundei em teoria de cores, então o que eu faço é tentativa e erros até achar algo que funcione.
As cores para mim não precisam ser descritivas, por exemplo se eu pinto uma árvore, ela não necessariamente tem que ter o tronco marrom e as folhas verdes. Gosto daquelas que confundem. Por exemplo, o azul que parece verde, o roxo que parece azul ou aquele laranja que parece amarelo.
FTC: Está tocando algum projeto específico atualmente?
Sim! Estou muito empolgado com o projeto que estou realizando! Estou produzindo algumas gravuras a partir do processo de serigrafia. A série contém três artes e cada uma delas terá apenas 30 impressões. O interessante desse projeto é que estou mergulhado 100% no processo, colocando a mão na massa mesmo, dedicando atenção total a cada peça. Tenho aprendido muito e evoluído.
É diferente de outros jobs em que só faço a ilustração e não tenho mais poder no desenho entregue. Esse processo e o aprendizado é até mais gratificante que o resultado! Estou criando também uma série com o tema ‘Coração’. São corações de todas as formas, estilos e cores.
FTC: O que é arte para você e como você definiria a sua arte?
A arte foi o melhor meio que achei para me expressar. Quem me conhece sabe que sempre fui uma pessoa mais introspectiva, sempre fui tímido e eu falo muito pouco, então a arte serve para me comunicar com o mundo, expor meus pensamentos, minhas posições e meu modo de ver a vida. Hoje eu não consigo me diferenciar muito do meu trabalho: se minha arte não vai bem, é porque eu não estou bem e vice-versa.
Minha arte é a mistura do que eu vivo com o que eu imagino, ela muda todos os dias, não é muito concreta, é uma metamorfose. Gosto de usar a linha como forma de textura e usar cores que transmitem vida, tento me aperfeiçoar e ser diferente, criar meu próprio estilo e códigos, a ponto das pessoas reconhecerem meus traços sem precisar de assinatura.
Quando desenho personagens dou evidência para os olhos. O que eu faço são olhos vazios tirando assim as expressões para que eles fiquem com um rosto neutro. Nem tão felizes e nem tão tristes, como se fossem máscaras. Isso surgiu a partir do meu contato com Picasso e Paul Cézanne.
FTC: Com o que você se inspira?
Acho que com a vida em geral. Uma vez, um professor meu disse: ” Todo artista possui antenas que captam e antecipam tudo ao redor.” Eu me identifique com essa frase e tento fazer isso no meu dia a dia. Estou realmente sempre atento a situações e temas em que eu possa me manifestar graficamente.
Me inspiro também com música, filme, fotos, pessoas e até frases de Facebook. Confesso que as vezes meus desenhos são releituras de desenhos animados ou de artistas antigos, e grande parte surge a partir de sonhos que tenho e da minha imaginação.
FTC: 5 sites que adora visitar;
Behance, Hypeness, Zupi, Follow the Colours (claro) e Afropunk.
FTC: Qual dica daria para quem quer começar a desenhar?
Sempre é complicado responder perguntas desse tipo porque eu me considero iniciante ainda. Estou caminhando, cada dia é um novo começo e tenho muita coisa pra realizar. Também acredito que não exista um caminho certo.
Cada um vai fazer a sua arte levando em conta suas particularidades, mas tem coisas que não mudam. A dedicação, disciplina, saber que você é capaz, que não existe mágica nesse sentido, e também compreender os processos dos artistas que admira, tem sido ótimas dicas para mim!
Acompanhe o trabalho de Emerson Dias no Behance, Instagram e Facebook.