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[Entrevista] Explorando o mundo através das lentes: Steve McCurry

Steve McCurry fala sobre suas inspirações e como a tecnologia pode imortalizar as histórias contadas por meio de sua fotografia;

Steve McCurry, membro do coletivo fotográfico internacional Magnum Photos e fotógrafo por trás do icônico retrato “Afghan Girl”, desempenhou um papel significativo na fotografia contemporânea por mais de quatro décadas.

Através de suas lentes, McCurry documentou conflitos mundiais, culturas à beira da extinção, tradições antigas e a sociedade moderna de maneira expressiva e pessoal. Das movimentadas ruas da Índia às zonas de guerra ativas no Afeganistão, suas fotografias transcendem simples imagens, sendo verdadeiras janelas para a experiência humana.

“Afghan Girl”: Sharbat Gula tinha cerca de 12 anos quando o fotógrafo Steve McCurry tirou sua foto;

Magnum Photos

Magnum Photos é um coletivo de fotógrafos de imprensa mundialmente famosos. Com sedes em Nova York, Londres, Paris e Tóquio, as imagens são fornecidas para meios de comunicação, editores, anunciantes, televisão, galerias e museus ao redor do mundo.

A biblioteca fotográfica da Magnum é um arquivo dinâmico de novos trabalhos, atualizado diariamente com contribuições de todo o mundo. A coleção também está disponível em parceria para The Frame, a TV Lifestyle da Samsung.

Em entrevista exclusiva, McCurry falou sobre sua inspiração e como a tecnologia pode imortalizar as histórias contadas por meio de sua fotografia. Confira:

Steve McCurry

Descobrindo a universalidade através da lente de uma câmera

Há algum momento ou experiência significativa que influenciou a forma como você aborda seu trabalho como fotógrafo?

Sempre tive vontade de viajar e ultrapassar limites. Depois de me formar na Universidade Estadual da Pensilvânia e trabalhar em um jornal por dois anos, comprei uma passagem só de ida para a Índia com o dinheiro que havia economizado. Passei dois anos viajando pela Índia e pelo Nepal, fotografando para diversas revistas.

Na Primavera de 1979, fiquei num pequeno hotel em Chitral, no Paquistão – onde conheci alguns refugiados afegãos do Nuristão que me explicaram que diversas aldeias da sua região tinham sido destruídas. Eu disse a eles que era fotógrafo e eles insistiram para que eu fosse até lá e fotografasse a guerra civil. Eu nunca tinha fotografado uma área de conflito antes e não sabia como reagir.

Maimana, Afeganistão, 2003, por Steve McCurry;

Depois de alguns dias, fomos caminhando pelas montanhas até chegar no Afeganistão, onde passei quase três semanas fotografando a vida lá. Fiquei surpreso ao ver tantas aldeias praticamente destruídas e abandonadas. As estradas estavam todas bloqueadas ou sob controle do governo, então tivemos que caminhar por toda parte. Durante esse período, conheci algumas pessoas das quais me aproximei.

Fiquei tocado pela cultura e beleza do país. Era um modo de vida diferente, desprovido das conveniências modernas, e fui atraído pela simplicidade desse estilo de vida. Tudo foi reduzido ao básico, e essa essência me fez retornar ao Afeganistão repetidas vezes.

Você é reconhecido por capturar emoções cruas e momentos íntimos. Como você constrói confiança com quem você fotografa, especialmente em ambientes culturalmente diversos?

Na minha experiência, a maioria das pessoas é acessível. Acredito que, depois de explicar o que você está fazendo e como podem se envolver no processo, as pessoas se abrem e permitem que você as fotografe.

Minhas fotografias refletem a maneira como observo o mundo e o que me rodeia. Meu objetivo é encontrar algum tipo de universalidade entre as pessoas em uma enorme variedade de condições. Se eu for bem-sucedido, meu trabalho artístico deverá ser compreendido de forma universal por qualquer pessoa que tenha experimentado a condição humana, independentemente de suas circunstâncias.

Você tem uma fotografia favorita entre as suas obras?

Uma das minhas fotos favoritas foi tirada quando eu estava em uma parte antiga do Rajastão, na Índia. A cidade inteira está pintada com uma maravilhosa cor azul. Em uma esquina, deparei-me com a descoberta de que crianças tinham deixado marcas de mãos na parede durante um festival. Surgiu a ideia: “Que bela imagem seria se eu conseguisse capturar pessoas entrando ou saindo do enquadramento”. Depois de permanecer parado por cerca de duas horas, um menino entrou correndo e eu o capturei no meio do caminho. Fiquei – e ainda estou – feliz com essa foto.

“Boy Playing”, Jodhpur, Índia (2007);

Da lente à sala de estar

Exibir sua arte na The Frame é diferente de exibi-la em museus e galerias?

A The Frame permite aos usuários transformar a TV em uma exposição de arte dinâmicas. Eles podem exibir em suas casas imagens que talvez não tenham a oportunidade de ver pessoalmente nos museus. Embora nada se compare à experiência de ver obras de arte pessoalmente, é uma ótima maneira de vivenciar a arte no conforto do lar.

Quais obras você recomendaria aos usuários? Dê uma breve explicação de cada uma.

Durante séculos, no Tibete, bandeiras de oração adornadas com escritos sagrados foram penduradas acreditando-se que a boa vontade e a compaixão se espalhariam por todos os seres vivos à medida que o vento passasse sobre elas.

“Prayer Flags”, Tibete (2005);

Passei duas semanas acompanhando vendedores de flores enquanto eles comercializavam seus produtos ao longo das margens do Lago Dal, na Caxemira, Índia. O ato de comprar e presentear flores está profundamente enraizado nas tradições da região, sendo uma parte integrante tanto da estética quanto da economia local. As shikaris, repletas de flores, proporcionavam uma profunda sensação de tranquilidade, criando um contraste bem-vindo com a agitação da cidade vizinha.

“Dal Lake”, Srinagar, Caxemira (1999);
“Boat in India”, Srinagar, Caxemira (1999);

Fotografia na Era Digital

Pode descrever se e como a tecnologia mudou a forma como você trabalha ao longo dos anos?

Durante a maior parte da minha carreira, trabalhei exclusivamente com filmes, mas atualmente, fiz a transição completa para a tecnologia digital. Embora isso não tenha mudado a forma como encaro o meu trabalho ou a forma como fotografo, a tecnologia sem dúvida transformou o processo, possibilitando-me trabalhar com muito menos luz e em situações mais complexas do que era possível no passado. No entanto, as mesmas verdades se aplicam a qualquer imagem, independentemente da técnica utilizada para criá-la. Há impermanência em todas as coisas e nostalgia em relação ao passado, mas eu prefiro direcionar meu olhar para o futuro.

Como o formato digital se compara a outras plataformas onde você compartilhou seu trabalho?

Cada meio tem suas vantagens. A arte digital é praticamente permanente, e a exposição ao calor e à luz não afeta as cores, embora a escolha da plataforma possa depender da preferência pessoal. Muitos museus enriquecem suas exposições com apresentações multimídia, mesclando diferentes formatos. Será fascinante observar o que o futuro nos reserva, à medida que a tecnologia continua a evoluir.

A The Frame, por exemplo, proporciona uma experiência encantadora para apreciar fotos em um ambiente mais íntimo. Lembro-me de sair de um avião e ver uma de minhas fotos em uma tela enorme no aeroporto JFK, em Nova York. Foi surreal ver meu trabalho apreciado por milhares de pessoas que passavam pelo terminal. Da mesma forma, as pessoas conseguem ver arte com mais conforto, adicionando uma nova dimensão à experiência.

Na era digital, em que a maioria das pessoas utiliza seus telefones como câmeras, qual é a sua visão sobre a evolução do papel dos fotógrafos profissionais?

O meio, a plataforma ou a tecnologia — seja Instagram, digital ou filme — não são elementos cruciais. A fotografia de sucesso precisa contar histórias e ser criativa, tendo sua própria interpretação e voz para expressar o que é importante para o fotógrafo e transmitir essas emoções por meio de suas fotografias.

O que está planejado para o próximo ano em sua agenda?

Em breve, viajarei para a Antártica, dedicando-me à criação de um novo livro de contos.