Colagem por Taine Gonçalves
Em meio às revoltas e protestos geradas pelo assassinato de George Floyd nos Estados Unidos que repercutiram mundialmente, vem ocorrendo reações diversas em vários segmentos, dentre eles, o cultural onde monumentos que homenageiam personalidades históricas conhecidas pelo ódio ao povo e a cultura Afro foram tombados. Assim gerando reflexões das mais variadas, sobretudo o quanto pessoas talentosas, de opinião forte e com conhecimentos diversos foram apagadas da história pelo grande problema estrutural que o racismo traz consigo.
Por isso, é importante (mesmo que aparentemente tardio) buscarmos entender de onde toda essa adversidade se origina e nos munir com conhecimento para combatê-lo, incluindo o contexto feminino e brasileiro. Uma boa forma de incursão a esse problema sistemático é a leitura. Buscando facilitar o caminho a quem interessa, sugerimos de início, algumas escritoras pretas que percorrem por esse tema e outras que tiveram toda obra de uma vida esquecida:
ANGELA DAVIS
A filósofa norte-americana e ativista dos direitos civis, Angela Davis tornou-se um ícone do feminismo negro no mundo. Em uma das suas obras mais conhecidas, Mulher, Raça e Classe retrata a opressão causada pela escravidão e por consequência a desumanização da mulher preta. E elabora com coerência argumentos do porquê é necessário considerar a intersecção de raça, classe e gênero para possibilitar um novo modelo de sociedade.
Já em sua autobiografia, intitulada na versão brasileira como, Uma Autobiografia percorremos a sua vida desde a infância até os seus então 28 anos, narrando as perseguições políticas que a impossibilitaram de ingressar na carreira acadêmica, a prisão, a fuga e muito mais. Uma história preciosa e essencial.
CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE
Nascida na Nigéria, Chimamanda é uma grande romancista da nossa geração que tomou notoriedade por servir de inspiração para Beyoncé na música Flawless, após seus famosos discurso na conferência TED.
Suas obras retratam a terra natal e muitos dos costumes do povo nigeriano, estes são Meio Sol Amarelo e Hibisco Roxo, mas foi com Americanah que chamou a atenção ao apresentar os problemas da imigração nos Estados Unidos, além do preconceito sofrido pela mulher negra, em meio a tudo isso se passa uma história de amor emocionante. Seus romances foram premiados e se tornaram objeto de estudo.
DJAMILA RIBEIRO
O seu livro Pequeno Manual Antirracista tornou-se um dos livros mais requisitados no momento. Mas muito além dessa leitura necessária, a mestra em filosofia política apresenta outras publicações fundamentais, como Quem tem medo do feminismo negro? e O que é lugar de fala?
CONCEIÇÃO EVARISTO
De origem humilde, Conceição Evaristo saiu de Belo Horizonte e se graduou em letras pela UFRJ. Hoje Doutora em literatura comparada e vencedora do Prêmio Jabuti, tornou-se uma uma grande representante da literatura contemporânea e referência do ativismo preto no Brasil.
Versátil, Conceição é romancista, contista e poeta, a essência de suas obras está na experiência de vida da mulher negra. Misturando ficção com realidade, discute em seus textos as grandes desigualdades raciais do país. Sua estreia veio com poemas na série Cadernos Negros, mas foi em 2003 que nasceu o seu primeiro romance, Ponciá Vicêncio, que posteriormente tornou-se objeto de tese e leitura obrigatória para vários vestibulares. Outras publicações interessantes são Becos da Memória e Canção para ninar menino grande.
CAROLINA DE JESUS
Carolina encarou a miséria durante toda a sua vida. Saída de Minas Gerais para São Paulo, passou por despejo e tornou-se moradora de rua. Dessas experiências acabou tirando inspiração para os seus textos.
Quarto de despejo: diário de uma favelada, seu primeiro romance, transpõe as mazelas de quem vive em condições de extrema pobreza, servindo posteriormente como instrumento de denúncias social. Apesar do sucesso da publicação, Carolina de Jesus morreu na pobreza e acabou no esquecimento.
É perceptível que a conquista de direitos no mundo deu-se muito pelo privilégio majoritário pautado no gênero e na cor de pele, e que combater esse problema sistemático vem sendo um processo lento, porém resistente. Cabe a cada um que acompanha as injustiças raciais ou até mesmo se sente incomodado, encontrar sua forma de aprender como lutar contra elas.
Já que o conhecimento é considerado uma “arma”, que leiamos mais autores negros, mais escritoras mulheres. É claro que existe um arsenal de autoras negras, essa lista é apenas um incentivo para quem pretende começar sua jornada.