A breve história (louca) por trás das 8 cores mais raras do mundo

Há aproximadamente 100 anos, Edward Waldo Forbes – historiador de arte e ex-diretor do Fogg Art Museum – iniciou uma busca mundial por cores. Com mais de 3.000 amostras de materiais (entre pós, insetos, plantas e outras fontes), Forbes conseguiu montar uma coleção inigualável de pigmentos, como se fosse uma biblioteca de cores, hoje conhecida como The Forbes Pigment Collection. O acervo pertence ao Harvard Art Museums, e traz estudos de corantes de todas as tonalidades, incluindo matizes metálicas e fluorescentes.

Parte do resultado desta catalogação foi publicada recentemente no Atlas of Rare & Familiar Colour, com as descrições, histórias e imagens de cerca de 200 amostras, cuidadosamente fotografadas por Pascale Georgiev. E aqui estão alguns dos pigmentos mais curiosos da coleção. Confira:

AS CORES MAIS RARAS DO MUNDO

 

1 – O AMARELO FEITO DE URINA DE VACA

A história do Indian Yellow (amarelo indiano) diz que as pessoas na aldeia de Mirzapur, em Bihar, na Índia, alimentavam suas vacas exclusivamente com folhas de manga para deixar a urina dos animais com um tom amarelo e brilhante, ideal para transformar em corante. Vendido na forma de esferas do tamanho de bolas de golfe, seu processo conta apenas com uma testemunha ocular em 1883 que descreveu exatamente como o pigmento era produzido.

Apesar da referência delicada, uma análise química mais recente também mostra que há metabólitos de animais e plantas no pigmento, acrescentando mais evidências científicas ao relato. (Aqui, já trouxemos 50 curiosidades sobre a cor amarela. Vale a pena ler!)

 

2 – O AZUL MAIS CARO QUE OURO

O Azul Ultramarino foi criado com a mineração da pedra lápis lazuli, nas pedreiras de Badakshan (atual Afeganistão) na Idade Média. Seu custoso transporte percorria montanhas e mares, o que configurou o pigmento incrivelmente mais caro que o ouro – e um ícone de status social na época. Seu alto valor exigia uma nota de cobrança separada da nota da pintura, e para estender suas reservas do valioso corante, os artistas às vezes pintavam com azurita, uma substância mais barata, e depois o cobriam com uma camada muito fina do Azul Ultramarino.

Este pigmento pode ser encontrado no manto da Virgem em The Virgin and Child, de Sandro Botticelli, de 1490. Finalmente desvalorizou em 1826, quando um químico descobriu uma versão sintética, tornando a cor azul brilhante muito mais amplamente disponível. (Aqui, já falamos sobre 50 curiosidades sobre a cor azul. Vale a pena ler!)

3 – O ROXO SECRETADO POR MOLUSCOS

O corante púrpura do Tyrian era feito de um líquido secretado por moluscos encontrados na costa mediterrânea e na costa atlântica europeia. Eram necessários 12.000 moluscos colhidos para criar 1,4 gramas da substância, pois apenas uma única gota poderia ser extraída de cada animal. Isso tornou seu preço elevadíssimo e, consequentemente, um símbolo de riqueza na época grega e romana para tingir togas, e na Idade Média para decorar manuscritos.

O corante atingiu seu fim em 1856, quando um químico retirou o malte de pigmento do alcatrão de carvão – muito mais barato – e conseguiu uma tonalidade similar. (Aqui, contamos um pouco mais sobre esse processo e mais curiosidades sobre a cor roxa!)

 

4 – MARROM MÚMIA

As múmias antigas foram usadas para o reaproveitamento do linho, transformar em papel e até como combustível ao queimarem seus restos fósseis. Sua transformação em pigmento talvez seja o reuso mais místico – sim, a etiqueta da amostra identifica: “Pigmento betuminoso de múmias embalsamadas com asfalto”, e foi produzida prensando corpos mumificados. Sua origem advém de diversos experimentos realizados em uma busca obsessiva pelo belo e distinto marrom dos mestres Rembrandt e Ticiano.

No entanto, até onde os químicos de arte sabem, não foram identificadas pinturas que usaram o Marrom Múmia – há apenas histórias e amostras, como a da coleção. A busca continua, pois atualmente a equipe do Museu está examinando uma pintura de Juan Pantoja de la Cruz, pintor da corte espanhola, antes de Diego Velázquez, que afirmou em seus diários o uso do Marrom Múmia em sua obras.

5 – O VERMELHO ÁCIDO FEITO DE INSETOS

O vermelho não era uma cor muito usada na Europa Medieval, pois o inseto kermes – que produz o pigmento – era muito difícil de obter. Quando os espanhóis colonizaram o Novo Mundo, perceberam o largo uso da cor vermelha nos têxteis dos nativos e descobriram que eles usavam um inseto diferente para produzir o pigmento vermelho: a cochonilha. As cochonilhas produzem ácido carmínico para defender-se da predação por outros insetos e essa substância era extraída para fazer o corante.

Na verdade, os astecas não apenas colhiam, mas cultivavam os insetos com este fim, e a sociedade pagava tributos aos governantes pelo comércio.

Logo também virou um negócio lucrativo para os espanhóis. Depois de conquistar a América Latina, a cochonilha trouxe ao Império Espanhol enorme riqueza – foi a segunda mercadoria mais lucrativa para o império, apenas depois da prata. Hoje, o Peru exporta mais cochonilha do que quando o Império Espanhol governou. São necessários cerca de 70.000 insetos esmagados e fervidos para produzir apenas 450 gramas deste corante. Bilhões de insetos até hoje são criados e destruídos todos os anos para colorirem batons, biscoitos, sorvetes e qualquer item que façam referência ao morango, cereja e frutas vermelhas, basta olhar o rótulo de seus produtos. (Veja mais curiosidades sobre o vermelho aqui!)

6 – O AZUL INORGÂNICO

The Forbes Pigment Collection se concentrou nas cores históricas durante a maior parte de seus estudos. Todavia, em 2005, os pesquisadores decidiram incluir corantes recém-produzidos como o Vantablack (que absorve 99,967% da luz) e o YInMn Blue, descoberto em 2009 pelo professor Mas Subramanian da Universidade Estadual de Oregon. Esta última cor é o novo pigmento azul criado em mais de 200 anos, e o primeiro pigmento sintético inorgânico azul (ou seja, feito pelo homem, com compostos que não incluem carbono, oxigênio ou nitrogênio) desde que o Cobalto foi descoberto, em 1802. É um marco tecnológico na história das cores, tanto que a Crayola já transformou o YInMn Blue em um giz chamado Bluetiful.

7 – O VERDE INSETICIDA

O acetatoarsenito de cobre é uma substância brilhante e sedutora feita de um pó altamente tóxico, mas que produz um verde intenso esmeralda (Emerald Green). Começou a ser comercializado em 1814 como pigmento para tintas e está inserido em inúmeros quadros pintados durante o século XIX. Foi utilizado por pintores impressionistas e pós-impressionistas, incluindo Van Gogh – e seu autorretrato de 1888 dedicado a Paul Gauguin (também entusiasta da cor) fez amplo uso do pigmento venenoso.

Após se atribuir a culpa ao corante pelos envenenamentos de algumas pessoas que pintavam quadros, o composto foi completamente banido das tintas. Em 1867, a substância foi utilizada como inseticida no combate a pestes e ratos em esgotos parisienses – daí seu nome, também conhecido como Paris Green(Veja mais curiosidades sobre o verde aqui!)

8 – O AMARELO TÓXICO EM BRINQUEDOS

 

O amarelo cádmio foi uma cor tóxica usada em diversos brinquedos até a década de 1970, incluindo bonecas Barbies, Pequeno Pônei e Lego. Um estudo recente mostrou que brinquedos de segunda mão, provavelmente de eras anteriores com padrões menos rígidos, podem ter traços de cádmio, arsênico, chumbo e produtos químicos mais prejudiciais. A exposição prolongada a esses elementos (que eram em sua maioria da cor amarela, vermelha ou preta) é prejudicial mesmo em quantidades baixas, podendo gerar distúrbios de comportamento, alterações genéticas, reações cutâneas, bronquiais e outras.

E você? Conhecia essas histórias das cores mais raras do mundo?

Via

Por Marjorie Simões

Marjorie Simões é designer de interiores e artista visual. Curiosa, observadora e pesquisadora, adora aprender coisas distintas para depois conectá-las. Valoriza os trabalhos manuais, a cultura vernacular, a economia criativa e a produção/consumo sustentável. Acredita no poder das cores e tem leves faniquitos quando entra em ambientes beges.


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