Jacknight cria tatuagens fantásticas com alto nível de detalhes e precisão
Jack Anderson, mais conhecido como Jacknight, tem mais de 10 anos de estrada e sempre é procurado porque desenha muito bem. O mais engraçado? Ele mesmo não tem tatuagens. É de se entender. Jack ilustra tão bem que seria difícil reproduzir apenas uma de suas artes na pele. Nesses últimos anos, todas as tattoos que fez em seus clientes foram criações dele mesmo. O artista brasileiro procura sempre se aprimorar, e se uma arte é feita para um cliente, ele jamais usará em outra pessoa.
Recentemente, Jack abriu o seu estúdio em Fortaleza/CE. O local, chamado de Metal Dog Tattoo, tem apenas dois meses de funcionamento, mas sua agenda já está fechada até abril do próximo ano. O artista tem um estilo muito peculiar e mistura inspirações fantásticas com alto nível de detalhes. Jack também já tatuou desenhos em pontilhismo, aquarela, realismo, todos com excelente execução. Difícil mesmo é achar uma linha torta, um traço grosso ou algum deslize. É muita precisão!
Conversamos com ele para saber um pouco mais sobre suas inspirações:
FTC: Jack, queria que você falasse um pouco sobre você com as suas palavras, contasse o que fazia antes e como foi parar na tatuagem.
Bem, desenho desde que me entendo por gente. Tenho, provavelmente, a maioria dos meus desenhos guardados em caixas com minha idade no verso, desde os três anos, graças a minha avó materna que me estimulou artisticamente desde cedo. Sempre soube que quando crescesse trabalharia com artes gráficas, sempre fui fascinado por ilustrações de todo tipo. O primeiro sonho era ser desenhista da Disney, mas as coisas certamente andaram por um outro caminho.
Fui um moleque um pouco diferente dos outros, sempre preferi desenhar e ler HQs a brincar, ou paquerar garotas. Na adolescência, conheci o Heavy Metal e o Rolling Playing Game (RPG) e suas incríveis ilustrações, foi quando as coisas mudaram e resolvi ser ilustrador, cheguei a abrir uma firma com meu melhor amigo. Não deu certo, claro. Contudo, um dia recebi o pedido de um amigo para desenhar sua tatuagem. Era fascinado por isso desde criança, mas morria de medo, por conta da ignorância e das imposições preconceituosas dos meus pais, mas a curiosidade falou mais alto.
Não demorou muito até eu me tornar um visitante assíduo de um dos estúdios de tatuagem aqui de Fortaleza e em bem pouco tempo fui chamado para compor a equipe. Hesitei durante alguns meses, mas como a oportunidade parecia ser mais interessante e desafiadora do que a faculdade, resolvi largar a publicidade para me focar completamente naquilo que eu sabia que tinha nascido pra fazer, arte. De início foi muito difícil, minha mãe, coitada, chorou horrores, mas quando o dinheiro começou a entrar em casa, o sorriso emplacou na cara da genitora e não saiu de lá até hoje, espero que continue assim. Existem muitos veículos, mas eu acredito que a tatuagem seja a última grande forma de expressão artística desse nosso tempo (apesar de estar por aí desde a antiga Suméria).
Nunca me tatuei, sempre tive essa treta sobre o que fazer no início, vivia cheio de dúvidas, o desenho nunca parecia bom o bastante. Por mais bizarro que seja, fazem dez anos que tatuo e hoje isso ficou meio que engessado. Hoje até sei o que gostaria de fazer, mas não tenho mais saco pra mim. Me amarro muito mais em tatuar os outros, pegar um tema e vencer o desafio em uma imagem que toque de fato meus clientes e amigos, do que fazer alguma coisa em mim. Todos os meus amigos tiram onda porque tenho um pingo azul no antebraço resultado de um acidente quando estava tatuando. O pessoal diz que sou tatuado e sempre digo que tenho que retocar porque o ponto já tá meio cansado.
FTC: Como você define a sua arte?
Olha, vou te ser sincero, definir arte já é algo que considero impossível por natureza, definir a minha forma de produzir arte acho ousadia demais. Eu acho que meu trabalho é apenas exprimir, definir ou não, fica a cargo do expectador. Eu desenho e tatuo o que me toca, eu expresso o que acho que é bom demais pra ficar guardado dentro da minha cabeça e que possa de alguma forma despertar uma perspectiva diferente em quem observa. As interpretações ou definições, se é que existem, eu deixo a cargo da sorte do olhar dos espectadores.
FTC: Com o que você se inspira?
Com uma infinidade de coisas. Se você me fizesse essa mesma pergunta a uns onze anos atrás minha resposta seria muito direta, meu conhecimento sobre técnicas, estilos e artistas era completamente limitado a aquilo que eu escolhia ver, porque não tinha interesse ou acesso para desvendar outros meandros da arte. Hoje eu conheço um caminho modesto que eu costumo chamar de “a estrada carroçal da minha maneira de fazer arte”.
É rustico, duro e lento, mas me serve bem. Me inspiro em imagens, estilos e artistas, mas para fazer meu trabalho, o desafio fica em primeiro lugar. Sensações, técnicas diferentes e contrastes fazem parte das minhas ferramentas para inspirar outras pessoas, Afinal, essa é a função de um artista. O estilo de hachuras de Gustave Doré e Albrecht Dürer tem guiado muitas de minhas últimas obras, mas eu não pretendo parar por aqui.
FTC: Qual foi sua primeira tatuagem em um cliente?
Foi um símbolo tosco de uma banda, a Et-Circensis. O cliente era um amigo, vocalista e guitarrista base da banda. Eu disse que tinha começado a tatuar e precisava de uma cobaia pra fazer uma tattoo, ele foi o primeiro que levantou a mão. Já tinha o desenho dentro da carteira. Eu falei que não sabia tatuar, mas ele disse que sabia que eu era desenhista e que confiava em mim. Coitado. Até hoje não compreendo esse altruísmo. Ajudou muito o fato de o desenho ser tosco e irregular, porque eu estava morrendo de medo e o traço saiu muito tremido, e meus medos se tornaram realidade. No fim ficou perfeito, tão tosco quanto o símbolo da banda. Mais tarde o cara fez um cover up com uma bola 8. Rio ainda hoje quando lembro.
FTC: Está tocando algum projeto especial ou específico atualmente?
Sim, comecei com um projeto paralelo de ilustrações que chamo de The Kapalla Project. É uma série de desenhos inspirados nos crânios de veneração tibetanos, mas com sua representação em crânios ornamentados em diversos outros nichos culturais e históricos. Tem me tomado um bom tempo e estou ansioso para apresentar as peças em prints na loja ou na net, mas como compete com meus horários de tatuagem, ainda vai se arrastar um pouco até ficar pronto.
FTC: Uma frase que você carrega para a vida.
Quando as necessidades são saciadas, o padrão de excelência cai; Esteja sempre fora da sua zona de conforto, é lá que as coisas acontecem.
FTC: 5 coisas que não consegue viver sem.
Desenho, leitura, rock, amigos e minha noiva Iane Rocha.
No Facebook:/djeckenaite. No Instagram: @jacknight_.