Já pensou em levar um pedacinho do seu prédio favorito pra casa? Através das mãos de Jorge Felix, do Estúdio Vãoluz, isso é possível
Jorge Felix é o criativo por trás do Estúdio Vãoluz, que cria quadros que unem o universo da maquete e da decoração pra levar as fachadas dos prédios pra dentro de casa.
Natural da cidade de São Paulo, Jorge se formou em Arquitetura e Urbanismo em 2007, e sempre atuou na área fazendo projetos arquitetônicos e de interiores. Mas desde setembro de 2018 passou a se dedicar ao ofício de uma nova forma.
Aos 44 anos de idade, ele conta que a concorrência em sua área sempre foi muito grande, e que sentiu a necessidade de encará-la com um outro olhar. Foi então que ele pensou em unir todo o seu conhecimento técnico em maquetaria e desenho nos “recortes de fachadas”, que são emoldurados em madeira ou em acrílico transparente.
“Desde o curso técnico em edificações e depois na graduação, visitando as bienais de arquitetura e outras exposições que tivessem desenho técnico como parte dos trabalhos, eu percebia que aquela representação poderia ser uma peça que comunicasse além da informação de projeto, e que poderia também ser decorativa”, ele diz.
O arquiteto já retratou as fachadas de prédios icônicos paulistanos como o Copan, projeto de Oscar Niemeyer, o MASP, de Lina Bo Bardi e o hotel Unique, de Ruy Ohtake, por exemplo. Ele utiliza materiais comuns para maquetes, com os quais ele já tinha familiaridade, como papel paraná, acetato e hastes de madeira. Além disso, também inclui peças criadas por impressora 3D nos seus trabalhos.
O processo de criação começa com uma pesquisa pelo projeto dos edifícios. Essa pesquisa abrange desde sites, livros e também arquivos de prefeitura. Ou ainda pode vir de uma foto que o arquiteto clica de alguma edificação que o atrai na rua. E ele mesmo refaz o desenho da fachada: “Na composição do recorte das fachadas eu sempre penso numa síntese do prédio, no qual o recorte seja a melhor representação daquele edifício”, conclui.
Jorge ressalta que tudo está muito relacionado à memória afetiva que estabelecemos com a arquitetura, e que ele possibilita a ideia de “ter um pedacinho” de um edifício que, por algum motivo, marcou a vida de alguém. Além disso, ele ressalta que tem sido terapêutico o processo de construção das fachadas durante o período de quarentena.
ENTREVISTA JORGE FELIX – ESTÚDIO VÃOLUZ
Jorge Felix deu uma entrevista exclusiva ao FTC onde contou um pouco mais sobre seu interesse pela arquitetura e surgimento do seu trabalho atual. Confere:
FTC: Quando surgiu seu interesse pela arquitetura?
Jorge/Estúdio Vãoluz: Desde criança… Meu pai é mestre de obras e eu me lembro dele levando pra casa plantas pra fazer orçamento… Às vezes ele deixava aberta no chão (não cabia um A0 na mesa de casa) e eu lembro de mim bem pequeno deitado em cima da planta olhando cada detalhe. Então posso dizer que me interessei pela arquitetura desde que eu era menor que uma folha A0! E eu sempre fui muito de fazer meus brinquedos. Como não ganhava muitos brinquedos, então eu fazia. Caixas de embalagem pra mim eram tudo! Um dia descobri que o verso das caixas era um papel em branco… Então eu as abria, desenhava janelas e colava do avesso: era um prédio! Fazia até cidades! Adorava! Custo zero e reciclagem desde criança.
FTC: Qual foi seu momento “a-ha”, seu estalo, para se interessar e criar suas peças?
Jorge/Estúdio Vãoluz: Esse momento foi durante o curso de pós-graduação no SENAC, quando fiz um trabalho sobre a trajetória da representação gráfica na arquitetura. Neste trabalho ficava claro que a busca pela representação tridimensional tinha sempre o objetivo de ser o mais fiel possível à realidade. Aí surgiram os vários tipos de perspectivas, o desenho com sombra, etc. Esse desejo em reproduzir a realidade incluindo as sombras, foi o ponto que me fez organizar todos os insights que eu tive desde a escola técnica, e iniciar os estudos de um trabalho, unindo desenho técnico e maquetaria.
FTC: O que orienta a escolha dos edifícios que você retrata? Qual deles você mais gostou de reproduzir e por quê?
Jorge/Estúdio Vãoluz: Eu comecei pelos edifícios mais icônicos da arquitetura paulista, por dois motivos: São fachadas lindas que eu amo e também seria de fácil aceitação, já que muitas pessoas também conhecem e gostam bastante. Mas também faço de edifícios específicos e aí entra uma outra atividade do trabalho que eu amo: Pesquisar projetos! Tem alguns que eu preciso ir até os arquivos da prefeitura pra garimpar, como foi o caso do Palacete Chavantes, que é um prédio de 1929. Este eu amei fazer, mas também gosto muito do São Felix por causa da madeira nas janelas… Fica lindo com uma luz direcionada.
FTC: O que te dá mais prazer no seu trabalho? E o que dá menos?
Jorge/Estúdio Vãoluz: Gosto muito do fato de ser um trabalho que exige super foco e isso me coloca praticamente num estado de meditação. Esqueço do mundo à minha volta por algumas horas. O que eu menos gosto é de perder a digital do meu dedo indicador por causa da cola!
FTC: Quando viu que dava pra viver disso, ou não dá? Quais as dificuldades nessa carreira?
Jorge/Estúdio Vãoluz: A aceitação do meu trabalho foi bem rápida. Logo nos seis primeiros meses eu já senti que daria pra viver dele, então fui mesclando o trabalho com os quadros e o trabalho com reforma de interiores. Hoje continuo fazendo ambos, mas a procura por reformas diminuiu bastante, o que fez com que eu me dedicasse totalmente aos quadros.
As dificuldades são as de um artista recém-chegado no mercado das artes: Me falta dinheiro para fazer uma série inteira e, com essa renda, ter o capital de giro, pra trabalhar de outra forma, porque no momento as peças são feitas por encomenda e é um desafio equilibrar os boletos com a compra de material pra maquete (que não é barato) e ao mesmo tempo precificar numa faixa acessível.
Acompanhe o trabalho de Jorge Felix no Estúdio Vãoluz através do instagram.