Foi em 2013 que Kalina Juzwiak, mais conhecida como kaju, transformou sua paixão em rotina, e finalmente criou o seu estúdio, o kaju.ink. De lá para cá, muita coisa aconteceu. Hoje, uma soma de pessoas e parceiros desenvolvem projetos diariamente, por meio de diferentes âmbitos e escalas. O objetivo de Kalina é contar histórias visualmente de forma simples e instigante ao mesmo tempo, e isto é feito através da arte e do design. São ilustrações, telas, paredes, identidades visuais, editoriais e embalagens que mostram seu trabalho sensível, de estilo único e ao mesmo tempo dinâmico.
Kaju conta que desde pequena gosta de mostrar seus sentimentos através de ilustrações. Quando chorava, papel e um lápis eram seu refúgio. Quando se tornou jovem, a arquitetura foi um passo importante para sua formação acadêmica, mas foi na arte e no design que ela encontrou os meios para expressar visualmente o que não consegue em palavras.
A arte se tornava também uma válvula de escape, um silêncio em meio ao caos. E as composições de suas telas, um reflexo daquilo que gostaria de ver pelas suas janelas. Hoje Kalina cria suas peças inspirada nos elementos da natureza, nas linhas orgânicas, nos traços das cidades e outras culturas, desenvolvendo detalhes geométricos. Ela conta para o FTC, um pouco mais sobre sua história e inspirações. Confira entrevista:
FTC: Queria que você falasse um pouco sobre você com as suas palavras e como chegou até o seu estúdio, o kaju.ink;
Nasci em Santos, morei grande parte da minha vida em São Paulo, e por algum tempo também no Rio e na Suíça. Por incentivo dos meus pais, a grande paixão foi sempre viajar o mundo. Isso criou um sentimento de curiosidade, de explorar novos lugares, novas culturas, novos costumes. Eles incentivavam minhas irmãs e eu a contarmos as histórias e recordações de cada lugar, de forma visual. Ao invés de um diário escrito, eram desenhos. Elas desenvolveram um encanto pela musica, e eu pelas ilustrações.
Na hora de escolher um curso para me chamar de profissional, acabei optando pela arquitetura. Ela que de alguma forma unia os meus gostos entre as humanas e exatas. Diferentes experiências de trabalho, oportunidades e pessoas que cruzaram meu caminho, me ajudaram a desenvolver áreas técnicas e artísticas. Mas de alguma forma não encontrava a paixão dentro de mim que via alguns amigos sentirem. Em algum ponto, depois de alguns anos de formada, decidi me arriscar no mundo do empreendedorismo, ao lado de um sócio, e abrimos o nosso escritório de arquitetura.
Lembro bem de uma conversa em um bar quando entre amigos, e com ele, ouvi e pergunta: “O que você realmente quer fazer? O que se imagina fazendo?” Eu respondi: “Nunca uma coisa só. Gosto da mistura de disciplinas. Tenho a vontade de ter um negócio multidisciplinar.” De resposta ouvi alguns questionamentos, mas principalmente dúvidas da minha sanidade.
As coisas foram caminhando e de repente a família dele crescendo, contas para pagar, etc. O foco do escritório, mais criativo no início e muito braçal no final, acabou desencantando. A vontade pela fuga da arte ia crescendo. Pedidos aqui, encomendas ali, eu queria estar longe de softwares e perto da tinta, isso foi tomando conta de mim. Em meio a uma crise de descoberta de intolerância ao glúten (aquele desequilíbrio mental e corporal que se manifesta através do corpo), decidi trocar.
Digo trocar, pois acho que não abandonei a minha escolha pela arquitetura. Muito pelo contrário, ela me deu base e conhecimento para estar onde estou hoje. O nome kaju (sim, em letras minúsculas mesmo), acabou surgindo como um nome artístico, em meio ao fechamento do escritório de arquitetura e abertura de um novo mundo de cores. O meu nome, Kalina Juzwiak, de origem polonesa, sempre foi palco para muitos apelidos e kaju era uma forma carinhosa e mais fácil de me chamar. A ideia foi pegando, me invadindo e invadindo a minha arte. A decisão foi tomada no final de 2012 e no início do ano seguinte tudo foi tomando forma.
O desabrochar do que estava dentro de mim e a minha vontade de deixar a zona de conforto aumentaram ainda mais. Fui morar na Suiça, com a minha irmã mais nova, por pouco mais de um semestre. Acreditava que se conseguisse sobreviver de arte, em um país mais distante, ao criar um novo círculo de amigos, e criações, poderia fazer isto de qualquer lugar. Os caminhos foram surgindo, e além de sobreviver, comecei a realmente viver cada momento, projeto e pessoa que cruzou o meu caminho. Agora sim com paixão.
No início de 2015, coloquei outra vontade em pratica e me formei em design gráfico. Hoje o studio kaju.ink (sim, um estúdio com nome inglês pelas conexões e nascimento no exterior, kaju – eu- e o ink, que cria uma empresa e ao mesmo tempo relacionada a tinta) cresceu, passando pelos mais diversos projetos e superfícies. Hoje começa a se estruturar como um studio multidisciplinar, onde arte e design se encontram. Toda criação tem um porquê, toda criação tem sentimentos, pessoas, momentos, cores e amores. Histórias contadas visualmente.
“Paredes, telas, superfícies: qualquer aplicação é possível para mim quando a intenção é contar uma história visualmente”.
FTC: Pelo visto, superfícies ou diferentes materiais não são um problema para o seu trabalho! O que você mais utiliza?
É a diversidade e versatilidade que me movimenta. Cada dia em um lugar novo, novas ideias, novas superfícies, novos desafios. A história de detalhar casas por ano – para talvez sairem do papel – me deixava frustrada. Hoje, as criações podem acontecer em um minuto, uma hora, ou um dia, no máximo. As linhas e energias fluem. As ferramentas para este mundo de possibilidades são inúmeras.
Estampas começam com ilustrações sobre papel, em nanquim, passam pelo tratamento e acabamento digital. O mesmo para ilustrações de embalagens, prints e outros. Artes em paredes podem variar de canetas permanentes até tintas acrílicas e resistentes à água. Telas acontecem de forma livre com os mais variados materiais. Lápis? Normalmente fica como coadjuvante. A mistura, deixando o inconsciente trabalhar, gera os resultados mais inusitados.
FTC: Qual a influência das cores nos seus trabalhos?
Desde pequena observo e admiro as composições naturais. A natureza tem uma paleta infinita para nos passar. Ao mesmo tempo, tudo isto que observo fica no meu inconsciente. No meu ambiente, gosto de tudo muito neutro e claro. A minha casa, o studio e as roupas que uso dificilmente serão carregadas de cor. Minha mente está sempre tão repleta de detalhes que o meu entorno imediato me relaxa sendo assim.
As cores no meu trabalho vem destas absorções constantes. Normalmente são composições mais contemporâneas, sem a presença das cores primárias. Gosto das mais neutras, claras e harmônicas. O famoso tom “pastel”. Dificilmente as pessoas vão me encontrar de vermelho, por exemplo. Em ambientes, acredito que os pequenos detalhes e as próprias pessoas trazem essas cores, por isso, uma arte na parede ou uma tela minha acaba saindo mais neutra, abusando do movimento e de detalhes, ao invés de uma overdose de cor.
FTC: Está tocando algum projeto específico atualmente?
Os projetos que entram no studio são muito variados. De ilustrações, estampas, telas e paredes até identidades visuais, pôsteres e outros trabalhos gráficos. No momento, existem algumas coisas dentro das diferentes áreas. Trabalhos para clientes e projetos pessoais que mesclam ainda mais as áreas artísticas e trazem fortemente aquele sonho pela multidisciplinaridade estética.
FTC: O que é arte para você e como você definiria a sua arte?
Não sou uma pessoa que gosta de rótulos, seja para status, relacionamentos ou até mesmo arte. Acho que a arte é algo que expressa o meu inconsciente, mas é absorvido por cada um de acordo com suas experiências. É uma composição de expressões e sonhos. A junção de muitos detalhes, sem necessariamente uma ordem ou posicionamento correta, dá um ar de surrealismo e procura pelo conhecido.
As pessoas observam algo por algum tempo e buscam por formas de expressarem aquilo que faz parte de suas experiências de vida. Dentro da classificação do público em geral, normalmente meus trabalhos ganham o rótulo de contemporâneo, abstrato e surrealista, seja lá o que isso quer dizer.
FTC: Com o que você se inspira?
Tudo ao meu redor me inspira. Sou do tipo observadora, desde criança. Observo as pessoas, suas expressões, suas roupas, as cores, o ambiente em que estou, a natureza, as nuvens. É algo que acontece quase que inconscientemente. Ao entrar em qualquer lugar, é como se os olhos escaneassem tudo aquilo que compõe o espaço.
Os elementos da natureza me inspiram para as artes mais orgânicas e as cidades e outras culturas para os mais geométricos. Mas novamente, sem rótulos claros. Acho que no fim, tudo aquilo que respiro e absorvo, entra no inconsciente e depois se transforma em minha expressão, o que as pessoas chamam de arte.
FTC: 5 coisas que não consegue viver sem.
Água (para beber e salgada para mergulhar), viajar (pessoas, culturas e paisagens), silêncio (daqueles bem profundos que só a natureza nos proporciona), contato com a natureza (gosto do urbano, mas é na natureza que recarrego minhas energias) e criar (uma consequência de tudo aquilo que absorvo).
FTC: Uma frase que resume muito o seu trabalho;
“Um reflexo das minhas janelas”.
Assista ao vídeo:
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