Conheça o trabalho do francês Olivier Poinsignon, artista que já veio ao Brasil criar tatuagens “no escuro”

Conheça o trabalho do francês Olivier Poinsignon, artista que já veio ao Brasil criar tatuagens “no escuro”

O artista plástico francês Olivier Poinsignon esteve pela primeira vez no Brasil em março/2017 para uma residência na Galeria Teix – seu “laboratório”, onde tatuou clientes às escuras, sem nenhuma comunicação oral com o tatuado – para a escolha de um desenho. 

 “O ser humano é o material mais interessante para se criar.”

No mês de março/2017 o Estúdio e Galeria Teix, de Curitiba, recebeu um dos mais renomados tatuadores europeus contemporâneos e um artista fora do comum: o francês Olivier Poinsignon, que veio pela primeira vez à América do Sul para um projeto inusitado de residência artística.

Mestre em traços, linhas, composições e formas geométricas sempre usando tinta preta, e famoso por depositar sua alma artística em todos os seus trabalhos, Olivier trouxe para Curitiba a ideia de um “laboratório”, no qual tatuou às escuras os interessados, sem nenhum tipo de comunicação entre tatuador e tatuado.

Olivier não fala português e não aceitou receber, neste projeto, trabalhos de quem sabe a língua francesa. Todo contato inicial foi por e-mail, no qual o cliente enviava uma foto de seu rosto e outra da área a ser tatuada, sem nenhuma outra informação adicional.

No dia marcado para a intervenção, Olivier passou a manhã com a pessoa a ser tatuada, e deste contato, que rompia a barreira da língua, saia a ideia final da arte. Depois, Olivier materializava em tatuagem aquilo que a conversa o inspirava. 

“O que mais importa para mim é ser fiel a mim mesmo e às pessoas que me escolherem. Tecnicamente falando, gosto de garantir aos trabalhos uma solidez e uma legibilidade que não percam impacto com o tempo. Meu objetivo é entrar na vida das pessoas e encontrar um detalhe pessoal que eu possa expressar, mesmo sem conhecer sua história”, explica o artista.

Confira a entrevista com o artista:

Você já esteve no Brasil?

Não, essa foi a minha primeira vez na América do Sul. Na verdade eu nunca tinha pensado nesta hipótese até o contato da Teix. Fiquei muito entusiasmado com a ideia, justamente porque não estava em meus planos e eu gosto de explorar. É como assistir a um filme em que você não sabe nada a respeito, não tinha expectativas sobre o que iria acontecer e tudo que veio de bom foi como um bônus! 

O que você esperava desta residência em Curitiba?

Mais uma nova experiência de vida, de arte e de comunicação. Eu luto para tornar as coisas diferentes, buscando encontrar algo específico nos lugares e nas pessoas. Ir ao estúdio Teix, onde tantas tatuagens autorais com estilo mais gráfico nasceram, foi realmente incrível para mim. Quero continuar seguindo nesta direção.

Como é essa proposta de “Laboratório”, sem comunicação com o tatuado?

É uma forma de mostrar como a comunicação faz o ato de tatuar ser diferente. Para mim, o ser humano é o material mais interessante para se criar, pois é um suporte que pode se mover, envelhecer, falar, ter reflexões… Esse suporte pode transmitir o que sente ao artista. Mas, quão impressionante isso pode ser através da fala? Como uma arte figurativa, as palavras são muito restritas! A arte abstrata é mais parecida com sentimentos… É por esse caminho que pretendo seguir.

Mas também estou sempre aberto para fazer projetos “normais” caso haja interesse das pessoas. Na verdade eu sabia que iria ser diferente também, porque a comunicação é complicada mesmo se falarmos em inglês. Cada pessoa fala uma língua ou tenta falar aquela que não é a sua língua (cliente/tatuador). Eu trabalho cada vez mais com um processo automático. Eu vivo algo com o cliente através da comunicação, e depois as coisas acontecem na pele.

Seus métodos e traços não são nada tradicionais. Existe um público específico que procura por seus trabalhos?

É claro, já fazem dois anos trabalhando dessa forma. Mas é sempre uma luta, pois eu preciso explicar como funciona este processo criativo e mostrar como ele pode ser interessante. Algumas pessoas não acham que temos que fazer tatuagens dessa maneira, mas não creio que seja algo anormal ou extraordinário … na verdade eu não me importo tanto com isso.

Eu proponho algo novo e que possa ser interessante tanto para as pessoas quanto é para mim, é algo que obriga a usar a minha mente – não se trata apenas de fazer algo bonito. Eu penso que tudo pode ser belo se dedicarmos um pouco de tempo para estudar e compreender o que está diante de nós.

Por exemplo: se o poema mais lindo do mundo está escrito em japonês, talvez você nunca poderá dizer o quão lindo ele é. Você precisa estudar e compreender a língua japonesa antes de senti-lo! Eu acho que é o mesmo processo. Tudo pode ser encantador se você tomar um pouco de tempo para entender e então sentir. Não há “coisas naturalmente encantadoras”.

No seu primeiro dia como bebê você não é capaz de se comunicar facilmente e você não parece sentir a beleza das coisas ao seu redor. Você precisa desenvolver-se para aprender a sentir a beleza! Meu processo pode parecer somente um monte de besteira para várias pessoas, mas isso não é um problema para mim. Eu apenas não concordo, mas estou disposto a conversar sobre isso.

O que a tatuagem representa pra você?

Em minha opinião, atualmente é a maior e mais poderosa linguagem artística, juntamente com o cinema, que utiliza todo tipo de arte para fazer algo cada vez maior. Já a tatuagem pode ser algo muito fácil de entender ou algo muito específico, conectando muitas pessoas à arte contemporânea.

Por estar em seu corpo, você precisa informar-se e compreender melhor. A tatuagem faz com que as pessoas se comuniquem. Para mim, respeitar o corpo e a linguagem representa uma grande motivação. Essa é a minha conexão artística com o mundo.

Conheça mais a fundo o trabalho de Olivier Poinsignon em seu site. Acompanhe também o artista em seu Facebook e Instagram.

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