Confira entrevista, as novas tatuagens da brasileira Lan Pravda e as mudanças em seu trabalho em busca de um estilo cada vez mais autêntico.
A brasileira Lan Pravda já apareceu por aqui no começo de sua jornada como tatuadora. Mesmo com apenas poucos meses na área, ela já arriscava misturar várias influências e experimentar diversos traços na pele. A artista, que se formou em arquitetura pela FAU-USP em 2006, já havia trabalhado como designer gráfico e testado muitas técnicas artísticas. Mas foi na tatuagem que encontrou meios para se expressar criativamente.
O que já era bom, ficou ainda melhor. Hoje seu trabalho marcadamente autoral alia o olhar meticuloso de quem tem intimidade com as artes gráficas à ousadia de quem transita entre o surreal e o lúdico. Em suas composições dialogam contrastes − preto e cores fortes, geometria e organicidade, abstrato e figurativo, sutileza e potência –, orquestrados por uma hierarquia visual que atribui a elas equilíbrio e harmonia.
Sua arte na pele é realmente única. Confira entrevista exclusiva que fizemos com ela e suas novas criações:
FTC: O que mudou desde quando você começou a tatuar?
A principal mudança foi o nível de confiança para desenvolver um trabalho artístico e original, que fuja do lugar comum e dos estilos tradicionais de tatuagem. Tenho essa intenção desde o início, mas no começo foi bem difícil porque eu ainda não tinha um portfólio que desse credibilidade ao meu trabalho.
Aos poucos fui descobrindo e conhecendo outros profissionais que tem esse mesmo propósito. Primeiro o Victor Octaviano e o Rafael Cassaro, tatuadores experientes e reconhecidos na área, com quem tive a sorte de trabalhar no Puros Cabrones.
Depois veio o convite para participar d’As Tattooistas, um coletivo de tatuadoras que preza o trabalho autoral e o espírito colaborativo. Em seguida fui convidada pelo Estúdio Galeria Teix (Curitiba) a participar da 1a edição do VISIVA, um evento que reuniu artistas de diversas linguagens numa exposição coletiva, propôs debates sobre a produção artística contemporânea e sua relação com a tatuagem e abriu espaço para os artistas tatuarem seus desenhos.
Hoje, sinto que descobri um espaço na área tatuagem com o qual me identifico e que parece ser bastante promissor.
FTC: Quais seus maiores aprendizados?
Aprendi que respeitar a minha linguagem artística é uma forma de ser verdadeira comigo mesma, de percorrer um caminho profissional que faça sentido para mim. Não me submeter aos modismos, ao que é mais comercial é um desafio que compensa porque minha busca é pela autenticidade. Constatar que existe um público interessante e interessado no meu trabalho me impulsiona a seguir nessa direção.
Outro aprendizado veio das experimentações lá do começo: o repertório técnico que tenho hoje. Claro que eu ainda tenho muito o que aprender, mas hoje eu tenho mais segurança para tatuar e, mais que isso, me permito ousar. Um exemplo disso é o uso das cores, que era mais tímido nos primeiros trabalhos e hoje em dia é bastante presente.
FTC: Hoje você tem um estilo bem mais definido. Como você definiria a sua arte atual?
Procuro definir minha arte só quando é realmente necessário, como, por exemplo, agora rs. Não sou uma pessoa muito presa a conceitos, sou mais intuitiva. Quando me perguntam “O que você pensou quando pintou esse quadro?” ou “O que você quis dizer com esse desenho?”, prefiro dar só algumas pistas pra deixar espaço para o sentir e para a reflexão de cada um. Gosto de ouvir o que as pessoas têm a dizer sobre o que crio para ver o que reverbera e o que não reverbera em mim.
Quando temos um sonho muito expressivo, ele nos instiga a interpretá-lo, dar significados, buscar respostas e, nesse percurso, podemos chegar mais perto de nos compreender, o que é muito valioso. Mas, para mim, é igualmente valioso ter em mente que aquele sentido que foi dado é uma possibilidade entre infinitas outras, não é uma verdade absoluta.
Dito isso, vamos às palavras que buscam compreender, não às que limitam. Não foi à toa que falei dos sonhos, me sinto instigada a trazer para nossa realidade um pouco dessa dimensão misteriosa e subjetiva do inconsciente para romper com a lógica linear, com a concretude da razão, com o modo cartesiano de entender a vida. Outro aspecto que está presente no meu trabalho é o lúdico, que também vem no sentido de trazer fantasia e imaginação à realidade. Assim, posso dizer que surreal e lúdico ora se revezam, ora se misturam no meu trabalho.
O diálogo entre opostos também me atrai, por isso gosto da mistura do preto com cores fortes, das linhas sinuosas e elementos orgânicos com formas geométricas, e gosto de transitar entre o abstrato e o figurativo. Tudo isso amarrado pelo fio das artes gráficas, que, ao meu ver, confere harmonia às composições.
Sobre as cores, queria contar que meu encanto por elas é antigo. Na época da faculdade, fiz uma imersão no mundo das cores, li diversos tratados e estudos de pesquisadores, artistas, filósofos, que acabou resultando no meu trabalho final de graduação: “Cromaticidade”, uma exposição de 6 painéis de 1 x 1,5 m, pintados com acrílica e tinta a óleo.
Como disse Goethe: “as cores são ações e paixões da luz” e, no caso da tatuagem, além da interferência da luz na percepção da cor, temos a interferência da pele, um suporte vivo.
FTC: Quais os seus maiores desafios?
Meu maior desafio no momento é contribuir para que a tatuagem seja considerada uma forma de expressão artística. Também gostaria de viajar com o meu trabalho para viver outras culturas, outros valores, para que fôssemos afetados e transformados por essas experiências.
Enfim, quero continuar a minha busca por originalidade e, sempre que possível, pela poesia.
Pinturas e desenhos:
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