Micaela Lattanzio nasceu e vive atualmente na cidade de Roma, na Itália, onde ela também mantém seu ateliê. Aos 38 anos de idade, ela promove em sua obra um novo olhar sobre as imagens que ela secciona e depois reagrupa, explorando a fragmentação da figura humana.
A artista, que se formou em 2015 na Academia de Belas Artes de Roma, abriu sua primeira exposição solo anos antes, em 2007. E ainda conta com várias premiações concedidas a jovens artistas, conquistadas no início de sua produção artística, em 1999.
Micaela também é fotógrafa, e faz retratos de temas que a interessam para em seguida transformá-los em formas abstratas. E foi esse o conceito que deu origem à série que ela chamou de Fragmenta, iniciada em 2013.
Nela, a autora recorta manualmente as imagens impressas já com uma ideia inicial em mente. Depois de cortar e destruir as fotografias, as peças são separadas por cores e fixadas com alfinetes de diferentes comprimentos em uma nova superfície. Essa diferença de comprimento inclusive proporciona maior dimensão às imagens, recriando ou extraindo uma nova forma da imagem original.
A FOTOGRAFIA DE MICAELA LATTANZO
Em entrevista à Mind, ela afirma que seu interesse pela fotografia surgiu de maneira muito natural. Micaela Lattanzo conta que aos 16 anos passou estudar e a se dedicar à pintura e aos mosaicos como expressão artística. A fotografia, porém, está presente na sua vida desde a infância por conta do pai, que mantinha o hábito de fazer retratos.
COMO TUDO COMEÇOU
Inicialmente as fotos foram sendo incorporadas como estudos prévios de seu trabalho de pintura, mas aos poucos ganharam espaço e passaram a romper os limites entre a pintura o registro fotográfico em sua arte: “Eu sou fotógrafa, mas também artista. Isso é o que me levou a seccionar minhas fotos. Se eu olhar para o meu trabalho sob um ponto de vista estético, as fotografias também são peças de uma paleta de pintura, cada peça cortada à mão se torna parte integrante de um método de pintura”, ela conta.
O PROCESSO
Os retratos ganham nova perspectiva através dos efeitos de luz e sombra, agregando uma nova profundidade ao trabalho da italiana. “A luz desempenha um papel fundamental, que cria um elo com a realidade. A luz é o que cria a nossa realidade, as imagens existem porque elas vêm aos nossos olhos graças à luz. Eu deixo esse fenômeno atuar no meu trabalho. Há uma ligação constante entre a ideia e a realidade, uma interação que produz um diálogo contínuo”, diz Micaela.
MATERIAIS
Micaela utiliza materiais como papel, alumínio e PVC para criar seus trabalhos, e eles nascem de uma foto em alta resolução, que ela divide em pequenos pedaços de diferentes formatos, obtendo uma espécie de mosaico. Através desse “mosaico”, ela desconstrói e remonta a imagem, dando a rostos, corpos e elementos naturais um novo visual lógico que segue um padrão visual incrível.
CONCEITO DE FRAGMENTA
Segundo o site da própria artista, “ao destruir e reconectar os fragmentos, Micaela explora os caminhos da consciência, onde a realidade de si mesmo é na verdade um emaranhado de perspectivas únicas”. Nas suas obras “o corpo se torna um elemento de pura abstração, não é mais possível atribuir-lhe uma estrutura espacial, um peso específico, um tempo definido”.
A questão de serem somente retratos femininos, Micaela Lattanzo conta que em Fragmenta isso é proposital e que suas obras representam simbolicamente a fragmentação da identidade feminina.
Cada peça da série Fragmenta é criada por meio de corte manual meticuloso que transforma os rostos em “um mosaico que desconstrói o material iconográfico de partida”. O último conjunto de trabalhos da série explora a degradação dos direitos das mulheres devido à discriminação política e social, segundo o site Ignant.
INSPIRAÇÕES
Além da forma humana, o contato com a natureza também é um fator-chave na busca por inspirações. Lattanzio ressalta que é importante estar aberto ao entorno para se inspirar para criar, e que até mesmo livros sobre Ciência e Filosofia servem como estímulo na criação de suas obras.
Sobre a maneira como o público recebe o seu trabalho, a italiana conta que na série Fragmenta os rostos são “mencionados, mas não revelados”, e que esse caráter abre suas peças a múltiplas compreensões. Ela ainda conta que essa desintegração que ela sugere reflete a perda do contato com o nosso inconsciente devido à velocidade que a sociedade contemporânea nos requer. E que suas obras são um convite para o espectador buscar seu próprio equilíbrio nesse sentido.
Em geral, nas suas características estéticas e conceituais, Lattanzio explora uma narrativa que vai além da pele retratada nas imagens. Ela apresenta uma investigação sobre os seres humanos, onde os corpos não são encarados como um elemento único, mas como o princípio do que ela chama de uma “infinita fissão nuclear“.
Conheça mais sobre o trabalho de Micaela Lattanzio através do seu site e do seu perfil no Instagram.