Mulheres no graffiti e empoderamento feminino: Conheça a arte urbana do Minas de Minas Crew
O Minas de Minas Crew é um grupo formado por quatro mulheres que invadem as ruas de Belo Horizonte com sua arte em graffiti. O nome surgiu em 2012, mas a amizade e paixão pela arte de rua são antigas.
O graffiti foi o ponto em comum para uni-las. As partículas inspiradoras na bagagem cultural de cada uma foram imprescindíveis para que, mais tarde, a similaridade de gostos facilitasse a formação do grupo.
O Minas de Minas tem como proposta levar a influência artística das mulheres no cenário urbano, misturando arte, graffiti, Hip Hop e uma pegada importantíssima na cultura social: força ao empoderamento feminino. Através de muito trabalho, os painéis são desenvolvidos sem qualquer tipo de apoio cultural, sendo que todos os materiais necessários para a criação são bancados pelo próprio bolso do grupo.
Formada por Krol (Carolina Jaued), Musa (Louise Libero), Nica (Nayara Gessica) e Viber (Lidia Soares), todas de Belo Horizonte, em Minas Gerais, a Crew desenvolve projetos e compartilha experiências com outras mulheres graffiteiras. Dentro da street art, participam de eventos de grande porte, em que a mulher está inserida e integrada com o universo masculino.
Dentre eles se destacam o Arena da Cultura, I Bienal Internacional de Graffiti, e projetos que destacam a mulher, como a pintura ao vivo no Duelo de Mcs, oficinas de graffiti para crianças e adolescentes, palestras e bate papos.
Como belas representações contemporâneas, cada uma faz o malabarismo entre as atividades cotidianas e uma contribuição especial, única e colorida ao mundo: levantam a voz e se expressam através da transformação de muros mortos e sem graça em pura arte. Cada um de seus murais traz desenhos únicos e cheios de simbologia.
Confira a entrevista exclusiva das Minas de Minas para o FTC:
FTC: Há quanto tempo criam e quais materiais utilizam?
MDM: O tempo de cada uma dentro do graffiti é diferente. Para os painéis utilizamos Latex (tinta de parede) e Spray.
FTC: Qual a influência das cores nos seus trabalhos?
MDM: Por termos estilos variados de graffiti, dentro da Crew utilizamos diversas cores, e todas elas são planejadas antes. De acordo com um tema, ou pelo cenário que vamos criar para a construção do painel, ou mesmo pela divisão de cores mais quentes nas letras, personagens mais neutros. Tudo vai de acordo com o layout montado.
A Crew possui duas integrantes que grafitam letras, Nica no estilo Wild Style e Musa no estilo Piece, e duas nos personagens, Viber no estilo realista e a Krol no estilo vetor.
FTC: Estão tocando algum projeto específico atualmente?
MDM: Sim, hoje nosso maior projeto é o Minas de Minas Convida. Esse projeto surgiu quando pensamos em trazer para nossos painéis artistas que estão dentro do graffiti da cidade e que admiramos tanto o trabalho quanto a pessoa. Tornou-se uma troca de experiência, troca de ideias e trabalhamos o coletivo. Mostra como o graffiti é uma construção de estilos próprios e o crescimento da união.
Todo esse trabalho pode ser acompanhado através dos vídeos e fotos que são criados, mostrando o processo de cada graffiti até a finalização do muro. Contam também com falas do artista convidado e de pessoas que residem ou passam pelos muros grafitados. Outro projeto que também está em andamento, é o lançamento das camisetas Minas de Minas Crew.
Painel finalizado do projeto Minas de Minas Convida com participação de Bolinho
FTC: O que é arte para vocês? Como definiriam a sua arte?
MDM: Arte é poder se expressar, ser livre na escolha do que ser feito na hora de criar. A definição de nossa arte é o sentimento de cada uma que passa diante de um coletivo para a construção em conjunto. Um misto de bons sentimentos. A nossa arte é a forma de comunicar com a sociedade. Conhecendo ou não quem irá vê-la ali no muro.
FTC: Já passaram por algum tipo de preconceito por serem mulheres?
MDM: Existem, não só homens, mas pessoas que discriminam o fato de uma mulher “não seguir os padrões”. Por isso, muitas vezes recebemos agressões verbais, principalmente de transeuntes que não aceitam o fato da mulher ocupar o espaço público e estar nas ruas. São palavras desrespeitosas, de cunho ofensivo e invasivo. Já ouvimos muitas críticas, ao ponto das pessoas não acreditarem no nosso potencial e no que somos capazes de fazer sozinhas. É um “tapa de luvas” quando vêem nossos painéis prontos, quando vêem a gente das 7h às 20h no muro. A resposta está nos nossos trabalhos e na disciplina.
“As dificuldades, em sua maioria, são encontradas na vivência na rua, nas experiências e em situações que muitas vezes dependem das pessoas no entorno, seja uma situação de perigo em que, por ser mulher, alguém se acha no direito de roubar seus sprays, fazer ameaças e até dizer palavras desrespeitosas.
Os desafios da rua são os mesmos entre homens e mulheres, o fato que agrava é só da “libertinagem” que as pessoas acreditam ter por você ser mulher. Fora isso, fazemos os mesmos trabalhos e traçamos objetivos parecidos, como participar e estar presente em eventos, exposições e espaços ministrando oficinas.
A necessidade de divulgação dos trabalhos e a posição no meio partem de cada artista”.
FTC: Onde querem chegar com o projeto?
MDM: A ideia do projeto é mostrar os grandes artistas de rua que Belo Horizonte possui. Que compra e banca sozinho o seu material que necessita, assim como a Crew precisa de apoio, patrocínio e reconhecimento. Queremos também convidar pessoas de outros estados para pintar no projeto Minas de Minas Convida e conhecer a nossa cidade. Fazer um intercâmbio cultural.
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