O que é Economia Afetiva? E qual sua contribuição como agente transformador da moda?
O pessoal do site Estilistas Brasileiros, bateu um papo bem bacana com Jackson Araujo, diretor criativo do Trama Afetiva e criador do termo Economia Afetiva, que nos contou um pouco sobre esse movimento e seus desdobramentos.
O Trama Afetiva é uma iniciativa inédita que reúne estudantes e profissionais interessados em repensar consumo, questionar modelos de organização social e econômica e investigar os verdadeiros valores contemporâneos. Através de suas palavras, sentimos a beleza e importância de compreendermos e atuarmos na moda com um olhar integral e voltado para um futuro coletivo. Confira:
Estilistas Brasileiros: O que é Economia Afetiva? Seu(s) propósito(s)?
Jackson Araujo – O termo Economia Afetiva surgiu em 2014 durante o Santa Catarina Moda e Cultura, plataforma na qual eu e Luca Predabon atuamos como consultores criativos e de conteúdo por quatro anos, linkando a indústria catarinense com as escolas de moda do estado. No final de um ano de estudos e investigações comportamentais, entendemos que o poder do coletivo estava assumindo contornos inevitáveis no Brasil e no mundo.
Acreditamos que o velho “faça-você-mesmo” abriu espaço para o “faça-com-os-outros” e “faça-para-os-outros”. Esse é o ponto de partida para entendermos essa nova prática. O foco antes era a produção, o crescimento econômico e o acúmulo do patrimônio. Agora a palavra é sintonia: as pessoas acentuam o sentimento, as vibrações espirituais e artísticas, focando na importância da cooperação e compartilhamento para o sucesso do grupo.
Nossa Economia Afetiva é isso: a valorização de uma mensagem ética de fraternidade com o ambiente e uma visão holística da vida e da sociedade.
Estilistas Brasileiros: O mercado hoje está preparado ou capacitado para incorporar os conceitos e práticas da Economia Afetiva? Senão como você enxerga esse caminho?
Jackson Araujo – O mercado está pronto para ser ocupado por conceitos e práticas que atualizem as pautas sobre sustentabilidade. Se formos esperar por uma situação ideal, ficaremos paralisados. O importante é exatamente criar ambientes culturalmente criativos em busca de soluções transformadoras. Temos visto o surgimento de novos negócios e marcas que já nascem focados na horizontalidade, no ganho do coletivo e na preocupação com o meio ambiente. Isso é exponencial.
Por outro lado, também temos acompanhado o investimento de grandes empresas em se relacionar com essas novas demandas, pois é nessa linha da planilha que residem os novos lucros futuros. O caminho é de resistência e disseminação desses novos pensamentos que desenham a Economia Afetiva. Acreditamos que um caminho bem efetivo é investir em práticas de cunho educativo que possam diminuir a distância entre o aprendizado formal e as novas práticas de mercado. Nesse sentido, acreditamos que Trama Afetiva tem evoluído, compartilhando aprendizados e colocando um holofote sobre um dos tópicos evidentes na indústria da moda, o resíduo têxtil e a importância da logística reversa.
No caso, em Trama Afetiva temos como desafio no momento, trabalhar com as malhas da Cia Hering, buscando soluções criativas para esse resíduo, apontando caminhos que possam ser adotados como práticas dentro do ambiente industrial.
Estilistas Brasileiros: Como pequenos empreendedores de moda e/ou marcas de slow fashion podem utilizar os princípios da Economia Afetiva em seus trabalhos?
Jackson Araujo – Acredito que boa parte desses pequenos empreendedores já nascem praticando os princípios da horizontalidade, da circularidade e do sucesso do coletivo em contraponto ao ganho e acúmulos pessoais, fatores que nos levaram a esse momento de crise e de questionamentos profundos.
O importante é sempre entender que pouco a pouco nós que somos ilhas vamos formatando arquipélagos. Temos um longo caminho pela frente. Vamos juntos?
JACKSON E A ECONOMIA AFETIVA
Jackson Araujo é comunicólogo e consultor especializado em Análise de Comportamento e Tendências de Consumo de Moda, Mídia e Comunicação. Jackson também é pesquisador e estudioso de movimentos e expressões ligados à Economia Afetiva, termo que cunhou em 2014 sobre uma nova perspectiva de mercado pautada na valorização e desenvolvimento do coletivo.
Desde fevereiro de 2018, faz parte do grupo de palestrante da plataforma TEDXBLUMENAU, com sua fala sobre Economia Afetiva. Veja aqui:
*Esta matéria é um compartilhamento do Estilistas Brasileiros e também pode ser lida aqui.